Doença contraída por diplomatas em Cuba pode ter sido causada por pesticidas, diz estudo

Diplomatas americanos e canadenses em Cuba começaram a apresentar sintomas inexplicáveis ​​e semelhantes a concussões, além de perda auditiva.
Getty Images
Um dos mais estranhos contos médicos a serem revelados nos últimos anos – a onda de diplomatas americanos e canadenses em Cuba atingida por sintomas inexplicáveis ​​e semelhantes a concussões, além de perda auditiva – teve outra reviravolta. Um grupo de pesquisadores no Canadá diz ter encontrado evidências de que pesticidas, e não armas de energia sônica, podem ser os culpados pelo sofrimento das vítimas.

Grande parte da atenção sobre a doença misteriosa, agora conhecida como “síndrome de Havana”, concentrou-se nos diplomatas dos EUA e suas famílias que ficaram doentes em 2016. Diz-se que alguns desses pacientes ouviram barulhos estranhos antes de seus sintomas surgirem, o que levou à especulação de alguns cientistas e até de  de que haviam sido atacados por armas exóticas, possivelmente sonoras – supostos ataques que alguns especulavam terem sido instigados ou apoiados por Cuba.

O governo cubano  qualquer responsabilidade por esses casos, bem como descartou a teoria das armas sônicas. E, apesar de algumas pesquisas muito controversas, patrocinadas pelo governo dos EUA,  que os pacientes com síndrome de Havana sofreram alterações cerebrais únicas que poderiam ter sido causadas por algo sem precedentes como uma nova arma, ainda não há nenhuma explicação concreta para o que pode ter acontecido com as dezenas de pessoas que relataram sintomas.

Assim como os EUA, o Canadá vem conduzindo sua própria investigação da síndrome em seus diplomatas, com a ajuda de pesquisadores externos. Mas eles chegaram a conclusões muito diferentes. Na semana passada, o programa de TV investigativo da Rádio-Canadá, Enquête,  uma  do estudo, que ainda será publicado em uma revista revisada por pares. Na terça-feira (24), o principal autor do estudo, Alon Friedman, neurocientista da Universidade de Dalhousie, falou ao  sobre os resultados preliminares.

“Na verdade, encontramos uma região cerebral específica que foi afetada e essa foi a pista para todo o resto”, disse Friedman ao Buzzfeed News.

Friedman e sua equipe compararam pacientes canadenses que receberam um exame médico extenso logo após o retorno de Havana àqueles estudados de um a 19 meses depois, bem como a um grupo de controle de pessoas não afetadas que nunca moraram em Havana. Alguns também foram examinados duas vezes, antes e depois de suas viagens a Havana. Uma das diferenças mais claras foi que poucos pacientes canadenses relataram ouvir sons estranhos antes que seus sintomas ocorressem, enquanto ninguém relatou perda auditiva. Mas o cérebro de alguns pacientes mostrou sinais de danos em regiões que processam uma enzima chamada colinesterase, incluindo regiões como o tronco cerebral que ajudam a regular nosso senso de consciência e sono. Há uma lista restrita de neurotoxinas que afetam essas regiões e perturbam o processamento da colinesterase, escreveram os autores, e incluem vários tipos de pesticidas. De fato, eles encontraram alguns desses pesticidas nos sistemas das pessoas. Ao analisarem os registros de fumigação da embaixada de Havana, eles também viram que havia aumentado a pulverização dos produtos em resposta ao vírus Zika transmitido por mosquitos, que na época tinha acabado de surgir nas Américas pela primeira vez na história. E, talvez o mais importante, havia também um elo entre aqueles que adoeceram e aqueles cujas casas foram mais expostas ao pesticida.

A teoria da equipe é admitidamente baseada em evidências circunstanciais. E, de acordo com Douglas Fields, um neurocientista que  os casos, ainda existe a possibilidade de que mais de uma causa natural possa explicar os sintomas desses pacientes. De fato, dado que os casos entre os canadenses afetados são tão diferentes dos casos dos EUA, seria estranho que a resposta não fosse de múltipla escolha. Mas, no mínimo, é uma teoria que pode ser mais estudada sem se aprofundar no mundo de Tom Clancy. “A teoria dos pesticidas é plausível, mas não comprovada, e o estudo tem muitos pontos fracos”, disse Fields ao Gizmodo por e-mail. “No entanto, é bom ver essa tentativa de um diagnóstico razoável, em vez da abordagem anterior de assumir a existência de uma nova arma neurológica de feixe de energia. Este artigo não é a palavra final”.

Segundo o Buzzfeed News, autoridades dos EUA e de Cuba estão analisando as novas descobertas e permanecem em contato com o governo canadense.

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