Mais de 39 milhões de pessoas podem morrer por infecções de micróbios resistentes a antibióticos até 2050, de acordo com um estudo na última segunda-feira (16).
De acordo com os autores do estudo, há uma previsão de que as mortes por resistência antimicrobiana vão aumentar cerca de 70% entre 2022 e 2050.
A RAN (Resistência Antimicrobiana) ocorre quando a evolução de micróbios, como fungos e bactérias, torna-os resistentes aos medicamentos existentes atualmente.
Conforme a OMS, micróbios resistentes a antibióticos não apenas dificultam o tratamento de infecções comuns, mas também aumentam o risco de intervenções médicas. Veja o vídeo da OMS explicando como ocorre a resistência antimicrobiana:
Estudo analisou mortes por micróbios resistentes em 204 países
“É um problema enorme e veio para ficar”, afirma um dos autores do estudo, Christopher J. L. Murray, diretor do Institute for Health Metrics and Evaluation da Universidade de Washington.
Por décadas, pesquisadores destacam que a resistência antimicrobiana é um problema de saúde pública. No entanto, este novo estudo, realizado por uma numerosa equipe de pesquisadores, como parte do GRAM (Projeto Global Research on Antimicrobial Resistance), é o primeiro a analisar tendências globais.
O estudo analisou 520 milhões de datasets, incluindo registros hospitalares, dados de planos de saúde e certidões de óbito de 204 países.
Os pesquisadores usaram modelagem estatística para descobrir que, entre 1990 e 2021, micróbios resistentes a antibióticos causaram mais de um milhão de mortes.
Apesar de uma redução temporária nas mortes em 2021, provavelmente devido às medidas de proteção durante a pandemia, as tendências de longo prazo indicam um aumento.
Idosos serão principais vítimas de micróbios resistentes a antibióticos…
De acordo com o estudo, a taxa de mortes cresceu e tende a crescer ainda mais.
Segundo Kevin Ikuta, um dos autores do estudo, a projeção de 39 milhões de mortes por micróbios resistentes até 2050 equivale a três pessoas morrendo a cada minuto.
No entanto, o estudo revela que a distribuição é desigual entre populações. De 1990 a 2021, a taxa mortes causadas por micróbios resistentes em crianças com idade inferior a cinco anos caiu pela metade.
Por outro lado, mortes de idosos acima da casa dos 70 anos cresceram em mais de 80%.
De acordo com o estudo, a taxa de mortes de crianças continuará a cair, chegando à metade em 2050, mas, no mesmo período, a dos idosos vai dobrar.
As projeções estimam 1,91 milhão de mortes anuais diretamente relacionadas à resistência antimicrobiana até 2050. Desse modo, entre 2025 e 2050, micróbios resistentes a antibióticos serão responsáveis diretamente por mais de 39 milhões.
Ademais, a resistência antimicrobiana causará 169 milhões de maneira indireta.
… Mundo terá o dobro de idosos em 2050
Essa questão se torna mais complexa pelo aumento na expectativa de vida da população global e ao declínio de natalidade. Em 2050, segundo a ONU, o número de pessoas com idade acima de 65 anos será o dobro, indo de 716 milhões para 1,6 bilhão.
Portanto, o número de mortes de idosos por micróbios resistentes pode ultrapassar as taxas de outros grupos etários, aumentando consideravelmente o número geral.
Além disso, o estudo revela que os micróbios resistentes a antibióticos vão matar 11,8 milhões de pessoas no Sul da Ásia, correspondendo a 30% das 39 milhões de mortes previstas até 2050.
Soluções para evitar a tragédia
“Observamos, cada vez mais, antibióticos sendo usados em excesso ou de maneira errada. Ao logo do tempo, isso pressiona ainda mais os micróbios a se tornarem resistentes”, afirma Ikuta.
Desse modo, os autores do estudo pedem uma administração mais responsável de antibióticos para ampliar (de maneira cautelosa) o acesso aos medicamentos enquanto coíbe o uso excessivo.
Os autores também pedem por mais estratégias de prevenção a infecções, como maior acesso à água potável e vacinas. Eles também sugerem que as farmacêuticas devem priorizar o desenvolvimento de novos antibióticos para reduzir o número de mortes causadas por micróbios resistentes.
Contudo, eles ressaltam que essas soluções precisam ser um esforço global.