Emissões de carbono na Amazônia cresceram 122% em 2020

Emissões subiram em relação à média do período de 2010 a 2018, enquanto a aplicação de leis de combate ao desmatamento despencou
Emissões de carbono na Amazônia cresceram 122% em 2020
Foto: Marizilda Cruppe/Amazônia Real

Texto: Agência Bori

Highlights

  • Emissões de CO2 na Amazônia cresceram cerca de 122% em 2020 em relação à média do período de 2010 a 2018, enquanto a aplicação de leis de combate ao desmatamento despencou
  • O desmatamento, as queimadas, a área coberta por plantações de monoculturas e o tamanho dos rebanhos bovinos também aumentaram na região nesse mesmo período
  • Os resultados demonstram a importância de medidas mais eficazes para a preservação da floresta e a conservação da diversidade amazônica

As emissões de gás carbônico (CO2) pela Amazônia aumentou em 122% e 89% nos anos de 2020 e 2019, respectivamente, em comparação com o período de 2010 a 2018. O crescimento representa a soma dos números do desmatamento e das queimadas na região, e está relacionado principalmente ao declínio na aplicação de leis ambientais. É o que aponta artigo de pesquisadores do Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e de outras instituições nacionais e estrangeiras publicado na quarta (23) na revista “Nature”.

A equipe comparou dados sobre o cumprimento das regulamentações ambientais aos eventos ocorridos na Amazônia durante o período de 2010 a 2018, já analisados em produções anteriores, e nos anos subsequentes, 2019 e 2020. Os pesquisadores coletaram amostras de CO2 em 742 voos realizados com uma pequena aeronave em quatro localidades da Amazônia e analisaram as amostras em laboratório do INPE.

O resultado das pesquisas foi compartilhado com técnicos do PRODES/DETER (INPE), que produziram mapas comparando a diferença do desmatamento em 2019 e 2020 com a média 2010-2018. Verificou-se que o aumento de desmatamento em 2019 foi de 82% e de 77% em 2020. Também houve aumento na área queimada de 14% em 2019 e de 42% em 2020. Já as multas reduziram 30% e 54%, e os pagamentos das multas reduziram em 74% e 89% em 2019 e 2020, respectivamente.  “O modelo econômico na Amazônia está por trás disso”, comenta Luciana Gatti, pesquisadora do INPE e principal autora do artigo.

Os dados apontam ainda que o nível das emissões registradas entre 2019 e 2020 são comparáveis ao observado em 2015 e 2016, quando um evento climático extremo de grande escala atingiu a região – o El Niño. “Quando o El Niño aconteceu, as emissões de CO2 cresceram porque foi um período de extrema seca, com muitas queimadas e perda de parte da floresta”, explica a pesquisadora. Gatti reforça que 2019 e 2020 não contaram com razões climáticas que justifiquem o crescimento das emissões, o que aponta para a ação humana como explicação.

A pesquisa salienta que as ações de monitoramento e controle podem ser ainda mais importantes nos próximos anos, quando a previsão é de que a região amazônica enfrente desafios maiores, pois as previsões indicam que o próximo evento climático promete ser mais intenso que o último El Niño. “Os dados mostram claramente a importância de políticas de controle e combate ao desmatamento eficazes”, frisa Gatti. O financiamento do governo é essencial para que as análises possam continuar sendo feitas. “O recurso financeiro usado para as pesquisas é cedido por agências de financiamento de ciência, mas, para que os dados possam estar disponíveis independentemente de publicações científicas, precisamos de financiamento por parte do Governo Federal”, explica a pesquisadora. A pesquisa observa que a exportação de madeira na Amazônia aumentou quase 700% no período, assim como também cresceram a área plantada de soja (68%) e de milho (58%), além do rebanho bovino (14%) dentro da Amazônia. Daí a importância de políticas públicas apontando um modelo de economia com a floresta em pé, e mais eficazes para a preservação da floresta e a conservação da diversidade amazônica. “Estamos na batalha para o governo assumir a tarefa de zerar o desmatamento antes de 2030 e reflorestar uma parte nas regiões críticas para salvar a Amazônia do ponto de não retorno”, conclui Gatti.

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