O acidente fatal do voo 447 da Air France, em 31 de maio de 2009, mudou a história da aviação para sempre. Há 15 anos, 228 morreram na queda da aeronave, que havia partido do Rio de Janeiro em direção a Paris, na França. A tragédia ocorreu no meio do oceano Atlântico, em meio a uma tempestade, e resultou na adoção de novas tecnologias e treinamentos específicos para a tripulação.
Além de ter sido um dos maiores desastres aéreos registrados (tanto no Brasil quanto na França), os trâmites legais demoraram 14 anos para encontrar qualquer conclusão. Foi somente no ano passado, em abril de 2023, que um tribunal francês absolveu a Air France e a Airbus pelo ocorrido com o avião — um Airbus A330-203.
A linha do tempo do acidente do Air France 447
Para entender o impacto do acidente na aviação, vale recuperar a linha do tempo de acontecimentos envolvendo a aeronave.
A decolagem
A decolagem aconteceu em 31 de maio de 2009. O voo 447, da Air France, recebeu 228 pessoas, incluindo os tripulantes, no Aeroporto Internacional do Galeão, no Rio de Janeiro, e partiu às 19h30 (horário de Brasília).
Enquanto sobrevoava o litoral brasileiro, até a região de Fernando de Noronha, tudo correu como esperado. Porém, a situação mudou completamente quando o avião tomou rota para cruzar o Oceano Atlântico, três horas e seis minutos após a decolagem.
A entrada no Oceano Atlântico
Ao se aproximar do limite da área de controle aéreo do Brasil, a tripulação do Airbus enviou mensagens de rotina e perdeu o contato. Isso era esperado, pois a região atua como uma espécie de “ponto cego” do oceano, onde não há cobertura de radares ou meios de comunicação.
Normalmente, a conexão entre as aeronaves e as centrais de controle retorna em cerca de 50 minutos. Esse é o tempo necessário para alcançar o espaço aéreo de Senegal, na África. Pelo itinerário, isso deveria ter acontecido às 23h20 de 31 de maio, mas não ocorreu.
A queda
Participação da Marinha do Brasil no Resgate de destroços do acidente da aeronave Airbus 330-220 da Air France, o voo 447 (Imagem: Marinha do Brasil/Divulgação)
Nos minutos em que ficou fora dos radares, o avião sofreu uma falha que desorientou os pilotos, que perderam o controle, segundo investigações. Ao entrar em uma tempestade, os sensores externos da aeronave congelaram, resultando no fornecimento de dados errados de velocidade.
O Airbus A330-203 ficou em queda livre por quatro minutos. Nesse momento, as asas do avião não conseguiam captar ar o suficiente para se manter estável no ar, em um fenômeno conhecido como estol aerodinâmico.
Por não conseguir ler os dados de velocidade, a tripulação do voo manteve o nariz da aeronave alto demais. Como resultado, o avião se chocou contra a superfície do oceano, matando todos as 228 a bordo.
Depois do ocorrido, o governo da França realizou a investigação que determinou a pane. De acordo com as análises, a tripulação não soube lidar corretamente com a perde de leitura de velocidade, após a pane nos sensores causada pela tempestade.
Como o acidente do Air France 447 mudou a aviação
Após a determinação da causa do acidente, a indústria da aviação se movimentou para evitar que outra tragédia acontecesse da mesma forma. Uma das soluções a curto prazo foi implementar melhorias no treinamento de perdas de controle.
Em vez de manter o nariz da aeronave para cima, a tripulação devia ter aplicado uma manobra de empurrá-lo para baixo.
O BEA (Escritório de Investigações e Análises para a Segurança da Aviação Civil), da França, concluiu que os pilotos não haviam recebido o treinamento necessário para voar manualmente em alta altitude. A habilidade era necessária, já que o piloto automático parou de funcionar.
Agora, todos os pilotos precisam aprender a controlar aeronaves em altas altitudes, em voo de cruzeiro. Além disso, as fabricantes de aviões trocaram os sensores que congelaram pode uma versão mais resistente a temperaturas extremas.
O setor da aviação também adotou outras mudanças, como:
- aumento do tempo que o localizador das caixas pretas emite o sinal;
- implementação de planos de salvamento e resgate entre Brasil e Senegal;
- transmissão simultânea da geolocalização dos aviões;
- obrigatoriedade do uso de CPDLC (Controller Pilot Data Link Communications) — tecnologia de comunicação aeronáutica que permite o envio de mensagens de texto pré-formatadas — ao voar sobre o Oceano Atlântico.