A vida da cientista Carolina Lucas foi repleta de idas e vindas. Filha de pai português e mãe brasileira, nasceu no Rio de Janeiro, mas passou boa parte da infância no país europeu.
Mas sua formação acadêmica foi no Brasil – pelo menos, a maior parte dela. Carolina se graduou em ciências biológicas na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), e também fez mestrado e doutorado na mesma instituição. Assim, tornou-se especialista em virologia e imunologia.
Durante o doutorado, a cientista voltou para a Europa – dessa vez, para a Suíça. Ela teve a oportunidade de realizar um tipo de mobilidade acadêmica conhecida como doutorado sanduíche, e ficou no país por um curto período de tempo estudando uma vacina contra o vírus HIV.
Carolina conta que na época em que viajou, em 2014, o Brasil ainda contava com muitos projetos de bolsa para os pesquisadores. “O que estamos vendo hoje é um retrocesso orçamentário em relação à ciência. A ciência está passando por um colapso. Então tem muitas atividades paralisadas e um monte de pesquisadores que não conseguem fazer ciência”, disse a pesquisadora.
Após finalizar o doutorado, a cientista pensou em aplicar novamente para estudar no exterior, mas foi surpreendida pela epidemia de zika vírus no Brasil. Seu primeiro projeto com HIV havia sido feito com células em laboratório, mas Carolina pôde ampliar seus conhecimentos através do estudo com zika vírus, em que ela analisou a resposta imunológica em modelos animais a diferentes cepas do patógeno.
Passado um tempo, a cientista foi para os Estados Unidos realizar um pós-doutorado na Universidade de Yale. Lá, ela estudaria o vírus chikungunya dentro de um projeto sobre gravidez. “Só que chikungunya nos EUA é considerado nível 3, e no Brasil ele não é nível 3 porque é endêmico”.
Por conta disso, Carolina era única pessoa trabalhando com esse tipo de vírus na época. Para a infelicidade de todo o globo, o Sars-CoV-2 chegou. A pandemia de Covid-19 foi instaurada bem quando a cientista estava trabalhando na área, e seu conhecimento em vírus emergentes fez com que ela liderasse parte de um projeto sobre a resposta imunológica do corpo ao coronavírus.
A pesquisadora e sua equipe publicaram um artigo em julho de 2020 na revista sobre os casos graves da doença e sua relação com uma resposta imune inadequada. Dessa vez, a cientista trabalhou com voluntários humanos, ganhando ainda mais experiência e promovendo mudanças.
“Eu não fiquei em casa nem um dia, não existiu nenhum dia de lockdown. De alguma forma, eu consegui redirecionar toda a energia e toda essa sensação de insegurança e de medo do que estava pela frente, e o nosso laboratório nunca parou”, conta Carolina.
Depois disso, vieram diversos artigos de atualização e até mesmo uma promoção inesperada. Carolina foi contratada esse ano para ser professora assistente em Yale. Além de trabalhar no setor de imunologia da Universidade, a pesquisadora também será a primeira pessoa a atuar no centro de doenças infecciosas que está sendo montado pela cientista Akiko Iwasaki.
First day as assist. prof. at after incredible years with ! My lab will focus on emerging viruses. The bio has changed but I haven’t. Incredibly honored for this opportunity and grateful to mentors, family, friends that encouraged me to make today happen
— Carolina Lucas (@carolilucas)
A cientista brasileira conta que foi muito importante para ela como mulher conseguir essa posição. “As instituições nos Estados Unidos ainda são muito hierárquicas e sexistas. Eu me sinto honrada e eu espero poder contribuir para futuras gerações e ajudar de alguma forma com diversidade e inclusão por todas as oportunidades que eu tive”.
Por enquanto, Carolina não planeja voltar para o Brasil. Porém, ela pretende estabelecer colaborações científicas em projetos e trabalhar também na mentoria de alunos, levando-os a passar um período nos EUA e ajudando a criar uma conexão entre os países.