Fósseis considerados comuns podem guardar segredos biológicos de milhões de anos
Paleontólogos têm sorte de encontrar conjuntos completos de ossos fossilizados. Às vezes, eles descobrem impressões delicadas, mas que ainda se mantém preservadas, como penas. Além dessas pistas, a maior parte da biologia das espécies extintas – seu DNA, órgãos internos e química única – foi totalmente destruída pelos muitos milhões de anos que nos separam. […]
Paleontólogos têm sorte de encontrar conjuntos completos de ossos fossilizados. Às vezes, eles descobrem impressões delicadas, mas que ainda se mantém preservadas, como penas. Além dessas pistas, a maior parte da biologia das espécies extintas – seu DNA, órgãos internos e química única – foi totalmente destruída pelos muitos milhões de anos que nos separam. Mas e se, no final das contas, essas características puderem ser coletadas?
É isso o que dizem alguns cientistas. Para eles, é possível extrair informações biológicas muito mais complexas de fósseis aparentemente mundanos, incluindo coisas que os paleontólogos não esperam sobreviver ao longo de milhões de anos, como pele e casca de ovo.
A paleobióloga molecular está na vanguarda dessa pesquisa empolgante desde 2018, em coautoria de artigos que revelam elementos de fósseis que não podem ser vistos imediatamente com nossos olhos, mas podem ser detectados por meio de uma série de análises químicas e estatísticas complexas.
Em seu , publicado com Jason Crawford e Derek Briggs, Wiemann se baseia em outra pesquisa semelhante dos últimos dois anos. Ela e os co-autores afirmam que podem determinar as assinaturas químicas da pele, ossos, dentes e casca de ovo. Melhor ainda: podem treinar qualquer pessoa em aproximadamente 20 minutos para encontrar esses vestígios antigos usando suas técnicas. É uma oportunidade que eles esperam que seja amplamente utilizada nas coleções de museus em todo o mundo.
Considere que a maioria dos museus exibe apenas uma pequena porcentagem dos fósseis que possui em sua coleção. Os fósseis escolhidos para exibição são esqueletos parcialmente completos ou fósseis facilmente reconhecíveis pelo público em geral. O que resta nos depósitos de muitas coleções são prateleiras com as peças restantes: fósseis menos chamativos, mas que oferecem uma visão sobre a vida antiga.
Nesta captura podemos ver células fossilizadas de dinossauros, vasos sanguíneos e matriz óssea. Imagem: Jasmina Wiemann
É necessário um conjunto específico de circunstâncias para que algo sobreviva por milhões de anos. E se o item se fossilizar, pense na pressão e calor que ele sofre ao longo de eras. Embora seja notável que ossos e outros tecidos duros sobrevivam, se presume atualmente que estruturas menos resistentes, como células, vasos sanguíneos, pele e seus blocos de construção moleculares, não são capazes de sobreviver, especialmente depois de centenas de milhões de anos.As biomoléculas – blocos de construção químicos que esses cientistas procuram – são as moléculas que constituem todos os tecidos animais: proteínas, lipídios e açúcares. Os produtos específicos da fossilização das biomoléculas indicam a que tipo de animal um tecido fóssil pertenceu, se foi biomineralizado e exatamente que tipo de tecido representa.
Em vez de procurar uma molécula específica em um fóssil em particular, os cientistas queriam determinar quais moléculas (se houver alguma) estavam no conjunto de amostras de fósseis que exploraram. O que eles descobriram foi que vestígios de certas moléculas antigas sobreviveram – quimicamente alteradas -, mas ainda eram distintas. A equipe identificou diferentes tipos de fósseis moleculares e interpretou seu significado biológico.
Wiemann foi uma das estudantes escolhidas para apresentar pesquisas para o na reunião anual deste ano da Sociedade de Paleontólogos de Vertebrados. Sua apresentação, intitulada “Biomoléculas fósseis revelam a fisiologia e a paleobiologia de amniotas extintos”, descreveu o método que ela desenvolveu usando a espectroscopia Raman para determinar biomoléculas fósseis e como isso pode ser aplicado para uma maior compreensão dos animais extintos em tempos profundos.
“Uma formação em química fornece uma abordagem diferente para problemas complexos: as moléculas são invisíveis a olho nu, então muitas vezes é necessário um certo grau de criatividade e transferência de conhecimento de ciências relacionadas para entender completamente como as reações operam”, disse Wiemann.
O campo da paleontologia existe há mais de 200 anos e, nesse tempo, aprendemos a encontrar ossos e determinar o que são para aprender como esses animais morreram, o que comeram, que doenças tinham, estudando tecidos dentro dos ossos, rastreando a genética e aprendendo mais sobre os aspectos sutis da evolução. Cada geração se baseou no trabalho daqueles que vieram antes dela. E de vez em quando, há saltos substanciais em nossa compreensão – tecnologia e percepções que nos deixam sem fôlego.
Foto ampliada da matriz extracelular de uma vértebra Allosaurus fragilis. As fibras da matriz originalmente colágena são preservadas, e os osteócitos (células ósseas) com filipódios são escuros e preenchidos. Imagem: Wiemann et al/Nature Communications 2018
A afirmação de que proteínas, lipídios e açúcares podem realmente sobreviver além dos 3,8 milhões de anos estimados atualmente aceitos pela ciência – e que essa pesquisa pode ser aplicada a qualquer fóssil descoberto até o momento – é espantosa. As implicações do que podemos aprender podem mudar a face da paleontologia.