Mini gato selvagem pode ser o 1º nômade conhecido, diz estudo
Dá para confundir facilmente um gato-do-deserto com seus parentes domésticos. Afinal, eles são animais de pelagem bege, às vezes com listras pelo corpo, que parecem tão adoráveis quanto seu pet.
Mas não se engane: eles são exímios caçadores, que comem até cobras venenosas (embora sua refeição preferida sejam pequenos roedores). Eles têm pelagem densa que os protege contra as temperaturas extremas de seu habitat e podem passar semanas sem beber água – porque retiram todo o líquido de que precisam do sangue de suas presas.
A espécie foi registrada pela primeira vez em 1858, depois de ser avistada ao norte do Saara por um soldado francês. Mas só foi fotografada na natureza há sete anos. As informações que se tinha sobre o gato-do-deserto eram escassas, mas um estudo no Journal of Arid Environments mudou o cenário.
Trata-se de um trabalho de quatro anos que fornece o maior conjunto de dados sobre onde exatamente estão as populações destes felinos, que ocupam ambientes áridos e hostis no norte da África, na península arábica e em partes da Ásia central.
Não é fácil estudar o gato-do-deserto (Felis margarita). Eles se camuflam no ambiente desértico, enterram suas fezes e não deixam vestígios de suas presas. Mas foi o mistério em torno da espécie que incentivou Grégory Breton, diretor da organização Panthera, dedicada à preservação de gatos selvagens, a estudar os gatos-do-deserto.
Ele se juntou a pesquisadores dos Jardins Zoológicos de Rabat (Marrocos) e de Kölner (Alemanha) para vasculhar uma área desértica no sul do Marrocos onde as temperaturas atingem os 50°C. Entre 2015 e 2019, a equipe capturou e equipou 22 gatos com dispositivos para monitorá-los.
Por onde anda o gato-do-deserto
Os dados coletados durante este período sugerem que esses felinos podem levar um estilo de vida nômade – uma característica inédita entre as espécies de gatos selvagens. A equipe também descobriu que os animais podem ocupar uma área de 1.758 quilômetros quadrados ao longo de seis meses.
Eles poderiam, então, percorrer distâncias maiores do que qualquer outro gato de seu tamanho (eles são pequenos: quando adultos, medem de 45 a 57 centímetros, sem contar a cauda, e pesam entre 1 e 3,5 kg). O alcance desta espécie seria comparável ao de felinos muito maiores, como leões, tigres e leopardos, explicou Breton à .
As descobertas indicam que a população pode ser menor do que as estimativas anteriores apontavam – antes, acreditava-se que os indivíduos da espécie percorriam uma área bem menor, de até 50 quilômetros quadrados. Então, os pesquisadores estão incentivando a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) a reavaliar o estado de conservação da espécie, que atualmente é considerada fora de perigo.