Como os clipes para papel ganharam seu formato atual
Selo norueguês de clipe (Kyle MacDonald/Creative Commons)
Os muitos (outros) inventores do clipe de papel
No final do século XIX, três fatos mudaram esse ecossistema e permitiram a uma nova espécie — o clipe de papel — emergir. Começando pelo lado mais óbvio, para o clipe de papel existir, você precisa da tecnologia para produzir de forma confiável um fio de aço com as propriedades elásticas que o objeto necessita para funcionar bem. Em segundo lugar, você precisa ser capaz de fabricar e vender esses clipes de fio metálico a um custo aceitável para o público. Finalmente, estava surgindo uma burocracia — um efeito colateral da industrialização que, por sua vez, permitiu os dois primeiros fatores. Era o nascimento do ambiente de escritório, que precisava de uma nova infraestrutura. O excesso de papelada exigiu algum novo método de organização; foi aí que começou a era do clipe de papel. De 1867 em diante, um número impressionante de patentes foi enviado por uma série de inventores, todos com esperança de encontrar a melhor maneira de usar uma única peça de metal para unir duas ou mais folhas de papel. Esses clipes alternativos tinham muitas formas:- houve o clipe Eureka, uma espécie de forma oval segmentada, cortada de uma folha de metal com um pino central para armazenar os documentos juntos, patenteada por George Farmer em 1894;
- o clipe Utility, de 1895, que era semelhante a um antigo anel de tração, dobrado sobre si mesmo;
- o Niagara, que eram basicamente dois clipes unidos, patenteado em 1897;
- o Clipper, uma versão pontuda do Niagara apresentada no mesmo ano;
- o clipe Weis, um triângulo equilátero dentro de um isósceles, patenteado em 1904;
- o espetacularmente nomeado “Clipe de Papel Hercúleo Reversível”, em que o fio estava dobrado em dois triângulos isósceles ligeiramente frouxos;
- o clipe Regal ou Owl, que parecia uma coruja, como se a ave tivesse crescido em uma gaiola retangular que era pequena demais para ela e cresceu deformada em uma forma quadrada estranha;
- e o clipe Ideal, um arranjo complexo de arame em forma de borboleta, patenteado em 1902.
No entanto, o Gem ficou conhecida de fato por pelo menos uma década antes disso. O professor Henry Petroski (autor de The Evolution of Useful Things) cita uma edição 1883 de The Home Library, de Arthur Penn, que celebra o Gem por sua superioridade sobre outros dispositivos usados para “unir papeis de mesmo tema, um maço de cartas, ou páginas de um manuscrito”.
Um design perfeito?
Frequentemente citado como um exemplo de design “perfeito”, o Gem tem sido destaque em exposições no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque e do Vitra Design Museum, na Alemanha. Emilia Terragni, uma dos editores da série Phaidon Design Classics, nomeou o clipe de papel como um de seus objetos favoritos:
Porque no clipe de papel está a essência do design: temos a beleza; temos um mecanismo simples; temos algo que nunca mudou em cem anos — tudo continua o mesmo. Ele ainda é muito funcional e todo mundo usa.Mas… o clipe de papel Gem é realmente tão perfeito como afirmam muitos? Se o clipe é usado para manter unido um documento particularmente grosso, ele pode ficar distorcido e não voltar à forma inicial. Em muitos aspectos, suas qualidades funcionais foram exageradas à medida que a simplicidade de seu design era celebrada. A alegação de que o design não mudou em cem anos também é questionável. É verdade que os clipes de papel disponíveis hoje são muito semelhantes aos ilustrados nas propagandas dos anos 1890. Mas também há um monte de clipes de papel que compartilham muitas das características do Gem, mas receberam ajustes sutis aqui e ali. Há clipes “lipped”, em que o fundo do loop interno é aumentado para permitir que o clipe deslize em mais facilmente (embora essa ideia tenha aparecido já na patente de George McGill, de 1903). Outra variação é o clipe Gothic, desenhado por Henry Lankenau em 1934 — ao passo que o Gem clássico tem extremidades arredondadas, o Gothic tem uma parte superior quadrada, permitindo que ele esteja nivelada com a parte superior do papel, e a extremidade de baixo pontuda, o que facilita o processo de anexar. E clipes “ondulados” fornecem atrito extra, impedindo que escorreguem facilmente. As diferenças são mínimas, mas mudanças foram feitas. Depois de uma passada recente em uma loja de material de escritório, eu poderia dizer que os clipes estão dividos meio a meio entre Gem puros e versões modificadas. Então, por que há essa crença predominante de que o Gem representa a perfeição, quando a realidade é que ele na verdade não é tão bom quanto todo mundo pensa? A crença parece vir do fato de que, em quase todos os níveis, ele é mais do que satisfatório. Não é perfeito, mas é bom o suficiente: nota 8, por aí. E quando um ajuste é feito, o novo design tem um desempenho melhor em alguns aspectos, mas, em seguida, pior em outros. O “lip” faz com que seja mais fácil de deslizar, mas pode tornar mais volumosa um pilha de documentos. O clipe Gothic também é mais fácil de usar, mas a extremidade pontiaguda pode arranhar ou rasgar os papéis. O clipe “ondulado” tem menos chance de escorregar acidentalmente, mas também é mais complicado para remover. O Gem não é perfeito, e as pessoas vão continuar a tentar melhorá-lo, mas o desafio é encontrar um novo design tão equilibrado quanto este.
Adaptado de de James Ward. Copyright © 2014 por James Ward. Originalmente publicado como Adventures in Stationery in Great Britain pela Profile Books Ltd. Reimpresso com permissão da Touchstone/Simon & Schuster.