É possível eliminar o vírus HIV do organismo infectado?
Cientistas ainda não encontraram uma cura para o vírus HIV — causador da Aids (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, na sigla em inglês). Mas tratamentos atuais já podem inibir a replicação do vírus no organismo, reduzindo o risco de transmissão e permitindo que o sistema imunológico se fortaleça.
Nas últimas duas décadas, um punhado de pessoas participou de tratamentos para o HIV até atingir uma carga viral indetectável – ou seja, não correm mais o risco de transmitir o vírus por aí.
Destas pessoas, três estão há mais de cinco anos sem evidências de HIV no organismo (e são consideradas livres do vírus); outras duas estão em remissão de longo prazo (e podem se livrar do HIV em breve).
Lutando contra a Aids
Há um procedimento em comum entre os cinco pacientes. Todos se submeteram a um transplante de células-tronco oferecidas por alguém que apresente a mutação genética delta-32 no gene CCR5. Trata-se de uma mutação rara que torna o organismo naturalmente resistente ao HIV, impedindo que ele ataque o sistema imunológico e se replique.
O último paciente a passar pelo procedimento foi o americano Paul Edmonds, que foi diagnosticado com o vírus HIV em 1988. Ele se tratou desde então, à medida que um novo (e mais promissor) surgia. Em 2018, ele descobriu que tinha leucemia mieloide aguda, um câncer que atinge a medula óssea, e que precisaria se submeter a um transplante de células-tronco.
Assim, surgiu a possibilidade de encontrar um doador com a mutação no gene CCR5 – e tentar resolver o problema da leucemia e do HIV de uma só vez. Por outro lado, um transplante para tratamento do HIV é arriscado, pois envolve a destruição e substituição de todos os glóbulos brancos do paciente. Além disso, seus possíveis efeitos colaterais são significativos.
“Portanto, não é uma opção adequada para quem vive com o HIV. Mas é uma opção para pessoas com HIV que desenvolvem um câncer no sangue e que podem se beneficiar de um transplante para tratar da doença”, disse a médica Jana Dickter, parte da equipe que trata Edmonds, à .
O paciente realizou o transplante em 2019 e interrompeu a ART (Terapia Antirretroviral), que impede a replicação viral no organismo humano, em 2021. Desde então, ele está livre da leucemia e do HIV.
Os curados do HIV
A primeira pessoa a se livrar do vírus HIV foi Timothy Ray Brown, inicialmente chamado de “paciente de Berlim”. É uma história parecida com a de Edmonds: ele foi diagnosticado com HIV em 1995, e com leucemia em 2006. Em 2007, ele fez um transplante de medula óssea para tratar a doença, e seus médicos recorreram a um doador com a mutação genética “anti-HIV”. Ele ficou livre do vírus desde então – até falecer em decorrência da leucemia em 2020, aos 54 anos.
Outro exemplo é o venezuelano Adam Castillejo. Portador de HIV, ele recebeu o diagnóstico de Linfoma de Hodgkin — um câncer que afeta o sistema linfático, em 2011. Castillejo fez o transplante em 2016, e foi considerado curado em 2019.
O “paciente de Düsseldorf”, um anônimo que foi tratado em 2013, é uma outra pessoa potencialmente curada do vírus. Ele continuou a ART por quase seis anos e não apresenta evidências do vírus em seu organismo.
Infelizmente, o transplante não está disponível para a maioria dos portadores do HIV. Contudo, o sucesso dos casos deve ajudar os cientistas, que tentam desenvolver uma vacina contra o vírus e melhorar os tratamentos atuais, em suas pesquisas.
Hoje, cerca de 38,4 milhões de pessoas vivem com HIV no mundo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, são mais de um milhão de pessoas. Contudo, quem vive com o vírus não evolui necessariamente para o quadro de Aids. Além disso, é possível viver anos infectado sem apresentar sintomas ou manifestações da doença.