Tecnologia para reverter aquecimento global pode ser um desastre para a astronomia
Charlie Zender descobriu que injetar partículas na estratosfera teria o efeito não-intencional de alterar a luz que vem de estrelas e planetas distantes.
A geoengenharia – isto é, a injeção de partículas na atmosfera terrestre para reverter o aquecimento global – é uma daquelas ideias que parece boa em teoria, mas que poderia dar extremamente errado. Se a perspectiva de não for suficiente para convencer os cientistas, talvez isso seja: a geoengenharia pode ser um desastre para a ciência.
Isso é de acordo , físico atmosférico da Universidade da Califórnia em Irvine. Basicamente, ele descobriu que injetar partículas na estratosfera para dispersar luz – uma das estratégias mais amplamente discutidas para o resfriamento rápido da Terra – teria o efeito não-intencional de alterar a luz que vem de estrelas e planetas distantes.
Como você pode imaginar, esta seria uma notícia muito ruim para os cientistas que estudam as estrelas e os planetas. “Se nós fizermos geoengenharia globalmente, isso afetaria todos os telescópios ao redor do mundo”, diz Zender ao Gizmodo.
Os perigos da SAI
A ideia por trás da injeção de aerossóis estratosféricos (SAI) é simples: se colocarmos um monte de partículas de sulfato suficientemente altas no céu, elas se espalharão pela Terra e agirão como um protetor solar, refletindo a luz de volta ao espaço e produzindo um efeito de resfriamento. (A SAI foi inspirada em parte por erupções vulcânicas, que fazem essencialmente a mesma coisa.) Embora nosso planeta precise atualmente de alguma ajuda para se resfriar, a SAI foi criticada por uma razão óbvia: realizar um experimento global em nossa única atmosfera compartilhada entre diferentes países é algo inerentemente perigoso.Entre , a SAI poderia , suprimindo as monções de verão em partes do mundo onde as plantações são totalmente dependentes dessas chuvas. Ou, se a SAI funcionar bem demais, ela poderia desencadear um cenário de refrigeração além do desejado (como no filme ).
Há outro efeito secundário bastante óbvio da SAI que recebeu pouca atenção: o impacto na luz que vem das estrelas. Os modelos do Zender, que ainda não foram publicados, sugerem que esse efeito pode ser grande. Quando ele acrescentou alguns megatons de dióxido de enxofre a um modelo computacional da estratosfera – uma quantidade que pode ser necessária para resfriar a Terra de volta a temperaturas pré-Revolução Industrial – Zender descobriu que o céu noturno sobre as áreas urbanas ficaria aproximadamente 25% mais brilhante.Isso acontece porque nosso escudo estratosférico espalharia a luz de fontes terrestres – isto é, a eletricidade. “É como quando você dirige através da névoa com o farol alto ligado”, diz Zender.
O efeito na astronomia
Claro, a maior parte da astronomia não ocorre perto das cidades: os melhores observatórios do mundo estão localizados em montanhas remotas, muito acima da poluição atmosférica e longe da poluição luminosa. Nesses locais, os modelos de Zender mostram um efeito diferente, mas igualmente ruim: a SAI deixaria o céu mais escuro. “Nossos telescópios estão em posições onde a maior parte da luz [da noite] vem das estrelas”, explica Zender. “Lá, os aerossóis retroespalham a luz do espaço exterior. Isso significa que você não recebe tanta luz das estrelas, e a que você recebe é menos intocada. As estrelas pareceriam mais embaçadas.” De acordo com os cálculos de Zender, a uma “elevação de telescópio” aproximada de 3.000 metros, a quantidade de luz difusa ou dispersa no céu seria mais ou menos dobrada caso a SAI seja aplicada para reverter o aquecimento global. Dado que os astrônomos dependem de feixes de luz com o tamanho de um lápis para capturar informações espectrais precisas sobre estrelas e exoplanetas, isso seria uma grande dor de cabeça.E claro, a chance de a SAI provocar uma fome global também seria ruim, então talvez devêssemos tentar reduzir nossas emissões de carbono antes de recorrer a uma solução tecnológica.
Foto: a chuva de meteoros Perseidas 2010 sobre o Very Large Telescope (ESO/Flickr)