Micróbios funcionam como fertilizante natural em solo pobre
Um estudo apoiado pela FAPESP, no ISME Journal, identificou 522 genomas (entre arqueias e bactérias) associados às raízes e ao solo de duas espécies vegetais nativas dos Campos Rupestres.
Uma das plantas, Vellozia epidendroides, vive em solos rasos, enquanto Barbacenia macranta foi encontrada vivendo sobre rochas expostas. Ambas fazem parte da família Velloziacea e foram coletadas em uma área particular adjacente ao Parque Nacional da Serra do Cipó, em Minas Gerais.
Ao comparar os microrganismos das plantas que crescem no solo e na rocha, os pesquisadores constataram se tratar de comunidades diferentes, porém, com muitas espécies compartilhadas. De modo geral, foram encontrados microrganismos bastante especializados no transporte do fósforo e na conversão da versão não solúvel para a solúvel do mineral, que é absorvida pelas plantas.Novas soluções
“Os estudos realizados até então normalmente focaram nos mecanismos de adaptação das plantas às duras condições dos Campos Rupestres, por vezes ignorando os microrganismos. Mostramos que os microrganismos têm um potencial funcional essencial na adaptação vegetal às condições extremas desse ambiente. Em especial, ao fornecerem fósforo para o crescimento vegetal” conta , pesquisador associado ao GCCRC que foi pela FAPESP e é um dos coautores do estudo. A expectativa dos pesquisadores é que as descobertas possam contribuir para a criação de produtos que substituam os adubos químicos à base de fósforo, um dos nutrientes mais utilizados na adubação de lavouras no Brasil. Hoje, mais da metade do fertilizante fosfatado utilizado no país é importado, sobretudo do Marrocos, mas também da Rússia, Egito, China e Estados Unidos. Além da dependência de importação, os fertilizantes fosfatados têm como desvantagem a possibilidade de poluição de corpos d’água e por emitir gases de efeito estufa na sua extração. Estima-se que para cada quilo de fósforo retirado na natureza, um quilo desses gases vá para a atmosfera. Fora isso, trata-se de um recurso natural não renovável. Portanto, com prazo para acabar. Os fertilizantes biológicos já são uma realidade no Brasil, com 80% da área plantada de soja fazendo uso desses produtos para a disponibilização de outro nutriente, o nitrogênio. Um estudo publicado anteriormente por pesquisadores do GCCRC estimou que US$ 10 bilhões sejam economizados anualmente pela substituição dos fertilizantes nitrogenados por inoculantes biológicos. Leia mais . “O estudo chama a atenção ainda para a necessidade de conservação dos ecossistemas brasileiros, que podem fornecer muitas outras soluções baseadas na natureza como essa”, lembra Souza, cofundador da Symbiomics, startup de biotecnologia focada no desenvolvimento de biológicos de nova geração.Considerados hotspots de biodiversidade, com muitas espécies exclusivas, os Campos Rupestres estão contidos em mosaicos que totalizam aproximadamente 26,5 mil quilômetros quadrados distribuídos em áreas de Cerrado, Caatinga e Mata Atlântica. As principais ameaças a esses ecossistemas são a mineração e a pecuária.
O próximo passo da pesquisa é a realização de estudos para testar os benefícios de alguns dos microrganismos encontrados em uma cultura agrícola. Os experimentos estão sendo realizados na sede do GCCRC em Campinas.O artigo Plant microbiomes harbor potential to promote nutrient turnover in impoverished substrates of a Brazilian biodiversity hotspot pode ser lido .