Você consegue imaginar o Saara sem ser um deserto? Com vegetação, rios e animais dependentes de água, como hipopótamos? Pode parecer absurdo, mas a região já viveu períodos úmidos no passado.
Um novo estudo publicado na revista buscou compreender o mistério de como, quando e porquê isso ocorreu.
Esta é a primeira pesquisa de modelagem climática a simular os Períodos Úmidos Africanos, com magnitude comparável ao que as observações paleoclimáticas indicam.
O verdejamento do Saara
Estudos anteriores confirmaram a existência de períodos úmidos que afetavam o clima no norte da África nos últimos 800 mil anos. Assim, de tempos em tempos, o Saara se tornava verde.
No entanto, havia uma grande dificuldade para entender qual a duração desses períodos e, portanto, quais os mecanismos que os causavam. Agora, com a ajuda de um modelo climático recente, o novo estudo conseguiu confirmar que eles ocorreram a cada 21 mil anos.
O motivo? Mudanças na precessão orbital da Terra.
Mas o que é “precessão”, afinal? Trata-se do movimento de oscilação da Terra em seu eixo. Isso determina a quantidade de energia recebida pela Terra em diferentes estações.
A longo prazo – em ciclos de 21 mil anos -, a precessão influencia a variação sazonal do clima. Isso, por sua vez, controla a intensidade do Sistema de Monção Africano.
Há 800 mil anos, esse fenômeno resultou em verões mais quentes no Hemisfério Norte e intensificou a força das monções africanas. Então, aumentou a precipitação no Saara, influenciando o espalhamento da vegetação de savana pelo que antes era deserto.
Pausa durante as eras glaciais
Os resultados também indicam que esses momentos verdes foram interrompidos durante as eras glaciais. Isso aconteceu porque lençóis de gelo cobriam grande parte da superfície na região.
Dessa forma, eles resfriaram a atmosfera e suprimiram a tendência do Sistema de Monção Africano a se expandir.
“O portão estava aberto quando o Saara estava verde e fechado quando os desertos prevaleciam. Essa alternância de fases úmidas e áridas teve grandes consequências para a dispersão e evolução de espécies na África”, Miikka Tallavaara, autor do estudo.
Por isso, os pesquisadores consideram a descoberta e o novo modelagem climática uma grande conquista para entender a evolução dos seres humanos na África.