Covid longa está ligada a dano duradouro na mitocôndria, a ‘fábrica’ de energia das células
Texto: Maria Fernanda Ziegler | Agência FAPESP
Estudo internacional em Science Translational Medicine revela que o vírus da COVID-19 pode prejudicar em diversos tecidos do organismo a função da mitocôndria – a “usina” de energia das células –, criando um efeito global e prolongado em todos os órgãos do infectado.
“A disfunção mitocondrial provocada pelo SARS-CoV-2 se mantém conservada, mesmo quando o vírus é eliminado. Isso configura mais um efeito sistêmico da doença. Neste trabalho, verificamos que o processo ocorre em vários tecidos do organismo, não só nas células do sistema imune [monócitos] ou apenas no pulmão, como se imaginava inicialmente. A disfunção mitocondrial pode ocorrer em todo o organismo e, entre as consequências, está o aumento da resposta inflamatória em pacientes graves”, explica , professor do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (IB-Unicamp).
A investigação que deu origem ao artigo foi desenvolvida no âmbito do consórcio COVID-19 International Research Team, que reúne pesquisadores de diferentes centros dos Estados Unidos, Coreia do Sul, Dinamarca, Paraguai e Brasil. Os trabalhos são financiados sobretudo pelo National Institutes of Health (NIH, dos Estados Unidos). Este estudo em específico é a continuação de uma investigação iniciada no ano de 2020, com da FAPESP, na qual a equipe da Unicamp, liderada por Moraes-Vieira, descobriu que a COVID-19 poderia gerar disfunções na mitocôndria. Contudo, ainda não estava comprovado que se tratava de um problema generalizado (leia mais em: ).
Energia roubada
Mas o efeito sistêmico de inibir a função mitocondrial não para por aí. “Observamos que, mesmo quando o vírus era eliminado do organismo e a inibição dos genes mitocondriais no pulmão havia cessado, a expressão desses genes mitocondriais no coração, rim, fígado ou nos gânglios linfáticos permanecia prejudicada, levando potencialmente à patologia grave da COVID-19. Acreditamos também que essa inibição dos genes mitocondriais possa estar relacionada com a chamada COVID longa quando não há mais vírus. O paciente está curado da doença, mas alguns sintomas e sequelas persistem”, comenta Moraes-Vieira, que também é pesquisador do Experimental Medicine Research Cluster (EMRC) e do (), um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) da FAPESP na Unicamp.
O estudo Core mitochondrial genes are down-regulated during SARS-CoV-2 infection of rodent and human hosts pode ser lido em: .