CEO do Twitter diz que banir Trump foi necessário, mas abriu “precedente perigoso”
Jack Dorsey, CEO do Twitter, enfim se pronunciou sobre a decisão de banir o presidente Donald Trump da plataforma. Na última quarta-feira (13), o executivo declarou que a mudança não foi fácil e que ele não tem orgulho de banir ninguém. Contudo, reconheceu que o que se fala online pode causar danos no mundo real e, por este motivo, acredita que suspender permanentemente a conta de Trump foi a decisão certa durante um período de “grande incerteza”, mesmo que estabeleça um precedente “perigoso”.
“Eu não comemoro ou sinto orgulho por termos que banir do Twitter, ou como chegamos a esse ponto. Após um aviso claro de que adotaríamos essa ação, tomamos uma decisão com as melhores informações que tínhamos com base nas ameaças à segurança física dentro e fora do Twitter. Isso estava correto?”, escreveu Dorsey em uma sequência de 12 tweets, em seu perfil pessoal no serviço.
“Acredito que essa foi a decisão certa para o Twitter. Enfrentamos uma circunstância extraordinária e insustentável, que nos obrigou a focar todas as nossas ações na segurança pública. Os danos offline resultantes de publicações online são comprovadamente reais, e o que impulsiona nossa política e aplicação acima de tudo”, continuou Dorsey.
Trump ainda pode postar na conta @POTUS, como o fez ontem (13) mesmo ao lançar um vídeo em que denuncia a violência em um sentido geral, mas ainda não admitiu que perdeu a eleição presidencial para Joe Biden. A conta pessoal do presidente foi banida na semana passada depois que ele incitou uma multidão de extremistas a invadir o Capitólio. Cinco pessoas morreram, incluindo um policial e apoiadores do próprio presidente.
Dorsey também disse que acredita que todo banimento é, de alguma forma, uma falha do Twitter, e não de um usuário individual. “Dito isso, ter que banir uma conta tem ramificações reais e significativas. Embora existam exceções claras e óbvias, acho que uma proibição é uma falha nossa em promover uma conversa saudável. E um momento para refletirmos sobre nossas operações e o ambiente ao nosso redor”, escreveu.
I do not celebrate or feel pride in our having to ban from Twitter, or how we got here. After a clear warning we’d take this action, we made a decision with the best information we had based on threats to physical safety both on and off Twitter. Was this correct?
— jack (@jack)
Dorsey já havia recebido críticas por permitir postagens extremistas em sua plataforma. Aliás, as regras do Twitter mudaram drasticamente durante a presidência de Trump. Em 2016, quando o republicano ainda estava concorrendo ao cargo, as únicas coisas que poderiam fazer com que você fosse banido eram conteúdos de assédio direcionado.
Hoje, o Twitter bane oficialmente postagens e contas ligadas à negação do Holocausto e apelos diretos à violência, mas ainda há muitos neonazistas na plataforma. A empresa resistiu aos apelos para banir supremacistas brancos, nacionalistas brancos e neonazistas.
“Ter que tomar essas ações fragmenta o debate público”, continuou Dorsey sobre a proibição da conta de Trump. “Essas medidas nos dividem e limitam o potencial de esclarecimento, redenção e aprendizado. E abre um precedente que considero perigoso: o poder que um indivíduo ou empresa tem sobre uma parte do diálogo público global”, completou.
No final das contas, Dorsey apontou que se as pessoas não gostarem das regras do Twitter, elas estão livres para usar outros serviços. “A verificação e responsabilidade sobre esse poder sempre partiu do fato de que um serviço como o Twitter é uma pequena parte do grande debate público que acontece na internet. Se as pessoas não concordarem com nossas regras e nossa fiscalização, elas podem simplesmente procurar outro serviço na web”, disse.
Dorsey também falou sobre o Parler
O cofundador do Twitter também comentou sobre a controvérsia envolvendo o Parler, rede social usada principalmente por usuários de extrema-direita e que, desde a semana passada, foi banido das lojas de aplicativos para celular e perdeu sua hospedagem no Amazon Web Services.
“Esse conceito foi desafiado na semana passada, quando vários fornecedores de ferramentas fundamentais de internet também decidiram não hospedar o que consideravam perigoso. Não acredito que isso tenha sido coordenado. É mais provável que empresas chegaram às próprias conclusões ou foram encorajadas pelas ações de outros”, escreveu o executivo.
Dorsey sugeriu que a decisão de grandes empresas de tecnologia de expulsar o Parler seria ruim, pelo menos no longo prazo:
“Este momento pode exigir essa dinâmica, mas a longo prazo será destrutiva para o nobre propósito e os ideais da internet aberta. Uma empresa que toma uma decisão comercial de se moderar é diferente de um governo que remove o acesso. Sim, todos nós precisamos examinar criticamente as inconsistências de nossa política e aplicação. Sim, precisamos ver como nosso serviço pode incentivar distração e danos. Sim, precisamos de mais transparência em nossas operações de moderação. Tudo isso não pode corroer uma internet global livre e aberta.”
Dorsey encerrou sua thread reconhecendo que o mundo passa por um momento difícil, seja por conta da pandemia de COVID-19 ou pela instabilidade política nos EUA. “É importante reconhecer que este é um momento de grande incerteza e dificuldade para tantas pessoas ao redor do mundo. Nosso objetivo é desarmar o máximo que pudermos e garantir que todos estejamos construindo um maior entendimento comum e uma existência mais pacífica na Terra”, escreveu Dorsey.
“Acredito que a internet e as conversas públicas globais são o nosso melhor e mais relevante método de conseguir isso. Também reconheço que não parece assim hoje. Tudo o que aprendemos neste momento vai melhorar nosso esforço e nos empurrar para ser o que somos: uma humanidade trabalhando juntos”, concluiu.