As autoras do estudo realizaram dois grupos focais online de duas horas de duração com dez moradores de favelas de diferentes cidades do país, em novembro de 2022. A maioria era do sexo feminino (80%), com idades entre 18 e 30 anos (60%), e representação racial diversa – 90% dos participantes se distribuem igualmente entre brancos, pretos e pardos. A maioria residia em favelas do Sudeste do Brasil (60%).
O trabalho indica que os moradores enfrentam desafios significativos em seu A falta de acesso físico e financeiro à comida saudável, juntamente com a alta disponibilidade e promoção intensiva de , dificulta a adoção de uma dieta nutritiva e leva a escolhas alimentares confusas. O transporte entre casa, trabalho ou local de estudo também reduz o tempo disponível para comprar e preparar alimentos, segundo aponta o estudo do Grupo de Estudos, Pesquisas e Práticas em Ambiente Alimentar e Saúde (GEPPAAS) da UFMG, coordenado pela professora Larissa Loures Mendes.
Para Luana Lara Rocha, pesquisadora da UFMG e autora do artigo, a maioria dos participantes mencionou a importância de integrar diariamente verduras, legumes, frutas, carnes, arroz e feijão em sua alimentação. Alguns observaram que os preços elevados desses alimentos representam um obstáculo para sua inclusão regular. “Eles expressaram o desejo de aumentar o consumo e a variedade de frutas, alimentos orgânicos, peixes e castanhas, desde que suas condições financeiras permitam. Além disso, destacaram a falta de tempo como uma barreira para diversificar a alimentação e preparar refeições de melhor qualidade”, observa Rocha.
A autora explica que a condução de estudos específicos para áreas de comunidades é importante para captar suas particularidades. Cerca de 16 milhões de brasileiros moram em favelas, segundo dados do Censo 2022, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – o que corresponde a 7,4% da população brasileira. Esse conhecimento auxilia a elaboração e o aprimoramento de políticas públicas e programas que incentivem a oferta de alimentos saudáveis a preços acessíveis, bem como estratégias e ações concretas relacionadas ao transporte, à segurança e ao ambiente desses locais que interferem no acesso aos alimentos. “A complexidade dos problemas relacionados à vida urbana na favela exige soluções específicas e integradas”, aponta.
A identificação dos fatores que impactam o acesso aos alimentos em favelas levou os pesquisadores a desenvolverem um instrumento para avaliar a percepção desse acesso. Agora, a pesquisadora planeja conduzir uma pesquisa de campo com esta ferramenta, em Belo Horizonte, para coletar informações sobre o , a segurança alimentar e nutricional e o estado nutricional das crianças das favelas do município. “Os dados obtidos serão reunidos e apresentados aos gestores responsáveis pelas políticas públicas de alimentação, nutrição e segurança alimentar e nutricional”, conclui Rocha.