Identificada estrela capaz de formar um magnetar, o ímã mais poderoso do Universo
Texto: José Tadeu Arantes | Agência FAPESP
Magnetares são os objetos que apresentam os mais fortes campos magnéticos conhecidos no Universo – da ordem de 1013 a 1015 gauss. Para efeito de comparação, o campo magnético na superfície da Terra varia de 0,25 a 0,65 gauss. Uma hipótese de formação é a de que o magnetar seja uma estrela de nêutrons cuja estrela precursora já possuía um campo magnético suficientemente expressivo que teria sido enormemente intensificado durante a explosão em supernova e no colapso gravitacional subsequente que originou a estrela de nêutrons.
O trabalho foi realizado por uma equipe internacional, liderada pelo israelense , da Universidade de Amsterdã, nos Países Baixos. E contou com a importante participação do brasileiro , da Universidade do Vale do Paraíba (Univap). Artigo a respeito foi na revista Science.
“A estrela que identificamos, a HD 45166, possui um campo magnético de 43 quilogauss [43 X 103 G]. E deverá produzir um magnetar com campo magnético da ordem de 100 trilhões de gauss. A explicação física para esse crescimento espantoso é que o colapso gravitacional faz com que a estrela encolha drasticamente. E, como sua superfície se reduz muito, a densidade de fluxo do campo magnético cresce de forma proporcional”, explica Oliveira à Agência FAPESP.
Histórico
Estas e muitas outras informações levantadas pelo estudo são fruto de um trabalho que, somado, se estendeu por mais de 20 anos. Oliveira começou a estudar a HD 45166 em sua pesquisa de doutorado, que se desenvolveu de 1998 a 2003, inicialmente no , do Laboratório Nacional de Astrofísica (LNA), localizado entre os municípios de Brazópolis e Piranguçu, em Minas Gerais, e, depois, no , da colaboração European Southern Observatory (ESO), situado no Deserto de Atacama, no Chile. E Tomer Shenar e sua equipe agregaram informações obtidas em várias instalações ao redor do mundo, principalmente no Canada-France-Hawaii Telescope (), em Mauna Kea, no Havaí.
“Foram fundamentais os dados de espectropolarimetria produzidos por Shenar e colaboradores no CFHT”, sublinha Oliveira. Em astronomia e astrofísica, a espectropolarimetria é uma técnica que analisa o espectro da luz polarizada emitida por objetos para determinar algumas de suas propriedades, particularmente o campo magnético. “As características de polarização circular observadas na HD 45166, bem como o Efeito Zeeman, isto é, o desdobramento das raias espectrais, detectado em algumas raias, confirmam a presença de um forte campo magnético”, afirma o pesquisador. A componente mais ativa do sistema binário HD 45166 é, evidentemente, a qWR. Essas estrelas de tipo Wolf-Rayet, assim nomeadas em homenagem aos astrônomos franceses Charles Wolf e Georges Rayet, que as descobriram em 1867, são objetos massivos com largas e intensas linhas de emissão características do hélio e outros elementos químicos mais pesados (carbono, nitrogênio e oxigênio), que atestam sua maturidade, isto é, o fato de se encontrarem em fase avançada do ciclo de evolução estelar. “Nossa estrela de interesse é basicamente o núcleo de hélio exposto de uma estrela que perdeu suas camadas externas de hidrogênio. A proposta que fazemos é que tenha se formado pela fusão de duas estrelas de hélio de menores massas. No estágio atual, é suficientemente massiva para explodir em supernova e produzir uma estrela de nêutrons e suficientemente forte em campo magnético para gerar um magnetar”, conclui Oliveira.Parte deste trabalho foi financiada pela FAPESP por meio de no exterior concedida a Oliveira.
O artigo A massive helium star with a sufficiently strong magnetic field to form a magnetar pode ser acessado em: .