Implantes no cérebro e na espinha fazem homem paralisado andar por conta própria
O holandês Gert-Jan Oskam, de 40 anos, voltou a andar depois que implantes eletrônicos no cérebro moveram suas pernas assim que ele pensou no movimento. A descoberta está em um artigo publicado na quarta-feira (24) na revista .
Os implantes transmitem os pensamentos para as pernas e pés através de um segundo implante na coluna. Todo o mecanismo foi desenvolvido por pesquisadores da , na Suíça. A operação ainda está em estágio inicial, mas cientistas já veem potencial para revolucionar a medicina.
“Eu me sinto como uma criança aprendendo a andar de novo”, disse Oskam à . O holandês ficou paralisado por conta de um acidente de bicicleta há 12 anos. Agora, ele pode ficar em pé e até subir as escadas.
A neurocirurgiã Jocelyne Bloch, que integra o estudo, destacou que este é apenas um teste científico e que ainda faltam muitos anos até que o tratamento fique disponível para pacientes paralíticos.
Mesmo assim, é um grande avanço. “O importante para nós não é apenas ter um teste científico, mas eventualmente dar mais acesso a mais pessoas com lesões na medula espinhal que estão acostumadas a ouvir dos médicos que precisam se acostumar com o fato de que nunca mais se moverão”, afirmou.
Como os implantes funcionam
Gert-Jan recebeu os implantes em julho de 2021. No procedimento, os neurocirurgiões fizeram dois orifícios em cada lado do crânio, com 5 centímetros de diâmetro, nas regiões do cérebro que são associadas ao controle dos movimentos.
Os médicos, então, inseriram dois implantes em forma de disco que transmitem sinais cerebrais sem fio, onde ficam as intenções do paciente. Esses implantes ficam ligados com dois sensores presos a um capacete usado na cabeça.
A equipe desenvolveu um algoritmo que traduz esses sinais em instruções para mover os músculos das pernas e dos pés através de um segundo implante inserido ao redor da medula espinhal. O equipamento foi anexado às terminações nervosas relacionadas à caminhada.
Os implantes se baseiam em pesquisas anteriores que usavam apenas implantes espinhais para restaurar o movimento. Essa medida, porém, amplifica sinais fracos para o cérebro. Com os mecanismos no cérebro, o controle é maior, como relatou Oskam.
“Antes eu sentia que o sistema estava me controlando, mas agora estou controlando”, disse ele, que já tinha os implantes na coluna antes da cirurgia.
Caminha de verdade?
Oskam não recebeu os implantes no cérebro e saiu andando como se não tivesse passado por um trauma. Longe disso. Depois de algumas semanas de treinamento, ele começou a ficar de pé e a andar com o auxílio de um andador.
O movimento é lento, mas suave, como contou Grégoire Courtine, da École Polytechnique Fédérale de Lausanne (EPFL), que liderou o projeto. “É uma mudança de paradigma em relação ao que existia antes”, afirmou.
Além disso, os pacientes não usam o capacete o tempo todo. Eles ficam com o equipamento por, no máximo, uma hora por semana como parte da recuperação.
Isso porque o ato de caminhar treina seus músculos e restaura um certo grau do movimento mesmo quando o sistema está desligado, o que sugere que os nervos danificados podem crescer novamente.
Como o equipamento é volumoso e pesado, o objetivo dos cientistas agora é reduzir a tecnologia e torná-la apta a ser usada no dia a dia das pessoas.
“Gert-Jan recebeu o implante 10 anos após o acidente. Imagine quando aplicamos nossa interface cérebro-espinha algumas semanas após a lesão. O potencial de recuperação é tremendo”, pontou Courtine.