Cultura

Exclusivo: Gui Agustini conta como foi interpretar herói brasileiro em “X-Men ‘97”

Gui Agustini deu esta entrevista exclusiva ao Giz Brasil e falou de suas origens, o início de sua carreira e seu trabalho em “X-Men ‘97”. Confira na íntegra!
Imagem: Reprodução

X-Men ‘97”, a continuação da série clássica do grupo de heróis mutantes da Marvel, . Os dois primeiros episódios estão com ótimas avaliações de público e da crítica especializada. Inclusive colocando o revival da animação clássica como uma das melhores produções recentes baseadas em histórias em quadrinhos.

Além de trazer de volta Wolverine, Ciclope, Jean Grey, Tempestade e outros heróis icônicos, a nova versão apresenta logo nos primeiros minutos Roberto Da Costa, o Mancha Solar. O personagem é um marco na história dos quadrinhos não apenas por integrar um dos grupos mais populares da ficção. Mas também por ser o primeiro herói brasileiro a aparecer nas histórias da Marvel.

Para dar vida a um personagem tão importante, que funcionará como um elo entre o espectador e a narrativa contada na tela — de maneira bastante parecida com o que foi Jubileu na primeira temporada da série original –, os produtores escalaram o ator brasileiro Gui Agustini.

De pai peruano e mãe argentina, Agustini nasceu no interior de São Paulo. Mas se engana quem imagina que as artes foram sua primeira paixão. Anteriormente, por muitos anos, ele dedicou à carreira no esporte como jogador de tênis, chegando a ir morar na Venezuela, para se dedicar ao seu desenvolvimento como atleta.

Ainda na juventude seus primeiros trabalhos como modelo o levaram a uma experiência que mudou completamente sua vida. Após uma audição que não acabou muito bem, Agustini decidiu estudar teatro e atuação mais profundamente, o que acabou, assim, se tornando sua grande paixão.

Além de trabalhos como ator e dublador, Gui tem projetos como diretor e roteirista relevantes na indústria do entretenimento, como o curta “Roses are Blind”, que foi premiado em oito festivais. Agora o ator tem o desafio de não apenas trabalhar em uma produção grandiosa da Marvel, mas também de representar o Brasil na série dos X-Men.

Gui Agustini concedeu uma entrevista exclusiva ao Giz Brasil, falou de suas origens, o início de sua carreira, seu trabalho em “X-Men ‘97” e também sobre as polêmicas do vazamento do elenco de dubladores originais no ano passado e a recente saída do showrunner Beau De Mayo da produção.

Confira a entrevista de Gui, de “X-Men’ 97”, pro Giz Brasil

Giz Brasil – Antes de começar a falar sobre seu trabalho no Disney+, gostaria de falar um pouco sobre suas origens. Você é filho de pai peruano, mãe argentina e nasceu no Brasil? Você nasceu em qual cidade e por que foi morar no exterior?

Gui Agustini – Eu sou bem latino, bem internacional. Minha mãe é de uma cidade bem pequena, no norte de Santa Fé, na Argentina. Já meu pai nasceu em Lima, mas sua família mora em Arequipa. Nasci em Campinas, eu sou de Campinas, meus pais moram lá desde que eu nasci e minha mãe continua por lá. Sou campineiro de origem e eu cresci em Campinas. 

Saí do país porque eu jogava tênis e minha primeira paixão foi ser jogador profissional de tênis, então eu me dediquei muito na minha adolescência. Viajei muito jogando torneios e aí eu saí do Brasil pra jogar alguns torneios profissionais na Venezuela e acabei ficando por lá por dois anos. Lá eu encontrei um treinador que mudou a minha vida e foi incrível.

Eu fiquei na casa de uma família que me adotou basicamente e virou uma segunda família pra mim. E de lá eu vim com bolsa para os Estados Unidos para jogar pela faculdade. Mas a atuação só começou realmente no final da minha estadia em Caracas, na Venezuela, foi que eu comecei. Fiz a minha primeira aula de atuação, eu gostei muito e comecei a me interessar. Quando eu cheguei nos Estados Unidos, a faculdade que eu ia jogar, graças ao universo, tinha um curso de atuação, aí eu me inscrevi. E aí foi onde tudo começou.

Fiquei por lá um ano e depois me mudei para Miami. Foi aí que decidi que eu queria focar realmente na atuação e comecei a me dedicar 100% a isso. Deixei o tênis e minha carreira focada na atuação, no audiovisual nos Estados Unidos.

Giz Brasil  – Antes de ser modelo e ator, você era jogador de tênis. Teve algum acontecimento que você considera como responsável pela sua mudança de carreira?

Eu comecei como modelo fazendo campanhas publicitárias, algumas passarelas, etc. E de lá eu consegui a minha agência, que estava me arrumando essas oportunidades.

Eu tive que fazer um teste para um comercial da Subway e eu fui porque esses comerciais pagavam mais, né? (risos). Quando cheguei lá tinha que atuar, que improvisar e eu fui horrível, senti uma vergonha muito grande. Saí de lá “pê da vida” sentindo uma sensação horrível. Liguei para minha gente e eu falei que precisava de aulas e perguntei se ela  tinha alguém para recomendar. Eu queria melhorar, aprender a técnica. 

A agência me indicou uma professora que só trabalhava com atores profissionais e que estudou no Actors Studio, em Nova York. Eu fiquei fascinado e foi ali onde a chave virou e onde eu realmente me apaixonei pelo processo.

Um ex-jogador de tênis

Giz Brasil – Imagino que a paixão que você tinha pelo esporte ainda esteja viva. Você ainda joga tênis regularmente como hobby ou apenas para se divertir?

Eu dei aulas de tênis por muitos anos em Nova York porque depois eu mudei, eu morei muitos anos lá. Dei aula até antes da pandemia. Depois da pandemia, a minha vida foi mudando e eu fiz uma série da HBO em Nova York e aí eu não precisei voltar a dar aula de tênis. No passado, com a greve dos atores, eu tive que voltar a dar aulas. Por isso voltei a jogar. Eu já tinha começado a jogar com um amigo meu, só para bater uma bola, mais por hobby.

Voltei a dar aula, só que dessa vez em Los Angeles. Porque eu me mudei, depois da pandemia e a experiência foi muito diferente. Dar aula em Los Angeles, sei lá, é muito melhor. O clima, as pessoas, o lugar onde eu estava. Comecei a jogar mais e retomar aquele gosto por querer praticar o esporte.

Este ano ainda mais porque fiz uma participação numa série da CBS que se chama “Elsbeth” e eu interpreto um jogador profissional de tênis. Eu fiquei alucinado e falei, eu preciso voltar a treinar realmente. Então eu voltei para me preparar para o papel e voltou aquele gosto por poder jogar, sabe? E este ano eu tive a oportunidade de novamente ir ao torneio de Indian Wells, que é um grande torneio de tênis na Califórnia.

No ano passado, vi o Alcaraz e Sinner pela primeira vez,  a nova geração do tênis, e eu fiquei alucinado. Foi quando eu falei, eu quero voltar a jogar. E aí neste mesmo ano tive a oportunidade de voltar aos torneios, e tendo que ter me preparado pra esse personagem, retomei um pouco essa paixão e eu vou continuar.

Giz Brasil – Nos últimos anos a Marvel está dominando o universo dos heróis no cinema e também em produções para a TV do Disney+. A série clássica dos X-Men é uma das produções que pavimentaram o caminho para as adaptações quadrinhos pudessem atingir o atual nível de popularidade. Você acompanhou a série animada original dos X-Men?

Cresci assistindo à série original dos X-Men dos anos 90. Eu tenho dito que, obviamente, no Brasil a gente cresce assistindo a versão dublada em português. Acho que na época eu nem sabia que era uma série. Via desenhos, apareciam lá, então eu também não assistia em sequência. Eu não lembrava da história e tive que ir pro YouTube para realmente lembrar e entender como foi temporada atrás temporada e toda a sequência da história.

Mas eu realmente cresci assistindo e o Wolverine foi um dos primeiros super-heróis que eu me apaixonei. O Gambit também. Eu não sei se foi o primeiro desenho que eu assisti, que eu me apaixonei, mas foi um dos, com certeza. Tenho os bonequinhos de ação até hoje lá em casa. Quando eu voltar ao Brasil no fim do ano vou pegar os que eu tenho e talvez fazer uma foto aí pro Instagram.

O teste para ser o Mancha Solar de “X-Men’ 97”

Giz Brasil – Como surgiu a oportunidade de ser a voz original do Mancha Solar em X-Men ‘97?  Você passou por algum teste de seleção?

Eu fiz um teste graças à agência que me representa para os trabalhos de voz. Eu fiz dois testes e nunca soube que era Marvel ou X-Men porque eles usam um codinome. A Marvel é muito sigilosa. No primeiro teste, o material dizia Roberto da Costa, mas eu não conhecia o personagem pelo nome “Roberto da Costa”. Então eu nunca assimilei, sabe? 

Fiz em outubro de 2021 e, como a maioria dos testes que eu faço, não recebi nenhuma resposta. Eu até esqueci. Em 2022, eu recebi um segundo teste e lembrei que já tinha feito teste,mesmo assim fiz novamente. Dois meses depois recebi um e-mail do meu agente dizendo que eu ia ser um super-herói. O e-mail dizia literalmente “parabéns, Gui, você vai ser um super herói”. E eu fiquei chocado.

Eu não podia comentar com ninguém. Fiquei, obviamente, muito feliz, mas não sabia como reagir. Eu queria falar para alguém, mas não podia falar nada. Foi uma loucura.

Giz Brasil – Qual é a sensação de, sendo brasileiro, poder interpretar o Mancha Solar, que é primeiro herói brasileiro do universo Marvel?

É uma honra muito, muito grande! Também é uma responsabilidade imensa. Eu sou muito grato pela oportunidade, pela confiança que eles estão tendo no meu trabalho, em mim. É realmente um tanto surreal, sabe? Eu sempre tive muito orgulho de ser brasileiro, eu tenho muito orgulho de ser brasileiro. 

Apesar de ter começado minha carreira fora do Brasil, ter feito poucos trabalhos no meu país e ter essa mistura latino-americana, eu sempre digo que sou brasileiro. Eu sempre brinco que adoro a minha família argentina, a família peruana, mas eu sou brasileiro. Então realmente, ter sido eu escolhido, é uma honra muito grande, eu sinto muito orgulho de poder fazer parte dessa série que é, como você mencionou, uma das mais importantes do gênero, e de poder estar representando o Brasil. Então muita alegria.

Giz Brasil – Você fala três idiomas fluentemente: português, espanhol e inglês. Em qual deles você se sente mais confortável em interpretar?

Eu me sinto confortável em poder interpretar qualquer personagem, em qualquer um desses idiomas. Isso com certeza sempre será um desafio porque talvez o teste peça um tipo de sotaque dentro do idioma, que são diversos. Eu me sinto mais confortável com alguns específicos, mas aí tem outros que se eu trabalhar e dedicar tempo consigo fazer.

Mas assim, qualquer um dos três, eu estou disposto e consigo graças a essa mistura que eu tenho. Com o inglês tive que ter muito trabalho, muita dedicação, porque eu não falava sem sotaque e tive que trabalhar muito, muito, muito, muito por vários anos. Hoje eu consigo interpretar e tenho muito orgulho de poder fazer essa troca de um idioma para outro.

Giz Brasil – Uma coisa que me chamou a atenção após assistir aos primeiros episódios é que a sua versão do Roberto da Costa não tem um sotaque tão carregado. Houve alguma orientação dos produtores em relação ao sotaque que eles queriam para o personagem?

Esse foi o principal desafio que eu tive na decisão de como interpretar o Roberto, mas obviamente este é um processo de muita colaboração com os produtores, com os criadores, com toda a equipe. Comecei fazendo um sotaque mais carregado, e geralmente quando é um personagem brasileiro ou até um personagem latino, a menos que seja muito especificado, faço uma versão com o sotaque latino ou brasileiro e uma versão com o meu sotaque normal, que hoje é o que eu falo em inglês, que é muito mais “americanizado” e muito mais neutro. 

Eu mando as duas opções, mas eu tendo mais a fazer um sotaque mais carregado, porque hoje em dia eu falo tão mais naturalmente que só consigo ir para o mais extremo. Obviamente tem brasileiros e latinos que falam com um pouco de sotaque, mas bem leve. Fui para uma coisa mais mais carregada porque o teste que eu fiz, pedia. Cheguei lá no meu primeiro dia, e a primeira pergunta que eu queria fazer era “como que a gente vai fazer?” Eles queriam testar. Não lembro exatamente qual foi a conversa, mas eu comecei a fazer um sotaque mais brasileiro, porque eu queria representar o Brasil.

Hoje, realmente, se eu não falar nenhuma palavra brasileira, não dá pra você saber que eu sou brasileiro ou latino e eu não queria que isso acontecesse, queria, na verdade, ter uma representação brasileira mais forte. Com o passar do tempo, o som do português colocando um sotaque no inglês como o “tchi” que a gente fala tanto no final das palavras, quando elas terminam em “T” era um pouco forte e o americano não tá tão acostumado. Então a gente foi diminuindo e eles me pediram para diminuir, obviamente, porque eles têm a visão periférica de tudo, né? Eu tô ali só fazendo as minhas falas, eu vejo só o meu personagem, então eu não tenho a visão de tudo.

Eles foram me apoiando e eu sugeri falar do jeito que eu falo normalmente. E deu certo, né? Voltei para regravar algumas partes e os produtores foram incríveis, mas eu estava bem nervoso para ver a estreia porque eu não sabia como ia ser o resultado final. Mas pelo que eu vi até agora fiquei muito contente. Deu tudo certo!

Giz Brasil – Quais são as diferenças entre se preparar para uma atuação em um produção live-action e uma dublagem?

Gui – A diferença, na minha opinião, é gigante. No mercado aqui americano ainda não tive a oportunidade de interpretar ou criar um personagem dessa magnitude, como eu estou fazendo com o Roberto, em um live-action, filme ou série, mas a preparação que se requer é muito maior. Acho que a responsabilidade é muito maior pelo simples fato de que o processo é muito diferente. 

Quando você faz um trabalho de voz tem só uma fala por vez e aí você pode ter diferentes matizes, diferentes emoções. Você tem a oportunidade de repetir várias vezes aquela mesma fala com tonalidades diferentes. No live-action isso não acontece. Você tem que fazer a cena inteira e responder diretamente ao seu co-star, com o seu parceiro de cena, enfim, é muito diferente.

Giz Brasil – Sua escalação para o papel acabou vazando antes da hora e isso causou bastante polêmica nas redes sociais. Os produtores da série foram acusados de whitewashing e, especialmente, o então showrunner Beau De Mayo acabou sofrendo muitos ataques, o que ocasionou em sua decisão de deixar as redes sociais. Você também chegou a sofrer ataques? Como foi lidar com essa situação antes da estreia da produção?

Eu lembro até hoje que eu comecei a receber mensagens me parabenizando no meu Instagram, pessoas começaram a me seguir, mas também comecei a receber esse ódio e muitas críticas. E eu pensei “nossa, já saiu, né?”. Eu não estava entendendo nada. Falei “nossa, não me avisaram”. Fui conversar com meu agente e ele falou que aconteceu um vazamento.

Eu sofri ataques, obviamente, não como Beau que teve que sair do Twitter e das redes sociais, mas eu recebi, sim, mas eu não engajei, Foi uma recomendação que recebi até porque naquele momento era um vazamento então eu não podia fazer nada. Recebi alguns ataques mas tentei não reagir impulsivamente ao receber àquelas críticas. Cada um tem direito à opinião e está tudo certo, mas é muito triste para mim ver as pessoas utilizarem a internet para espalhar ódio, atacar, sabe? E utilizando argumentos que não são baseados em algo concreto.

A saída de Beau de Mayo

Giz Brasil – Nos últimos dias fomos surpreendidos com a saída do showrunner Beau De Mayo, que segundo a imprensa americana já estava trabalhando em uma terceira temporada da série. Imagino que para quem trabalhou com ele também tenha sido um choque. Como você recebeu essa notícia?

Foi realmente um choque, a gente não estava esperando. Eu tinha me comunicado bastante com o Bo quando o vazamento aconteceu no ano passado do vazamento, então para mim foi um choque. Eu não sei, infelizmente, o que aconteceu, mas a gente segue a paixão pelo projeto, que obviamente teve as mãos dele e obviamente toda a equipe da Marvel. É o que a gente se apega e tenta continuar, enfim. Realmente não sei o que aconteceu e temos que esperar pelo lançamento da série e esperar pelo melhor.

Giz Brasil: Você gostaria de interpretar algum herói dos quadrinhos em um live-action? Como receberia uma proposta para interpretar o Mancha Solar ou algum outro personagem de Marvel ou até da DC nas telonas?

Seria uma alegria. Aí sim o nível ia subir, ia escalar o patamar de alegria, de emoção, nossa senhora. Seria um um sonho incrível, gostaria muito. Obviamente não posso dizer que não, que não seria um desejo, que não é um desejo, que eu não gostaria da oportunidade. Eu seria muito, muito afortunado, abençoado de poder ter essa oportunidade.

Esse é um nível de responsabilidade para o qual eu venho me preparando há muitos, muitos anos como ator. Um trabalho deste tamanho em live-action, que é o que eu mais amo, criar cinema, fazer parte do cinema, então assim, seria um outro nível e se isso acontecer, eu ficarei muito muito feliz e darei o meu melhor, com certeza, para encarar essa oportunidade de ouro. Vamos ver o que o universo tem preparado para o futuro do Gui (risos).

Vinicius Marques

Vinicius Marques

É jornalista, vive em São Paulo e escreve sobre tecnologia e games. É grande fã de cultura pop e profundamente apaixonado por cinema.

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