Molécula produzida no intestino pode ter efeito protetor contra gripe, indica estudo
Texto: André Julião | Agência FAPESP
Uma molécula produzida naturalmente no intestino pode ajudar a prevenir e mesmo tratar a gripe. É o que aponta um estudo na revista Gut Microbes por pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e do Instituto Pasteur de Lille, na França.
“Esses resultados são promissores e sugerem que o IPA, no futuro, poderá ser usado para ajudar a prevenir ou tratar a infecção pelo vírus influenza, responsável por grandes epidemias. No entanto, mais estudos são necessários para confirmar esses achados em humanos e para entender melhor como o IPA funciona”, esclarece , professor do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp.
O estudo ocorreu no âmbito do projeto “”, coordenado por Vinolo e apoiado pela FAPESP.
Os resultados foram possíveis depois de uma série de experimentos com camundongos conduzidos na França, sob coordenação de François Trottein, do Pasteur. Posteriormente, foram feitas análises usando ferramentas de bioinformática, na Unicamp, que inspiraram novos experimentos com animais no Instituto Pasteur. “Usamos três camadas de dados: a primeira foi a de metagenômica, que mostrou quais bactérias estavam alteradas no intestino depois de 7 e 14 dias da infecção. Foi avaliado todo o DNA desses microrganismos, quando nesse tipo de estudo normalmente só se avalia um trecho de um gene que identifica as bactérias. Nossa análise mostra não apenas as espécies bacterianas, mas os genes mais presentes e suas respectivas funções”, explica Vinicius de Rezende Rodovalho, um dos autores principais do trabalho, realizado durante seu pós-doutorado no IB-Unicamp.Suplemento
O IPA é produzido por bactérias presentes na microbiota intestinal a partir do processamento do triptofano, um aminoácido essencial presente em alimentos como soja, trigo, milho, cevada, centeio, girassol, peixe e carne. Trabalhos de outros grupos já haviam mostrado efeitos do IPA para a melhora de distúrbios metabólicos, regulando a glicemia, aumentando a sensibilidade à insulina e inibindo a síntese de lipídios e fatores inflamatórios no fígado. Outros estudos mostravam ainda evidências da ação do triptofano e do IPA no equilíbrio energético e no sistema cardiovascular, assim como potencial na prevenção de inflamação, obesidade, diabetes, doenças cardiovasculares, câncer, hipertensão, doenças neurodegenerativas e osteoporose. Por conta do potencial do IPA como um suplemento no combate e prevenção da gripe, os pesquisadores depositaram uma patente na União Europeia para esse uso do ácido indol-3-propiônico. A expectativa é realizar novos estudos que possam subsidiar testes clínicos no futuro. “Estamos avaliando o papel do IPA durante a infecção pelo SARS-CoV-2, causador da COVID-19, e os resultados, até agora, são parecidos. Queremos testar ainda como ele atua em infecções bacterianas. Existem poucos estudos mostrando como a microbiota intestinal atua na resistência sistêmica a antibióticos e esse pode ser um caminho”, encerra Rodovalho.O estudo teve ainda apoio da FAPESP por meio de para , com no Instituto Pasteur de Lille, na França.
O artigo Shotgun metagenomics and systemic targeted metabolomics highlight indole-3-propionic acid as a protective gut microbial metabolite against influenza infection pode ser lido em: .