Em ratos, exposição intrauterina a canabinoide tem efeitos cardiorrespiratórios e no sono na vida adulta
Texto: André Julião |
A exposição de ratas grávidas a um canabinoide sintético – capaz de ativar os mesmos receptores cerebrais que a maconha – mostrou que os efeitos da droga nos filhotes se estendem à vida adulta, como problemas cardiovasculares nas fêmeas e maior suscetibilidade a ataques de pânico nos machos. O resultado do estudo, no American Journal of Physiology – Lung Cellular and Molecular Physiology, reacende o alerta sobre o uso desse tipo de substância por mulheres grávidas.
O trabalho foi conduzido com da FAPESP por pesquisadores das universidades Estadual Paulista (Unesp) e de São Paulo (USP). Em estudo anterior, o grupo havia demonstrado os efeitos da exposição intrauterina ao canabinoide em roedores filhotes e juvenis (leia mais em: ).
“Observamos que existem alterações de longo prazo no comportamento, mas principalmente na função cardiorrespiratória dos animais que foram expostos ao canabinoide ainda no útero da mãe. As alterações, porém, variam entre machos e fêmeas”, conta , primeiro autor do estudo, realizado como parte do seu doutorado com da FAPESP na Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias (FCAV) da Unesp, em Jaboticabal, onde atualmente realiza seu .
Diferentemente do que aconteceu com os recém-nascidos no estudo anterior, no experimento atual não houve alterações na respiração basal dos indivíduos adultos (80 dias de vida). O resultado pode ser um indício de algum mecanismo de compensação ao longo do desenvolvimento pós-natal, embora ainda não seja possível apontá-lo.Um resultado mantido em relação ao trabalho anterior foi que a exposição intrauterina ao canabinoide provocou uma maior sensibilidade respiratória ao dióxido de carbono (CO2) nos machos adultos, um desfecho oposto ao que ocorreu nas fêmeas.
“Em humanos, essa sensibilidade aumentada ao CO2 pode ser um determinante para a ocorrência de episódios de pânico, quando se tem a sensação de não estar conseguindo respirar, ou seja, um falso alarme de sufocamento. Os animais, por sua vez, expressam esse comportamento por meio de tentativas de fuga da câmara de experimento”, explica , professora da FCAV-Unesp e coordenadora do estudo.
Função cardiovascular e sono
Os pesquisadores avaliaram ainda fatores cardiovasculares e a qualidade do sono nos animais. O estudo revelou que a exposição ao canabinoide durante o desenvolvimento fetal tornou a prole propensa a disfunções cardiovasculares na idade adulta, com hipertensão e taquicardia sendo mais frequentemente identificadas nas fêmeas.O artigo Long-term effects on cardiorespiratory and behavioral responses in male and female rats prenatally exposed to cannabinoid pode ser acessado em: .