Google oferece endereços digitais a moradores de Paraisópolis

Quem mora em becos e ruas sem saída costuma ter dificuldade em receber entregas - afinal, o endereço nem sempre aparece nas buscas. Mas um projeto do Google, inédito na América Latina, começa a olhar para o problema
Endereços digitais
Imagem: Google Maps/Reprodução

Você já parou pra pensar na comodidade que é pedir uma pizza e receber a refeição na porta de casa? Pra muitos brasileiros, isso não é possível — e o problema não é nem o preço do delivery. 

Receber encomendas fica mais difícil se sua casa está localizada em uma viela no meio de uma comunidade, que não é encontrada pelos aplicativos de localização e costuma ser considerada perigosa demais para os motoboys de aplicativo. 

É o caso de Alexandra Pereira Silva, que vive em Paraisópolis, favela na zona sul de São Paulo que é a quinta maior do Brasil. A moradora conta que, sempre que solicita uma entrega de comida, precisa descer toda a sua rua pra buscar o pacote.
Alexandra, moradora de Paraisópolis, recebe um grupo de jornalistas para uma conversa em frente à sua casa

Mas uma inciativa do Google, em parceria com a G10 Favelas, Favela Brasil Xpress e Americanas S.A., deve facilitar essa identificação — e tornar mais cômodo o recebimento de entregas.

O novo projeto foca na implantação de endereços digitais para Paraisópolis. Os endereços são gerados pelo , uma tecnologia aberta e gratuita desenvolvida pelo Google. Ele já existe desde 2015, mas essa é a primeira vez que será utilizado na América Latina. 

A premissa é bem simples: cada casa recebe um código, que pode ser buscado através do Google Maps. Beco, rua sem saída, avenida, não importa: o mapa vai indicar o caminho exato para chegar até lá. 

Vamos fazer um teste. Pegue seu celular e digite no Google Maps 97HF+MX São Paulo. Pronto, agora você já sabe chegar ao Pavilhão Social do G10 Favelas, em Paraisópolis. 

Endereços digitaisGilson Rodrigues, presidente do G10 favelas, segura placa com endereço digital do Pavilhão Social. Imagem: Google/Divulgação

O negócio está apenas começando, o que significa que os moradores da comunidade ainda não poderão aplicar seus endereços digitais em qualquer site de e-commerce. Apenas a Americanas está envolvida neste projeto piloto, disponibilizando em sua plataforma um espaço para que seja inserido o código da casa. 

Infelizmente, os aplicativos de comida ainda não aderiram à tecnologia, mas Alexandra já tem outra compra em mente. Finalmente, vai encomendar sua televisão para acompanhar aos jogos da Copa do Mundo de 2022 — e receber o aparelho no conforto do sofá. 

Alexandra posa em frente à plaquinha com seu endereço digital em Paraisópolis. Imagem: Google/Divulgação

“Não é só um pacote, a gente tá levando alegria, dignidade”, disse Gilson Rodrigues, presidente do G10, em entrevista coletiva. Ele explica que 17 milhões de pessoas que vivem nas favelas não têm acesso a endereço, sendo invisíveis para o resto da sociedade. 

O Google planeja inserir 4 mil habitantes de Paraisópolis no mapa até junho, ampliando o número para 30 mil no segundo semestre. Essa é uma grande oportunidade não só para os moradores, mas também para as empresas que perdem dinheiro quando não entregam dentro da comunidade. Como resumiu Gilson, “o real da favela vale tanto quanto o real do Morumbi”.

As casas próximas ao Pavilhão Social do G10 Favelas foram as primeiras a serem mapeadas pelo Google. Em seguida, o Plus Codes deve chegar às residências de difícil acesso e também àquelas com moradores que compram online com frequência.

Carolina Fioratti

Carolina Fioratti

Repórter responsável pela cobertura de saúde e ciência, com passagem pela Revista Superinteressante. Entusiasta de temas e pautas sociais, está sempre pronta para novas discussões.

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