A inteligência artificial já é capaz de feitos impressionantes, como derrotar os melhores jogadores de xadrez e Go ou de montar um cubo mágico. Em breve, teremos esses supercomputadores dotados de técnicas de aprendizagem em mais um espaço que, até hoje, era exclusivamente nosso: os debates. É o que mostrou a , em San Francisco, com seu Project Debater.
A companhia organizou uma disputa entre a máquina e debatedores humanos. Foram dois tópicos: subsídios governamentais para exploração espacial e expansão da telemedicina. Um dos participantes deveria ficar contra e outro, a favor.
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Ambos tinham quatro minutos para uma explanação inicial, mais quatro minutos para réplica e, por fim, deveriam concluir suas participações com falas de dois minutos. De acordo com uma votação realizada com o público do debate, a máquina venceu a primeira discussão e perdeu a segunda.
Mais impressionante que vencer um debate com um ser humano, talvez, é o fato de um software saber desenvolver argumentos. Nos dois casos, o Project Debater só ficou sabendo sobre o que discutiria no momento.
Ele, então, pesquisou fatos em sua base de dados, composta de centenas de milhões de artigos jornalísticos e de publicações científicas, para construir uma narrativa e tentar persuadir a plateia a tomar sua posição. Ah, ele também faz uma ou outra piadinha de vez em quando.
Além disso, a inteligência artificial também é capaz de ouvir o que seu interlocutor diz e rebater seus argumentos. No debate sobre telemedicina, ela disse que seu concorrente, o campeão israelense de debates estudantis Dan Zafrir, não estava falando a verdade — uma forma mais ou menos educada de chamá-lo de mentiroso.
Já no debate sobre investimento governamental em programas espaciais, o Project Debater simplesmente desprezou o que sua concorrente, a também campeã israelense de debate Noa Ovadia, tinha colocado como pressupostos para seu argumento.
Noa precisava se posicionar contra os subsídios para programas de exploração do espaço. Ela, então, definiu que, para um incentivo estatal se justificar, ele precisava atender necessidades humanas básicas. Além disso, precisaria ser feito em alguma coisa que só pudesse ser criada pelo governo. A exploração do espaço, para ela, não atende nenhum desses critérios.
O Project Debater, então, tomou outro rumo em sua argumentação. Em vez de tentar provar que o investimento cumpria esses requisitos, ele se concentrou em provar que os subsídios trariam retornos econômicos por meio da inovação científica resultante.
Como nota Dieter Bohn, do , essa postura do supercomputador é um pouco desconcertante. Não usar os critérios lançados pelo debatedor é uma ótima estratégia para vencer uma discussão, mas não dá para saber se a inteligência artificial tomou uma decisão consciente por essa postura ou simplesmente criou uma narrativa independente e a apresentou.
Ok, legal, mas para que serviria um robô que sabe discutir? Vamos automatizar a produção de textões? Na verdade, para imaginar um parente do Project Debater questionando criticamente as notícias, o que poderia ajudar a identificar fake news, por exemplo. Os pesquisadores da IBM acreditam que inteligências artificiais desse tipo podem ajudar no processo de tomada de decisões, já que não seriam influenciados por emoções, e explicar racionalmente os prós e contras de uma decisão.
Será que no futuro nós vamos pedir conselhos para nossos smartphones antes de tomar decisões complicadas? Eu não duvidaria.
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Imagem do topo: IBM/divulgação