O Guaíba, localizado no Rio Grande do Sul, é frequentemente objeto de debate sobre sua classificação. Alguns chamam de rio, outros de lago… Mas como o corpo hídrico é classificado realmente? O debate é antigo, mas por conta das chuvas que atingem o RS, o tema voltou à tona.
Oficialmente, governo gaúcho reconhece ele como um lago. No entanto, devido às suas características únicas, algumas pessoas podem referir-se a ele como um rio. O geógrafo Leonardo Fachel ajuda a explicar essa questão.
Ele conta que o Guaíba apresenta comportamento dual: é um corpo hídrico singular que possui características tanto de rio quanto de lago.
Isso porque possui características de lago em suas margens, com vegetação e profundidade típicas de um lago, e de rio em seu meio, onde há um canal mais profundo com correnteza. Essa dualidade faz com que a definição exata seja complexa.
“O fluxo de escoamento é majoritariamente superficial, fazendo com que a lamina de agua se comporte como um lago. Entretanto, esse fluxo de escoamento é forte demais para o que habitualmente se vê em lagos, sendo característica de rio”, no X, antigo Twitter.
Impacto da definição do Guaíba na política ambiental
A definição sobre rio ou lago não é puramente uma curiosidade científica. Fachel diz que a forma como o corpo hídrico é categorizado também impacta na política ambiental. As APPs (Áreas de Proteção Permanente) — onde não é permitido desmatar ou construir –, por exemplo, são maiores para rios do que para lagos.
“Lagos em área urbana, independente do seu tamanho, tem APPs de apenas 30m ao longo da sua margem, enquanto um rio do tamanho do Guaíba, teria uma APP delimitada em até 500m de dimensão, a partir da sua faixa”, elabora.
A partir da década de 1990, a classificação do Guaíba mudou de rio para lago. Assim, tornou-se mais fácil o avanço da especulação imobiliária e da exploração de recursos no Guaíba.
“Importa se é rio ou lago? Na verdade sim. A nomenclatura é importante pra nos dizer como aquele corpo hídrico se comporta, que cuidados e medidas devemos tomar. A nomenclatura importa pra criarmos leis. O Guaíba não tem uma nomenclatura adequada, portanto não tem leis”, completou o geógrafo.
Tragédia ambiental e humanitária no RS
O número de pessoas que estão temporariamente morando em abrigos no Rio Grande do Sul chegou a 80 mil (80.826), conforme o mais recente boletim da Defesa Civil estadual, divulgado às 9h desta segunda-feira (13).
Devido às fortes chuvas que causaram estragos em centenas de cidades do Rio Grande do Sul, há duas semanas, mais de meio milhão (538.241) de gaúchos estão desalojados, porque foram obrigados a abandonar a própria casa para ficar em segurança.
As consequências dos temporais afetam cerca de 90% do estado, ou 447 dos 497 municípios, e mais de 2,11 milhões de pessoas foram impactos direta ou indiretamente pelos eventos climáticos extremos.