Existe um horário cientificamente correto para tomar o cafezinho?

Relatos de "hora certa" para tomar café têm a ver com o hormônio cortisol, liberado pelo organismo em situações de perigo ou estresse. Entre nesse debate!
Existe uma hora certa para tomar café? Veja o que diz a ciência
Imagem: Tyler Nix/Unsplash/Reprodução

Você já deve ter ouvido falar que existe uma “hora certa” para tomar café, seja porque “faz mal” ingerir antes ou porque a escolha ajuda a dar um “gás” no dia a dia. 

São várias versões para explicar. Mas a afirmação acima tem a ver com a combinação da cafeína com o cortisol, hormônio liberado pelo organismo para preparar o ser humano em situações de perigo. Mas, como o corpo não diferencia situações reais de imaginárias, o cortisol muitas vezes é associado ao estresse. 

Há relatos de que, juntos, cafeína e cortisol podem causar uma “pilha de nervos” e atrapalhar o processo de despertar para um novo dia. Por isso, por muito tempo muitos especialistas sugeriam que a primeira xícara de café só viesse de 3h a 4h depois de acordar.

Mas estudos recentes não comprovaram que o café tem efeitos exageradamente perigosos ou contrações cardíacas expressivas o suficiente para que cientistas recomendem o consumo tardio. 

“Não sei por que uma pessoa esperaria tanto para tomar sua primeira xícara de café”, disse Olav Spigset, médico do Departamento de Medicina Clínica e Molecular da NTNU (Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia), ao site . 

“Não consigo ver nada realmente racional por trás disso, embora você talvez obtenha um efeito estimulante um pouco mais forte de uma xícara se esperar um pouco”, afirmou o pesquisador. 

Segundo ele, a dose de cafeína não permanece no corpo de um dia para o outro. Por isso, o ideal é consumir o grão assim que sentir uma certa “abstinência” – ou seja, assim que sentir vontade pela manhã. 

Abstinência de café 

A gente sabe: a palavra “abstinência” não guarda uma conotação muito boa. Ela é geralmente associada a casos graves de dependência de drogas, o que não faz muito sentido quanto relacionamos com o café. 

Mas, sim, a cafeína causa um certo grau de abstinência quando estamos habituados e paramos de consumi-la repentinamente. A diferença, segundo Spigset, é que a falta nesse caso é sentida em uma intensidade muito inferior à dependência de nicotina, por exemplo. 

“Se você bebe mais durante a semana do que nos fins de semana, pode ter dor de cabeça no sábado se não beber tanto quanto costuma”, disse ele. Logo, quanto mais café se consome, mais forte é a “falta” que ele faz quando não está por perto. 

O que o difere de drogas mais pesadas, é que a sensação física do vício desaparece em dois ou três dias sem café. O que pode continuar é o vício mental ou emocional no café. “Podemos chamá-lo de uma substância viciante, mas com um efeito de vício muito modesto”, afirmou.

Como a cafeína afeta o corpo? 

Não é como se o café recarregasse uma fonte de energia interna. Na verdade, a cafeína inibe o efeito da adenosina, substância que afeta o sono e a sensação de alerta. É por isso que algumas pessoas ficam ansiosas ou não dormem se beberem café à noite, por exemplo. 

Alguns atletas, inclusive, usam o café antes dos treinos e competições. Um apontou que bebidas com cafeína – tanto o próprio café quanto energéticos – são eficazes para o desempenho esportivo tanto em atletas homens quanto em mulheres. 

Mas, para evitar que a bebida afete o ciclo circadiano, o ideal é encerrar o consumo na metade da tarde ou início da noite. “Se você sentir uma queda de energia às 14h, pode tomar uma xícara”, sugere Spigset. “Mas tenha cuidado para não se empolgar com o consumo até tarde da noite, porque isso pode interferir rapidamente no seu sono”. 

A ciência ainda tenta descobrir se o café pode ter algum prejuízo à saúde. Mas, até agora, os resultados não mostraram nenhum indício preocupante. 

Em 2017, uma deu luz verde para a ingestão de três a quatro xícaras por dia. Outro apontou que a ingestão moderada pode ser boa para regular o ritmo cardíaco. 

Nessa reportagem de maio, mostramos uma investigação que apontou um aumento no número de passos diários e redução dos minutos de sono – mas nada tão acentuado que mereça sugerir uma interrupção na rotina do café. 

Julia Possa

Julia Possa

Jornalista e mestre em Linguística. Antes trabalhei no Poder360, A Referência e em jornais e emissoras de TV no interior do RS. Curiosa, gosto de falar sobre o lado político das coisas - em especial da tecnologia e cultura. Me acompanhe no Twitter: @juliamzps

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