Há milhões de anos, os corpos dos nossos ancestrais entraram em uma batalha épica contra um vírus. Por meio de uma ardilosa troca de DNA, os hospedeiros venceram, e viraram as defesas do vírus contra ele mesmo. Pesquisadores acreditam que eles descobriram todo o processo, deixado como um Manuscrito do Mar Morto nos nossos genes.
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Nós sabemos muito pouco sobre vírus antigos e extintos, já que eles () não são capazes de formar fósseis. Mas retrovírus, o tipo de vírus que inclui o HIV, colocam seu próprio material genético nas células que eles infectam. Se um retrovírus infecta uma célula que passa para seus filhos, então nós potencialmente podemos ver exatamente onde e quando ele estava, se dermos uma olhada no DNA antigo e moderno. Um time de pesquisadores da Rockefeller University fez exatamente isso, e descobriram o que parecia ser um inteligente ato de vingança quando nossos primos hominídeos usaram o DNA de um vírus contra ele mesmo.
“A história inteira é bem empolgante para mim (um pouco enviesado já que foi meio trabalho de tese de PhD)”, o autor Daniel Blanco Melo disse ao Gizmodo por meio de um e-mail. “Por um lado nós conseguimos reconstruir um gene viral muito antigo de sequências destruídas em genomas de primatas. E por outro conseguimos descobrir que os nossos ancestrais conseguiram tirar alguma informação desse vírus e usá-la para levá-lo à extinção”.
Arqueologia de um vírus
Arqueologia viral é um trabalho forense. Os pesquisadores se interessaram em estudar se haviam muitos exemplos na história dos hospedeiros evoluírem proteções contra vírus, e encontraram o HERV-T, um vírus que provavelmente deixou sua marca genética em células de linha germinativa, aquelas que passam de geração a geração incluindo células fetais, células de esperma e células de ovário. Isso significa que os pesquisadores conseguiram olhar para o DNA de hominídeos antigos para descobrir se eles tiveram HERV, checando primos mais e mais distantes até encontrar um sem o DNA viral. O número de anos que o nosso primo e ancestral se separou da árvore evolutiva nos diz qual a idade do vírus.
Os pesquisadores também investigaram como o DNA do HERV-T se modificou com o tempo, ao comparar dados previamente recolhidos do genoma de diversas espécies de macaco do mundo, como gibões e bonobos. Como fazer duas culturas se lembrarem de um mito muito antigo, pequenos detalhes mudam, e diferenças se acumulam entre as espécies. O time sabia o DNA aproximado da mutação das diferentes espécies, e usou as diferenças para aproximar a idade do vírus.
O HERV-T provavelmente surgiu entre 30 e 40 milhões de anos atrás, inseminando seu DNA nas células de nossos ancestrais. Mas onde ele está hoje? É aí que as nossas células podem ter realizado uma proeza evolucionária. Baseada na análise dos primatas, os pesquisadores reconstruíram a proteína descrita pelos restos do gene HERV-T no DNA dos humanos modernos. Essa antiga proteína se fundiu ao DNA do vírus. “O hospedeiro usava essa proteína para envolver um derivado dela que podia essencialmente bloquear o receptor da célula da superfície”, Paul D Bieniasz, o principal investigador da pesquisa da The Rockefeller University em Nova Iorque, disse ao Gizmodo, “portanto inibindo a infecção do vírus”.
Basicamente, o intruso viral tinha uma cópia da chave da casa, mas a deixou dentro. Armado com esse conhecimento, as células dos nossos ancestrais mudaram a fechadura. Ou mais precisamente, eles se livraram das maçanetas. Os primatas com o gene viral teriam ganho o jogo da sobrevivência do mais forte, e o vírus provavelmente extinguiu cerca de dez milhões de anos atrás. No entanto, é importante notar que um revisor anônimo da , publicada hoje na revista eLife, tinha “Algumas preocupações sobre a prova que a hsaHTenv ORF”, a sequência de código genético que ressuscitou a proteína, “tenha se mantido por causa da pressão seletiva”. O pesquisador não achou que a prova que a seleção natural nos fez continuar a produzir a proteína era convincente.
Apesar desse detalhe, as descobertas dos pesquisadores pode ser uma inovação na arqueologia viral. “Nós sabiamos que para o hospedeiro usar proteínas envelope para os proteger de infecções de rotavírus, mas essa é a primeira vez que foi demonstrado em hominídeos, nossos ancestrais diretos”, disse Bieniasz. Também é a primeira vez que a proteína de um vírus extinto pode ser ressuscitada.
Pesquisas futuras
É importante notar que esse é apenas um estudo sobre a proteína, e uma olhada de milhares de anos no passado sempre precisa de certo grau de especulação, nós não estávamos presentes na época para observar o vírus e seus efeitos, afinal de contas.
Os pesquisadores acham que eles podem ser capazes de usar a proteína na pesquisa de câncer. Eles acham que eles podem fazer seus próprios vírus recheados com a antiga proteína viral para mirar em e matar células cancerígenas. É improvável que nós consigamos curar outros retrovírus, no entanto, como o HIV, já que a maioria não afeta as células da linha germinativa, nós não conseguiríamos passar a resistência para os nossos filhos, ou fazer com que todas as nossas células desenvolvessem a resistência.
Mesmo assim, apenas imagine, o seu DNA praticamente contém pergaminhos anciões com épicos evolucionários, prontos para serem lidos.
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Imagem do topo: /Flickr, /Wikimedia Commons, Ryan F. Mandelbaum