Como o Google arruinou a internet, segundo o processo movido pelo Texas
O resumo do caso
A versão resumida é que, de acordo com a ação judicial, o Google passou a última década dominando sistematicamente os dois lados do mercado de publicidade: fez acordos que nem anunciantes nem donos de sites poderiam recusar e, quando isso não deu certo, os obrigou a aceitar.
A empresa então usou seu papel descomunal em ambos os mercados para extrair bilhões de dólares dos participantes envolvidos, construindo seu império de anúncios às custas do restante da internet. Mas, para entender isso, precisamos entender primeiro como funciona o negócio de propaganda na internet.Entendendo os anúncios online
O que você precisa saber é que os grandes editores da web — o nome técnico de qualquer site na web com espaço publicitário para vender, da CNN ao New York Times, passando pelo Gizmodo — dependem de um intermediário específico chamado servidor de anúncios para ajudá-los a obter o maior retorno (dinheiro de propagandas) para seu investimento (espaço para publicidade).
É bem difícil explicar como os preços são definidos, mas o que você precisa saber é que os editores geralmente contam com apenas um servidor de anúncios para gerenciar cada um dos espaços reservados para publicidade de seus sites — e eles ficam com esse servidor por um longo período, porque mudar para um novo pode interromper o fluxo de dinheiro de propaganda necessário para pagar as contas e os funcionários.O conjunto de dados resultante é transmitido para o que é conhecido como ad exchange. Basicamente, as ad exchanges funcionam como câmaras de leilões, onde os anunciantes podem literalmente dar para um determinado pedaço de espaço publicitário, como os que estão no texto que você está lendo. E, assim como nos leilões da vida real, quem der o lance mais alto — neste caso, a possibilidade de exibir seu anúncio naquele determinado espaço do site.
Ah, e tudo isso acontece em uma .O domínio do Google
Em geral, os editores recorrem ao Google para fazer esse trabalho sujo por eles. Uma descobriu que cerca de 90% dos principais editores usam o servidor de anúncios nativos do Google, chamado Google Ad Manager (ou GAM, para abreviar). Enquanto isso, análises da empresa de tecnologia Datanyze mostram que o Ad Exchange de propriedade do Google, o DoubleClick, corresponde a de Ad Exchange. Para colocar isso em contexto, a maioria de seus concorrentes tem uma participação de mercado de um dígito. E aí está o problema. Como chegamos aqui? Quando o Google entrou pela primeira vez no mercado de ad exchange, , após adquirir a DoubleClick, a empresa estava enfrentando uma concorrência bastante acirrada de empresas como a Microsoft e, acredite se quiser, o . O Google teve que se livrar de sua posição de azarão e rápido — então a empresa aproveitou sua maior vantagem na época, que era sua ferramenta de compra de anúncios voltada para pequenas empresas, chamada Google Adwords. O processo aponta que os da própria empresa na época estimavam que cerca de 250 mil pequenas empresas — pense em restaurantes, médicos, encanadores, eletricistas — nos Estados Unidos estavam pagando ao Google uns trocados para tentar comprar em um espaço publicitário ao lado dos resultados de busca, que vinha crescendo. Há quem diga que a busca do Google é um monopólio . Na década seguinte, o nome mudou de Adwords para simplesmente “Google Ads”, e o número de clientes explodiu: em 2013, segundo o processo, havia cerca de 2 milhões de anunciantes usando o serviço. Hoje, bem, os . Pouco tempo depois do lançamento da dupla de ad exchange e servidor de publicidade do Google, a empresa mudou suas políticas para que esses incontáveis pequenos anunciantes também fossem obrigados a usar esses dois serviços. E hoje, milhões e milhões de empresas que dependem dos anúncios do Google ainda são obrigadas a negociar na ad exchange do Google, sem nenhuma ferramenta alternativa para usar. Como diz o processo:O Google Ads […] tinha poder de mercado sobre seus pequenos anunciantes porque eles quase sempre usam uma ferramenta por vez ao fazer lances por espaços publicitários. Ao decidir qual ferramenta de compra de anúncios usar, a maioria dos anunciantes escolheu o Google porque era a única maneira de comprar anúncios na busca e exibi-los na rede da empresa.
Sem alternativas
Geralmente, as ferramentas de compra de anúncios fazem um percurso por para permitir que os anunciantes deem lances no maior espaço publicitário pelo melhor preço possível — como era de se esperar em um mercado competitivo. Mas, como mostra o processo, as ferramentas do Google para anunciantes exigem que qualquer pessoa que tente comprar espaço publicitário na vasta use exclusivamente a exchange da empresa — mesmo que as alternativas de terceiros estejam oferecendo acesso a espaços de anúncios idênticos por um preço menor. Embora as especificidades estejam censuradas no processo, ele afirma que o Google publicou documentos internos já em 2012, mostrando que a empresa impôs essas restrições “com o objetivo de excluir a concorrência”. “Como mostram os documentos internos do Google, ao unir seu servidor de anúncios com seu poder de mercado no lado do comprador, o Google evitou que os clientes mudassem para servidores de anúncios concorrentes e rapidamente conquistou o resto do mercado”, diz o processo. Nos anos seguintes, acrescenta, a empresa “fechou de vez” os servidores de anúncios com os quais competia anteriormente. Mesmo quando o Google ofereceu acesso a outras exchanges por meio de seus produtos, como fez , a empresa “restringiu significativa e intencionalmente” a forma como esses leilões eram encaminhados, conforme o processo. Fica ainda mais desagradável quando você considera como os editores foram forçados a responder. Se uma grande rede de notícias (como, digamos, a CNN) quisesse um pedaço dessa torta de publicidade super lucrativa, o Google habilmente exigia que esses editores usassem a mesma tecnologia de anúncios proprietária. Uma das principais maneiras pelas quais a empresa mudou isso foi programar sua exchange de modo que quaisquer lances feitos só aparecessem para editores que licenciavam o novo servidor da empresa, de acordo com o processo.Como os editores geralmente usam um único servidor por vez, e como o Google tinha acesso a um enorme número de anunciantes, dá para imaginar por que ele se tornou uma escolha popular. Conforme pelo Wall Street Journal em 2019, o Google tinha acesso a uma quantia gigantesca de verbas de publicidade, e a exchange da empresa era a única maneira de obter acesso total a ela.
E, como afirma o processo, quando esses editores foram forçados a usar o servidor do Google, eles foram “impedidos de acessar e compartilhar informações” sobre seu inventário de anúncios (os lugares de seus sites onde eles mostram propagandas) em qualquer exchange que não fosse do Google. Portanto, segundo o processo, mesmo que eles quisessem vender seus espaços publicitários por meio de outro serviço, o Google efetivamente disse a eles que isso não era uma opção.