O monstro El Niño de 2015-2016 finalmente foi embora, mas cientistas ainda estão discutindo quais foram os seus reais impactos no planeta. Entre esses impactos: carregar o ciclo global de carbono e empurrar os níveis atmosféricos de CO2 para acima de 400 partes por milhão (ppm) durante mais de um ano – é a primeira vez que isso acontece na história da humanidade.
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Humanos estão constantemente liberando CO2 na atmosfera, uma realidade que vem sendo registrada cuidadosamente pelo desde 1958. Ao longo dos últimos 60 anos, a concentração de CO2 em Mauna Loa aumentou e diminuiu em base anual, graças à absorção do carbono pelas plantas para fotossíntese, e subsequente liberação de carbono durante a decomposição. Mas também vimos os níveis de carbono subirem aproximadamente 2,1 ppm por ano no período. Isso acontece devido às de combustíveis fósseis que nossos carros e fábricas expelem todos os anos.
A “curva Keeling”, nosso melhor registro dos níveis atmosféricos modernos de CO2. Imagem: NOAA
Esse último ano foi especial. Como falamos em março, as concentrações de carbono em Mauna Loa subiram 3,76 ppm entre fevereiro de 2015 e fevereiro de 2016; é o maior salto registrado na história. O recorde anterior, de 2,82 ppm, aconteceu durante o El Niño de 1997-1998. Em ambos os casos, cientistas acreditam que as emissões subiram devido a uma combinação de aquecimento e seca nos trópicos, o que pode acelerar a decomposição de carbono no solo, e devido a grandes incêndios.
O resultado é que acima dos 400 ppm – um nível que nunca tinha sido registrado antes de 2013 – há meses. Por mais que possa cair abaixo dos 400 ppm nos próximos meses, descobriu que 2016 está caminhando para ter uma média atmosférica de 404,45 ppm. Em outras palavras, será a primeira vez na nossa história como espécie que saberemos exatamente o que é viver em um mundo com mais de 400 ppm.
As concentrações atmosféricas de carbono medidas em Mauna Loa ao longo dos últimos 12 meses. Imagem: NOAA
E provavelmente vai continuar assim pelo resto das nossas vidas, exceto em caso de implantação em larga escala de tecnologias de captura e armazenamento de carbono, uma ideia que cientistas começam a levar em consideração para tentar minimizar os efeitos do aquecimento global.
Então o que significa viver e respirar uma atmosfera de 400 ppm? Não temos certeza, mas nosso passado geológico pode oferecer algumas pistas. Por exemplo, a última vez que a Terra esteve a 400 ppm – durante o período Plioceno – os níveis do mar estavam entre 15 e 25 metros acima do que estão hoje, o que significa que muitos litorais do mundo não existiriam na forma atual.
Se estamos ou não destinados a rever o que aconteceu no Plioceno, ou se será algo mais grave, depende muito do que faremos neste século. Ralph Keeling, o cientista climático que colocou os primeiros dados nos estudos de Mauna Loa dos anos 50 e 60, capturou tanto o significado quanto a incerteza da marca dos 400 ppm em uma conversa com o no ano passado: “400 ppm não é um número mágico para o clima, mas ele simboliza que estamos em uma nova era na história da Terra.”