Dia com apenas 19 horas? Durante um bilhão de anos a Terra foi assim

No passado, os dias na Terra eram mais curtos. Pesquisa mostra que, nesse período, Lua estava mais próxima do nosso planeta
Lua avesso
Em 24 horas, já é difícil dar conta de tudo que queremos fazer. Imagina se o dia tivesse apenas 19 horas de duração? Um estudo recente mostra que isso era realidade no passado da história do nosso planeta, e foi assim durante um bilhão de anos.

De acordo com a pesquisa, os dias eram mais curtos porque a Lua estava mais próxima da Terra. “Com o passar do tempo, a Lua roubou a energia rotacional da Terra para impulsioná-la para uma órbita mais alta, mais distante da Terra”, explica Ross Mitchell, geofísico do Instituto de Geologia e Geofísica da Academia Chinesa de Ciências, principal autor do trabalho.

O estudo foi publicado nesta semana na revista científica . Segundo Uwe Kirscher, co-autor do estudo e pesquisador da Curtin University, na Austrália, “a maioria dos modelos de rotação da Terra prevê que a duração do dia foi consistentemente cada vez mais curta voltando no tempo”.

Como os pesquisadores verificam a duração do dia no passado?

Nas últimas décadas, os geólogos usaram amostras de rochas sedimentares especiais que preservam camadas de escala muito fina. Essas amostras são encontradas em planícies de lama de maré. Ao contar o número de camadas sedimentares por mês causadas pelas flutuações das marés, é possível saber quantas horas durava um dia no passado. Contudo, esses registros de rocha são raros. Além disso, os poucos preservados são muito disputados pelos pesquisadores. Felizmente, há outro meio de estimar a duração do dia: a cicloestratigrafia.

Esse método geológico utiliza camadas sedimentares rítmicas para detectar ciclos astronômicos chamados de “Milankovitch”. Esses fenômenos apontam as mudanças periódicas nas características orbitais de um planeta que controlam a quantidade de luz solar que ele recebe, afetando seu clima e habitabilidade ao longo de centenas de milhares de anos. “Dois ciclos de Milankovitch, precessão e obliquidade, estão relacionados à oscilação e inclinação do eixo de rotação da Terra no espaço. A rotação mais rápida da Terra primitiva pode, portanto, ser detectada em ciclos de precessão e obliquidade mais curtos no passado”, explicou Kirscher. Mitchell e Kirscher aproveitaram uma proliferação recente de registros de Milankovitch, com uma grande quantidade de dados dos tempos antigos gerados nos últimos sete anos.

“Percebemos que finalmente era hora de testar uma ideia alternativa, mas completamente razoável, sobre o movimento de rotação da Terra no passado”, disse Mitchell. O estudo abrange meados do período Proterozoico. Mas os cientistas sugerem que, na verdade, não houve uma mudança lenta e constante na duração do dia, voltando no tempo.

O que o estudo traz de novo?

Antes, não havia comprovação de que a duração do dia poderia ter parado em um valor constante no passado distante da Terra. Além das marés no oceano relacionadas à atração da Lua, a Terra também tem marés solares relacionadas ao aquecimento da atmosfera durante o dia. As marés atmosféricas solares não são tão fortes quanto as marés oceânicas lunares, mas nem sempre foi assim. No passado, quando a Terra estava girando mais rápido, a força da Lua teria sido muito mais fraca. Ao contrário da atração da Lua, a maré do Sol empurra a Terra. Ou seja, enquanto a Lua diminui a rotação da Terra, o Sol acelera. “Por causa disso, se no passado essas duas forças opostas tivessem se tornado iguais uma à outra, tal ressonância de maré faria com que a duração do dia da Terra parasse de mudar e permanecesse constante por algum tempo”, disse Kirscher. E foi exatamente isso que a nova compilação de dados mostrou. As informações sugerem que a duração do dia na Terra interrompeu seu aumento de longo prazo e estabilizado em cerca de 19 horas, aproximadamente entre dois a um bilhão de anos atrás. Portanto, o novo estudo fortalece a tese de que a evolução da Terra aos níveis modernos de oxigênio teve que esperar por dias mais longos para que as bactérias fotossintéticas gerassem mais oxigênio a cada dia.

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