O Hyperloop, futuro do transporte público, pode funcionar de verdade. Mas sairá do papel?
Há alguns dias, o empreendedor e bilionário Elon Musk apresentou o conceito do Hyperloop: através de tubos de aço, pods de alumínio levariam pessoas a até 1.200 km/h. Ele seria movido a energia solar e custaria menos que um trem de alta velocidade. Bem, por mais que você esteja apaixonado por esta ideia de transporte público, seu instinto talvez diga que isso nunca vai rolar.
A boa notícia é que, de acordo com especialistas que entrevistamos, a tecnologia é realmente viável. A má notícia? Isso pode não ser o bastante. O plano de Musk é futurista, belo e bem-feito. Só que ele pode ser mais ambicioso do que o problema que tenta resolver.
É melhor do que já existe
Velocidade máxima adiante
O que mais empolga sobre os planos de Musk é que, apesar de parecer bem futurista no todo, não há nada de especialmente novo em suas partes. Conceitualmente, ele se inspira em mais de um século de pesquisas sobre , e sobre transporte a milhares de quilômetros por hora. Na verdade, seu objetivo de 1.200 km/h é relativamente baixo, se comparado aos limites teóricos de transporte via tubos.
As tecnologias-chave da proposta, no entanto, são bastante simples:- um tubo de baixa pressão, pelo qual se movem os pods;
- motores de indução linear, para mover os pods;
- um potente compressor de ar, que transfere o ar pressurizado da frente para a traseira dos pods;
- painéis solares, que darão a maior parte da energia consumida no Hyperloop;
- e uma grande estrutura elevada, construída sobre pilares, que sustenta os tubos e os pods.
O dinheiro não vai tão longe
Uma parte subestimada do Hyperloop é que, além de ser viável, ele tem um custo acessível, como Musk insiste. Ele está supondo que a única grande vantagem de sua tecnologia é economizar dinheiro e energia. É por isso que ele usa rolamentos pneumáticos em vez de levitação magnética, e por isso que ele posiciona seu orçamento de US$ 6 bilhões como um contraponto ao projeto ferroviário de alta velocidade na Califórnia, que custará US$ 70 bilhões. O raciocínio de Musk faz sentido até certo ponto: os EUA vivem uma época de austeridade, e grandes gastos públicos não são uma boa estratégia política. Só que apostas em uma tecnologia ainda nova, e possíveis estouros de orçamento, também não são. E o Hyperloop apresenta esses riscos. Se o Hyperloop não acontecer, não será por causa do preço proposto, e sim porque será muito difícil convencer as pessoas e o governo de que esta é uma ideia boa o bastante. Pelo menos, é por isso que Marshall está cético. “Esses projetos exigem um grande comprometimento do setor público”, explicou ele, com um exemplo de seu próprio histórico recente. Na década passada, houve uma proposta séria para construir uma linha de trem maglev de 520 km na Flórida, ligando Tampa a Miami. O plano , mas morreu uma morte política quando o governador Rick Scott recusou o dinheiro. Não era apenas um problema de provar às pessoas que seria um bom transporte público: o plano simplesmente não tinha o apoio da opinião pública para virar realidade. E mesmo se você tiver uma boa vontade política, isso não vai necessariamente acabar com a burocracia. Dave King, professor de Planejamento Urbano da Universidade de Columbia, me disse estar surpreso que a proposta de Musk não menciona uma estrutura regulatória para o projeto, que o Hyperloop quase certamente vai exigir.Carros, viagens aéreas e trens são tediosamente regulamentados. E isso é uma coisa boa, pois os torna mais seguros, e quem os construir será obrigado a garantir que são seguros. O Concorde não voou por mais de um ano após seu . Mais recentemente, a implementação em massa do Boeing 787 Dreamliner foi sucessivamente adiada, porque ele fica pegando fogo. E todos estes incidentes aconteceram apesar de intensas regulamentações feitas especificamente para evitá-los.
Agora imagine criar uma estrutura regulatória inteiramente nova para uma tecnologia também nova. Qual órgão regulador ficaria responsável pelo Hyperloop? Tudo, da concepção dos tubos aos pods, precisa ser exaustivamente testado – não apenas pelos criadores, mas também pelo governo. E isso vai exigir um nível de vontade política – e dinheiro dos contribuintes – que só um apoio público maciço ou uma forte liderança poderia gerar. Só com sua personalidade e sua carteira, Musk não consegue fazer isso. Na verdade, é exatamente por isso que o trem-bala da Califórnia ainda pode parecer preferível, mesmo com a ideia do Hyperloop. Os trens são conservadores. Eles não são muito rápidos, usam uma tecnologia com a qual estamos familiarizados, param com frequência suficiente para deixar todos satisfeitos. Algo conhecido sempre tem um apelo mais fácil.Viagem sem causa?
Afinal, o Hyperloop é mesmo algo de que as pessoas precisam, ou algo que elas querem? Para que as pessoas apoiem o transporte de alta velocidade, ele precisa ser mais barato, mais rápido e mais confortável em relação ao que existe antes. É por isso que o transporte de alta velocidade funciona na Europa, e é a única chance de sucesso que o Hyperloop pode ter nos EUA. Atualmente, dirigir de San Francisco a Los Angeles não é barato: são US$ 50, dependendo dos preços da gasolina e do consumo de combustível do carro. Se Musk conseguir que a passagem do Hyperloop custe US$ 105, como ele diz, seria um preço competitivo, mas não esmagador: uma hora de voo de SF para LA custa em torno de US$ 200. De acordo com King, o Hyperloop pode ser a solução para um problema que ninguém tem: “Não está muito claro se economizar tempo seria algo tão importante. Não é tão difícil ir de San Francisco para Los Angeles”. Na verdade, dando uma olhada nos números, você começa a se perguntar se o dinheiro não seria melhor gasto em transporte regional. O número de passageiros por dia no California High Speed Rail é estimado em 260.000 pessoas. Isso é bem pouco, se comparado ao BART: este sistema público de transporte rápido cobre cidades próximas a San Francisco, e move 380.000 pessoas por dia. O Hyperloop, por sua vez, serviria apenas uma fração disso, porque ele não inclui todas as paradas intermediárias – vai direto de SF para LA. E mesmo se o Hyperloop poupar tempo e dinheiro suficientes para torná-lo uma opção viável, que tipo de viagem seria? A tecnologia da Musk pode ser boa, e segundo ele, a alta velocidade não induziria ao vômito. Mas ele não abordou questões como, por exemplo, o conforto, espaço para as pernas, ou como e onde alguém poderá urinar. Em sua encarnação atual, o Hyperloop parece friamente eficiente, como se Musk enlatasse você e atirasse em um túnel sem janelas. Ao imaginar o futuro que você deseja, geralmente há uma vista, não é mesmo? A velocidade é bacana, mas como King aponta, ninguém vai entrar em algo onde parece que você está passando por um tubo como uma bala de revólver. “Você só quer sentir a velocidade em um conversível.” O plano de Musk precisa ser bastante discutido e cuidadosamente considerado. Será emocionante ver como projetos posteriores levam a ideia ainda mais para a frente, refinando e aperfeiçoando uma ideia já boa. A ambição tecnológica e a coragem por trás do Hyperloop são incontestáveis. Mas a ambição, know-how e financiamento não significam nada se você não tiver o tipo certo de apoio. E por enquanto, é difícil imaginar como Musk iria recebê-lo.Imagem de capa por Michael Hession via Getty Images e Tesla Motors