Desvendado mecanismo que torna teiú o primeiro lagarto capaz de produzir calor para se aquecer
Texto: André Julião |
Um grupo de cientistas apoiado pela FAPESP conseguiu desvendar um mecanismo que permite ao teiú (Salvator merianae) se aquecer com o calor do próprio corpo durante o período reprodutivo, algo nunca antes observado em répteis. Os resultados foram na revista Acta Physiologica, da Sociedade Escandinava de Fisiologia.
“De modo geral, apenas aves e mamíferos são conhecidos pela capacidade de regular sozinhos a própria temperatura [endotérmicos]. Répteis e outros animais, por sua vez, são considerados ectotérmicos, pois dependem da temperatura externa para regular a de seus corpos”, explica , primeira autora do trabalho, que começou a ser realizado ainda durante sua na Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Universidade Estadual Paulista (FCAV-Unesp), em Jaboticabal.
Em 2016, o que se sabia sobre a ectotermia dos teiús mudou, quando outro grupo de cientistas apoiado pela FAPESP descobriu que, durante o período reprodutivo, os lagartos mantinham a temperatura corporal mais alta do que a das tocas onde se abrigavam durante a noite, quando não têm o sol para se esquentar (leia mais em: ).
Restava saber como eles faziam isso. O mistério, ou parte dele, começou a ser desvendado pelo grupo do qual Hervas faz parte, liderado pela professora , da FCAV-Unesp, que coordena o projeto “”, apoiado pela FAPESP.
Sem tremer
Até a descoberta de 2016, os únicos répteis conhecidos por serem capazes de aumentar a temperatura corporal por conta própria eram duas espécies de pítons, grandes serpentes asiáticas que podem alcançar 5 metros de comprimento. O comportamento ocorre sobretudo durante a fase de chocar os ovos. No entanto, o aquecimento da serpente ocorre quando os animais tremem, um recurso conhecido também em mamíferos e aves. Ao agitar os músculos, geram calor. O teiú, por sua vez, não treme para aumentar a temperatura. A regulação de calor pode estar relacionada com a produção de hormônios sexuais, que alcançam um pico no período reprodutivo tanto em machos (testosterona) quanto nas fêmeas (estradiol e progesterona). Outros hormônios abundantes nessa fase, como os da glândula tireoide, estão envolvidos no gasto energético e na mobilização das reservas de energia. “Os hormônios da tireoide são conhecidos por estimularem o aumento da quantidade de mitocôndrias nas células. A elevação desses hormônios durante a fase de reprodução dos teiús pode estar associada à maior abundância de mitocôndrias e, por consequência, à maior atividade da ANT, a proteína que ajuda a produzir calor e que era conhecida em aves”, diz Hervas, atualmente doutoranda na FCAV-Unesp. Os resultados mostram, junto com estudos já publicados por outros grupos, que mecanismos envolvidos na endotermia podem ter surgido nos vertebrados ainda antes do que se previa. O fato de estarem presentes em um grande lagarto (sem tremer) e em uma grande serpente (com tremor), ainda que em um determinado período do ano, pode ser um sinal de que o fenômeno é mais comum nos répteis do que se pensava. “São dois animais de grande tamanho corporal, em que o calor produzido internamente demora mais para se dissipar. É possível que outros grandes répteis também tenham períodos em que podem estar mais quentes do que a temperatura externa. Essa é a primeira descrição em um lagarto, e ainda de região subtropical, de um mecanismo celular de geração de calor muito parecido com o que ocorre em aves e mamíferos”, encerra Bícego.O estudo teve ainda entre os autores , professor da FCAV-Unesp também pela FAPESP, que coordena o laboratório onde os experimentos de bioquímica mitocondrial foram realizados.
Outros participantes foram , da FAPESP, e , que tiveram bolsa da Fundação anteriormente.
O artigo Mitochondrial function in skeletal muscle contributes to reproductive endothermy in tegu lizards (Salvator merianae) pode ser lido em: .