EUA acusam Huawei de fraude e roubo corporativo
Atualização – 14 de fevereiro às 17h00: Alteramos o título desta matéria por questões de precisão e clareza e incluímos mais detalhes da nota oficial da Huawei (abaixo).
O Departamento de Justiça dos EUA nesta quinta-feira (13) a instauração um processo substitutivo contra a gigante de tecnologia chinesa Huawei, denunciando a empresa e diversas de suas afiliadas sob uma lei tradicional do país que é usada para derrubar organizações criminosas em expansão que operam sob sigilo. A companhia chinesa, por sua vez, nega as acusações e enviou um comunicado rebatendo a acusação.As novas acusações se somam a outras duas preocupações legais para a empresa: um processo no Distrito Oeste de Washington que alega que a equipe da Huawei conspirou para roubar informações sobre um robô de testes de celulares da T-Mobile apelidado de “Tappy” e que acusa a diretora financeira Meng Wanzhou de supostas fraudes bancárias e financeiras como parte de um esquema da Huawei para escapar das sanções dos EUA contra o Irã.
O indiciamento substitutivo adiciona ao caso do Distrito Leste de Nova York, incluindo conspiração para roubar segredos comerciais, conspiração para cometer fraude bancária e conspiração de extorsão sob a Lei de Organizações Influenciadas e Corruptas pelo Crime Organizado (RICO, na sigla em inglês).O processo também cobre as alegações feitas no caso do Distrito Oeste de Washington, incluindo o suposto roubo do “Tappy” e um programa de bônus supervisionado por gerentes da Huawei que daria gratificações aos funcionários que roubassem dados confidenciais de concorrentes.
A acusação inclui novos detalhes do suposto esforço de trabalhadores da Huawei para mentir para os investigadores federais e obstruir a justiça, dizendo que a companhia mantinha um manual “Ultra Secreto” com instruções para seus espiões corporativos para “ocultar o emprego na HUAWEI durante encontros com autoridades policiais estrangeiras”.Por fim, o indiciamento diz que funcionários da Huawei mentiram para o FBI e para o Congresso dos EUA numa tentativa de esconder acordos ilegais com o Irã e Coreia do Norte, onde estariam fazendo negócios por meio de “filiais locais” como a Skycom.
Os procuradores exigem a confiscação civil de bens e lucros relacionados com as acusações de extorsão e conspiração de roubo comercial, bem como quaisquer lucros do suposto esquema de fraudes bancárias e financeiras para se esquivarem às sanções. A Huawei anunciou mais de de vendas em 2019. Os impactos podem ser fortíssimos, ainda que a maior parte das receitas venham da China, onde a empresa é sediada — e o governo chinês dificilmente tomaria medidas contra a companhia. Oficiais de inteligência dos EUA também afirmaram recentemente (sob anonimato e sem fornecer informações específicas) que têm provas concretas de que Huawei tem construído backdoors (brechas) de vigilância em equipamentos de telecomunicações que tem vendido no exterior com fins de espionagem em nome dos serviços militares e de segurança chineses.As notícias desse indiciamento e da suposta “bala de prata” que provaria espionagem atinge a Alemanha, um dos aliados que os EUA têm insistindo para impedir que a Huawei faça parte dos planos de infraestrutura 5G.
A empresa também enfrenta inúmeras sanções do Departamento de Comércio dos EUA e do governo federal que prejudicaram muito a sua capacidade de fazer negócios. A Huawei nega veementente que é uma ameaça à segurança dos países e disse que as acusações de roubo comercial são falsas ou o trabalho de funcionários desonestos. Os EUA e a China continuam a travar uma guerra comercial que tem tido grandes efeitos no comércio global, o que levantou suspeitas de que a escalada americana contra Huawei pode ser uma estratégia de Trump para para um aos americanos. A Huawei respondeu ao processo alegando que se trata de protecionismo dos EUA com o objetivo de dificultar a competição. A companhia afirma que as acusações “não possuem méritos”. Abaixo, o comunicado na íntegra:O novo indiciamento é parte de uma tentativa do Departamento de Justiça de irrevogavelmente danificar a reputação e os negócios da Huawei por razões relacionadas a competição, em vez do cumprimento da lei. Essas novas acusações não possuem méritos e são amplamente baseadas em disputas cíveis recicladas dos últimos 20 anos que já foram resolvidas, litigadas e, em alguns casos, rejeitadas pelos juízes e júris federais. O governo não vai fazer prevalecer as suas acusações, as quais vamos provar que são simultaneamente infundadas e injustas. […] Disputas sobre propriedade intelectual são comuns em negócios internacionais. Segundo registros públicos, de 2009 a 2019, a Apple esteve envolvida em 596 ações de propriedade intelectual e a Samsung em 519. A Huawei esteve envolvida em 209. […] Nenhuma empresa pode se tornar líder global roubando outras. Até o final de 2018, a Huawei registrou 87.805 patentes, incluindo 11.152 patentes nos Estados Unidos. Desde 2015, a Huawei recebeu mais de U$ 1,4 bilhão em receita de licenciamento. A companhia pagou mais de U$ 6 bilhões em royalties pelo uso legítimo das patentes de outras empresas, sendo que quase 80% desse valor foi pago a empresas americanas.