Uma empresa de cabos submarinos de Nova Jersey (EUA), criada durante a Guerra Fria para espionar submarinos soviéticos, se tornou uma peça-chave na guerra tecnológica entre China e Estados Unidos.
A SubCom está usando cabos de internet no fundo do oceano para aumentar o poder econômico e militar americano. E conduziu uma missão clandestina a uma base naval em uma ilha remota. É o que revela uma investigação exclusiva da agência de notícias , divulgada neste mês.
Os cabos submarinos garantem mais de 90% de todo o tráfego transcontinental da internet, incluindo apps de mensagens instantâneas, transações no mercado de ações e segredos militares. Essa rede subaquática é uma das principais armas na corrida por tecnologias militares e digitais avançadas, protagonizada por EUA e China.
Segundo informações da agência de notícias, esses instrumentos são vulneráveis à sabotagem e espionagem, e Pequim e Washington acusam-se mutuamente de interceptar cabos para espionar dados ou realizar ataques cibernéticos.
De acordo com a Reuters, a SubCom está vivendo uma “vida dupla”. Publicamente, é uma das maiores fabricantes mundiais de cabos submarinos de fibra ótica para empresas de telecomunicações e gigantes da tecnologia, como Google, Amazon e Microsoft. Nos bastidores, a SubCom atua a serviço das forças armadas norte-americanas, colocando uma rede de cabos de internet e vigilância no fundo do oceano.
A reportagem obteve informações exclusivas de quatro pessoas ligadas ao assunto: dois funcionários da SubCom e dois da Marinha dos EUA, que preferiram permanecer anônimos. A investigação descobriu um projeto com o codinome “Onda Grande”. Trata-se de uma operação subaquática clandestina em Diego Garcia, território britânico no Oceano Índico.
O projeto militar secreto da SubCom
A reportagem da Reuters mostra que a SubCom implantou clandestinamente cabos de internet super-rápida no local, de modo a aumentar a eficiência militar dos EUA no Oceano Índico, região onde o país chinês rival expandiu sua influência naval na última década.
A instalação foi feita pelo navio CS Dependable, que é propriedade da SubCom. Juntamente com o CS Decisive, que também pertence à empresa, os navios compõem a primeira frota de segurança a cabo do governo dos EUA. As informações mostraram que o CS Dependable operou em torno da estação Diego Garcia entre fevereiro e março de 2022.
Antes da instalação do novo cabo submarino, a base da ilha acessava a internet por meio de satélites, que são mais lentos e menos confiáveis que os cabos. A operação, até então, era secreta.
Em vez disso, eles cuidadosamente esconderam o componente militar dos EUA dentro de um projeto maior de cabos do setor privado, conforme as fontes. A SubCom, o Departamento de Defesa dos EUA e a Casa Branca não responderam aos pedidos de comentários da Reuters.
Questão central
A investigação revela os laços entre a SubCom e o Pentágono norte-americano. E essa dupla função tornou a SubCom cada vez mais valiosa para Washington. De cabos submarinos a centros de processamento de dados e redes 5G, a infraestrutura global da Internet corre o risco de se fragmentar em dois sistemas – um controlado pelos Estados Unidos e outro pela China.
Atualmente, existem apenas quatro grandes empresas no mundo que desenvolvem e instalam cabos submarinos: a SubCom, a japonesa NEC Corporation, a francesa Alcatel Submarine Networks e a chinesa HMN Tech (Huawei Marine Networks Technologies).