O fundo para jornalismo do Google não vai ajudar o ramo que a empresa ajudou a prejudicar
O Google fica com grande parte das receitas de publicidade
A pandemia de COVID-19 não criou a desconexão entre alto tráfego e uma indústria de mídia cada vez mais insustentável; apenas destacamos quanto dano já foi causado.Google e Facebook reduzem a receita de publicidade que fica com as empresas editoriais há anos. Em 2010, o Google revelou em um que ele fica com 32% nos anúncios de conteúdo e 49% nos anúncios de pesquisa.
Embora possa parecer que os editores recebam a maior parte dos ganhos em ambos os cenários, um da News Alliance notou que “o Google AdSense se tornou menos relevante para os editores que vendem através do Google Ad Manager”, que possui regras menos transparentes de divisão de receita, “e o Google se beneficia significativamente mais desse relacionamento do que os editores”.É difícil encontrar números concretos, mas os números pintam uma imagem sombria de quanto os editores ganham com os anúncios. Um descobriu que o editor premium médio levou para casa apenas US$ 7,7 milhões nos EUA ao colocar seu conteúdo em plataformas de distribuição de terceiros, como as propriedades do Facebook, Google e Snapchat — apenas 14% da receita total.
Em 2016, o Guardian disse que levou para casa . É quase uma relação vista por motoristas de aplicativo e as plataformas, só que neste caso, a empresa de tecnologia fica com 70%, enquanto o condutor recebe 30%.
Não é por acaso que o Guardian, apesar do aumento recorde de assinaturas, tenha anunciado nesta semana que por causa do coronavírus.O Google concentra informações e atenção, mas não é ele quem produz conteúdo
Para dar algum contexto, o jornalismo é bancado majoritariamente por publicidade, e as principais plataformas de anúncio online são de gigantes da tecnologia. Elas têm noção de seu impacto negativo no mercado jornalístico — tanto é que Google e Facebook já doaram grandes quantias para este ramo. Peter Kafka, do Recode, resumiu um pouco esta questão em um post de 2018 intitulado (“Google e Facebook não podem ajudar publicações, pois estas empresas foram construídas para derrotá-los”). No texto, ele ressalta que essas gigantes da tecnologia são muito melhores em agregar informações para obter a atenção das pessoas que, por sua vez, é vendida para anunciantes. Obviamente, é mais interessante para um anunciante bater na porta de quem alcança um público maior do que em um único site ou publicação. A questão é que essas empresas de tecnologia não produzem o conteúdo que agregam e que recebe essa atenção.É impossível concorrer com um serviço gratuito
Kafka ainda aponta para o que ele vê como uma contradição. As gigantes de tecnologia têm criado formas de ajudar publicações digitais a desenvolverem sistemas de assinatura para depender menos do dinheiro de anúncios. No entanto, estas mesmas companhias, por exemplo, não tentam fazer isso com seus produtos — você não vê por aí um “Facebook Premium” ou uma “busca do Google Premium” para quem pagar uma grana por mês. É óbvio que um produto gratuito vai ter mais público que um pago. E nunca é demais dizer que, quando o serviço é gratuito, o produto é o usuário — são os dados e a privacidade do usuário que são ofertados e, no fim das contas, comprados pelas empresas anunciantes. Voltando à iniciativa do Google, perdoe esta blogueira por olhar o Fundo de Emergência para Jornalismo e ver apenas uma estratégia de marketing. Ah, importante dizer que o Google está doando US$ 1 milhão coletivamente para o Centro Internacional de Jornalistas (ICFJ) e o Centro Dart de Jornalismo e Trauma da Escola de Jornalismo de Columbia. O Facebook também disse que estava comprometido em doar . Mas algumas doações não são suficientes para manter essas publicações por muito tempo, e não está claro quando as coisas voltarão ao normal. Outros já , mas talvez simplesmente dar dinheiro para as empresas jornalísticas fora do contexto de pandemia já seria um bom início. Até então, as gigantes de tecnologia deveriam manter seu discurso sobre “quão vital o jornalismo é agora” para elas mesmas.(Colaboraram Guilherme Tagiaroli e Giovanni Santa Rosa)