Por que os cientistas estão tão ansiosos para encontrar ondas gravitacionais
E “um pouco” é pouco mesmo. Apesar de toda a energia necessária para produzir ondas gravitacionais, as ondulações no espaço-tempo em si são incrivelmente fracas. Os físicos estimam que, quando as ondas gravitacionais chegam à Terra, elas têm um bilionésimo do diâmetro de um átomo. Você precisa de instrumentos ridiculamente precisos que operem em ambientes completamente sem ruído para medi-los, e até muito recentemente, nossos detectores simplesmente não eram capazes disso.
Simulação numérica de dois buracos negros se fundindo, realizada pelo Instituto Albert Einstein na Alemanha. Crédito da imagem: Werner Benger/Wikimedia
Como detectar
Em princípio, a detecção de ondas gravitacionais é bastante simples; na prática, é irritantemente difícil. Para fazer isso, os físicos tentam medir pequenas variações na distância entre dois objetos separados por uma quantidade conhecida. Mas como os tremores atômicos que esperamos detectar são pequeníssimos, precisamos de experimentos que separem objetos em distâncias enormes. Mesmo assim, temos de medir as mudanças na distância muito, muito precisamente. Esse é o princípio por trás de nossos atuais detectores de ondas gravitacionais. No caso do LIGO, que foi ativado pela primeira vez em 2002, dois espelhos estão pendurados em duas cidades a 3.000 km de distância nos EUA, formando um braço principal; enquanto outros dois espelhos estão perpendiculares a eles. Uma luz laser passa por um divisor de feixes e salta por todos os quatro espelhos até retornar à sua fonte.
Esquema simples do Detector LIGO. Via .
Caçando ondas no espaço
Este ano, pela primeira vez, a busca por ondas gravitacionais também será feita a partir do espaço. O LISA Pathfinder, lançado em 2 de dezembro, é um experimento de prova de princípio que vai testar tecnologias fundamentais necessárias para a detecção de ondas gravitacionais fora da Terra. Há algumas razões pelas quais o espaço é um lugar atraente para procurar ondas gravitacionais. Por um lado, trata-se de um ambiente muito mais silencioso do que a Terra – as únicas verdadeiras fontes de ruído de fundo são o vento solar e a radiação cósmica, que podem ser evitados com uma blindagem cuidadosa.
Modelo computacional das câmaras experimentais do LISA Pathfinder (caixas douradas) e sistema de interferômetro laser (centro). Via ESA.
Descobertas nunca antes imagináveis
Por que observar as ondas gravitacionais é tão importante? Além de confirmarem boa parte da teoria da relatividade geral de Einstein, as ondas gravitacionais podem ser usadas para sondar alguns dos fenômenos mais misteriosos do cosmos. Bill Weber, cientista do LISA Pathfinder, disse ao Gizmodo que elas são “a forma mais direta de se estudar a grande parte do universo que é escura”. Os buracos negros, estrelas de nêutrons e outros objetos que não emitem luz são muito difíceis de se estudar diretamente. Mas as ondas gravitacionais, que passam por tais objetos como faca em manteiga, nos oferecem uma janela. Ao sondar o universo escuro com ondas gravitacionais, podemos descobrir novas maravilhas celestes que nunca imaginávamos.
LISA Pathfinder, pronto para lançamento em dezembro de 2015. Via ESA.
Rumores
Boatos sobre a descoberta das ondas gravitacionais circulam desde setembro. Lawrence Krauss, físico da Arizona State University, que o detector do LIGO havia encontrado as ondas. Em janeiro, ele para dizer que “o rumor foi confirmado por fontes independentes”.E este mês, Clifford Burgess – físico teórico da Universidade McMaster (Canadá) – enviou um e-mail para todo o departamento dele relatando que a equipe do LIGO havia encontrado um sinal revelador de dois grandes buracos negros se fundindo. O sinal é real, e é “espetacular”.
:A significância estatística do sinal é supostamente muito elevada, excedendo o padrão de “cinco sigma” que físicos usam para distinguir evidências fortes o suficiente para dizer que é uma descoberta. O LIGO é composto por dois instrumentos ópticos gigantescos chamados interferômetros, com os quais os físicos procuram o alongamento do espaço quase infinitesimal causado por uma onda gravitacional. De acordo com o e-mail de Burgess, ambos os detectores notaram a fusão de um buraco negro com o atraso de tempo certo entre eles.O e-mail completo vazou no Twitter. Nele, Burgess afirma que um estudo confirmando a descoberta pode sair na revista Nature em 11 de fevereiro.
O rumor de que o Advanced LIGO pode ter detectado ondas gravitacionais ainda não foi confirmado. E é provável que a comunidade do LIGO não publique resultados tão cedo – essas coisas precisam ser checadas à exaustão, o que leva muito tempo. Mas os físicos estão comovidos com a mera possibilidade disso, o que mostra como a descoberta de ondas gravitacionais tem potencial.
À medida que a sensibilidade do LIGO continua a crescer, e à medida que o LISA Pathfinder se instala em uma órbita estável no ponto L1 Lagrange, podemos esperar muito mais rumores de ondulações no espaço-tempo nos próximos meses.Primeira imagem por R. Hurt – Caltech/JPL