Diabos-da-Tasmânia retornam à Austrália pela primeira vez em 3.000 anos
O objetivo é tentar salvar os diabos-da-Tasmânia, bem como as criaturas que estão sendo atacadas por gatos selvagens na Austrália.
Na segunda-feira (5), especialistas em vida selvagem anunciaram que trouxeram os diabos-da-Tasmânia de volta à selva da Austrália, sendo essa a primeira vez que essas criaturas viverão lá em 3.000 anos. É uma tentativa de salvar os ferozes marsupiais, bem como as criaturas que são atacadas por gatos selvagens.
A causa do desaparecimento do demônio-da-Tasmânia da Austrália continental ainda é um mistério, com algumas evidências sugerindo a caça excessiva por indígenas australianos. Outros sinais apontam para a (). Seja como for, as notícias de segunda-feira fazem parte de um esforço para trazer o demônio-da-Tasmânia de volta ao seu antigo lar. Aussie Ark, o grupo que lidera a reintrodução, soltou 26 demônios em um santuário em New South Wales perto do Barrington Tops National Park.
O santuário é fechado e cobre quase 1.000 acres, oferecendo aos animais espaço para vagar sem impactar a vida selvagem nativa fora dessa área. Cada marsupial foi equipado com uma coleira de rádio, e câmeras fotográficas foram distribuídas pelo santuário. Isso permitirá que os cientistas os estudem em um ambiente relativamente controlado para ver como eles se saem e interagem com outros animais selvagens.
As espécies nativas da Austrália passaram por maus bocados nos últimos anos; o continente está enfrentando uma das de qualquer lugar do planeta. As mudanças climáticas elevaram as temperaturas e causaram incêndios florestais catastróficos que resultaram na morte de . A extração de madeira também reduziu o habitat. Os demônios-da-Tasmânia são ferozes, mas eles não conseguem impedir essas duas ameaças, embora sua presença possa contribuir para o surgimento de mais proteções florestais no futuro.
Os diabos-da-Tasmânia sendo soltos na selva. Foto: Aussie Ark
Essa reintrodução poderia ajudar, no entanto, a travar uma batalha com os gatos selvagens que transformaram o Outback (interior desértico da Austrália) em um bufê. Os gatos apareceram com os colonos europeus e rapidamente começaram a matar tudo em que conseguiam colocar suas garras. Um revelou que gatos no Outback estavam matando 1,8 milhão de répteis todos os dias. Eles também matam 316 milhões de pássaros e por ano. Gatos, juntamente com raposas, outra espécie introduzida, levaram a vida selvagem nativa ao limite.
Os pesquisadores têm tentado soluções inovadoras, como treinar criaturas nativas para . Mas o diabo-da-Tasmânia poderia ajudar no combate a essas espécies invasoras, e a reintrodução como uma forma potencial de reequilibrar ecossistemas. Tim Faulkner, presidente da Aussie Ark, disse em um e-mail ao Gizmodo que os demônios-da-Tasmânia eram “reguladores” dos ecossistemas nativos da Austrália.
“O diabo preenche o nicho ecológico de necrófagos e predadores”, disse ele. “Ele coexiste com a fauna australiana, especialmente pequenos mamíferos/marsupiais. Desde a colonização europeia na Austrália, perdemos quase 40 pequenos [espécies de] mamíferos. Isso corresponde quase ao resto do mundo combinado e a maior taxa de extinção na Terra. Isso se deve principalmente à raposa e ao gato selvagem. Ao reintroduzir o diabo, ele pode competir contra a raposa e, por sua vez, ajudar na proteção de outros animais nativos”.
O projeto de reintrodução também pode ajudar os próprios demônios. Na Tasmânia, eles foram dizimados pela doença do tumor facial do demônio, um câncer transmissível. A população trazida para o continente está livre de doenças e é adequada para acasalar sem o risco de cruzamentos consanguíneos. Isso essencialmente os torna uma população reserva, caso o diabo continue a diminuir na Tasmânia.
A doença tumoral também deu aos pesquisadores uma noção do que esperar das populações de gatos no continente. Faulkner disse que onde as populações de demônios diminuíram de 80% a 90%, “o número de gatos aumentou significativamente. É fácil perceber que as populações saudáveis de demônios-da-Tasmânia ajudaram a manter o número de gatos sob controle”.
O movimento de renovação da natureza ganhou força nos últimos anos em todo o mundo. Um dos exemplos mais proeminentes é a há 25 anos. O projeto é amplamente considerado um sucesso. As populações de alces encolheram a níveis considerados saudáveis, o que gerou uma série de impactos benéficos em todo o ecossistema, conhecidos como cascata trófica. Os pesquisadores também em uma tentativa de recriar as pradarias de capim alto que cobriram os EUA antes que os colonos destruíssem os rebanhos e plantassem monoculturas de milho, trigo e soja em todo o meio-oeste.
Havia um espaço muito menor entre a extirpação e a reintrodução para esses projetos. Mas Faulkner disse que 3.000 anos é “realisticamente o ‘piscar de olhos’ ecológico”, e o projeto do diabo-da-Tasmânia poderia trazer benefícios e percepções sobre como os ecossistemas antes intactos da Austrália funcionavam. O grupo disse que também planeja trazer grupos indígenas para o processo no futuro, embora o papel que eles desempenharão ainda não esteja claro.
“Assim que esses primeiros reassentamentos forem bem-sucedidos, nos envolveremos com grupos indígenas junto com muitos outros para colaborar e alcançar resultados maiores e melhores”, disse Faulkner.