A Casa Branca para verificar se há possibilidade de modificar a quantidade de luz solar que atinge a Terra – um processo conhecido como geoengenharia. O estudo deve ser concluído em cinco anos.
Até agora, essas análises eram mais comuns em distopias, como na obra “The Ministry of The Future” (O Ministério do Futuro, em tradução literal, sem edição no Brasil), de Kim Stanley Robinson.
O romance relata uma onda de calor que mata 20 milhões de pessoas na Índia. Em desespero, o país decide implementar uma estratégia para limitar a luz solar que chegava à Terra.
Na vida real, os EUA avaliam quais intervenções climáticas podem refletir a luz solar de volta para o espaço e estabelecer metas a longo prazo. A pesquisa já estava prevista no plano de gastos assinado pelo presidente Joe Biden em março.
A discussão, que passou muito tempo restrita aos livros de ficção ou hipóteses científicas, ganhou corpo nos últimos anos, com o avanço das mudanças climáticas. Agora, especialistas já apoiam a criação de uma entidade internacional que avalie possíveis intervenções que vão além das previstas no Acordo de Paris.
Como fazer a luz solar voltar para o espaço
Um de 2021 das Academias Nacionais de Ciências, Engenharia e Medicina dos EUA apontou três tipos de geoengenharia solar: injeção de aerossol estratosférico, clareamento de nuvens marinhas e afinamento de nuvens cirros.
A injeção de aerossol estratosférico envolve enviar aeronaves para a estratosfera (cerca de 50 quilômetros de altitude) e pulverizar uma névoa fina que reflete parte da radiação de volta para o espaço.
Essa medida atrasaria eventos extremos de precipitação e seria uma solução às extremas ondas de calor. Um dos elementos para a pulverização poderia ser o dióxido de enxofre, que produz efeitos de resfriamento nas erupções vulcânicas. Mas há controvérsias: o material é prejudicial ao meio ambiente e à saúde humana.
O clareamento de nuvens marinhas, por outro lado, envolve o aumento da refletividade das nuvens próximas da superfície do oceano. Isso acontece através da pulverização de cristais de sal marinho no ar.
Essa técnica costuma ficar atrás do aerossol estratosférico por dois motivos: 1) afeta apenas algumas dezenas de quilômetros e 2) seus efeitos duram pouco, entre horas ou dias.
A última técnica possível é o afinamento de nuvens cirros. Elas ficam a cerca de 10 quilômetros de altitude e, se “desgastadas”, podem permitir que o calor saia da superfície terrestre.
Essa técnica não integra exatamente a “geoengenharia solar”, uma vez que não envolve a reflexão da luz solar, mesmo que envolva o aumento da liberação de radiação térmica.
O que esperar
O plano da Casa Branca vai avaliar as iniciativas, já que todas apresentam riscos, como chuvas ácidas e potenciais doenças ao ser humano, e nenhuma delas é barata.
Em 1965, o presidente dos EUA Lyndon B. Johnson mencionou a reflexão da luz solar pela primeira vez em um . À época, a ideia era espalhar partículas refletoras sobre o oceano.
Cada quilômetro quadrado custava US$ 100, fazendo com que uma mudança de 1% na refletividade da Terra custasse US$ 500 milhões por ano. “Não parece excessivo, considerando a extraordinária importância econômica e humana do clima”, diz o relatório.
Desde então, o preço subiu. O professor de direito ambiental da Universidade da Califórnia, Edward Parson, estima que seriam necessários US$ 10 bilhões por ano para executar um programa parecido. No fim, a Terra teria ficado 1ºC mais fria.
Agora, ambientalistas classificam a geoengenharia como um “risco moral”. O motivo: parece uma alternativa relativamente “fácil” em comparação com outras tentativas para reduzir as emissões de carbono que causam o efeito estufa, como abandonar o uso de combustíveis, por exemplo.
“Não podemos julgar o que o país faz na modificação da radiação solar sem olhar para o que ele está fazendo na redução de emissões”, disse Janos Pasztor, diretor da à CNBC.
“A prioridade é a redução das emissões. A modificação da radiação solar nunca será uma solução para a crise climática”, pontuou.