Foram observadas as amostras fecais de dois grupos de 131 voluntários, divididos entre aqueles que foram infectados pelo vírus da Covid-19 anteriormente e os que não tiveram a doença, verificando maior número de bactérias resistentes nas fezes no primeiro grupo. As pessoas que se voluntariam já estavam sem traços do vírus da Covid-19 e não tiveram casos graves da doença ou associados a hospitalizações.
Angelica Vieira, pesquisadora do Departamento de Bioquímica e Imunologia da UFMG e líder da pesquisa, explica que, “a origem do aumento da resistência bacteriana é incerta, podendo estar ligado ao uso excessivo de antibióticos sem prescrição ou à própria infecção pelo vírus”.
Para comprovar os dados, camundongos livres de germes receberam amostras de fezes humanas – coletadas meses após os voluntários terem tido Covid-19. Os animais manifestaram sintomas como baixa cognição, perda da memória, mudança da fisiologia intestinal e inflamação pulmonar, que comprometeu a resposta imune do pulmão desses camundongos na defesa subsequente a uma infecção bacteriana pulmonar. Já essas mesmas alterações, quando comparadas, não foram observadas nos camundongos que receberam fezes de pessoas que não tiveram Covid-19.
Antes da pandemia, os efeitos da má alimentação no aumento da resistência a antibióticos já era tema de estudo do grupo de Vieira. O intestino, na condição de reservatório desses microrganismos, já era olhado com atenção. O trabalho agora reforça a importância de conter o avanço das superbactérias no contexto da Covid-19. “A Covid-19 está acelerando outra pandemia que já estava prevista, a de organismos microbianos resistentes, como as superbactérias”, explica Vieira.
Tanto a canja rica em alimentos nutritivos das vovós quanto o alimento rico em fibras que trouxer melhor qualidade de vida é bom para nossa saúde, afinal, “entender os mecanismos de disseminação de bactérias resistentes nos ajuda a pensar em estratégias terapêuticas que mantêm a nossa microbiota benéfica que vive no nosso intestino e ajuda a ter uma imunidade e qualidade de vida bem melhor”, completa a pesquisadora.
Futuros estudos do grupo da UFMG devem seguir investigando as sequelas pós-Covid na microbiota humana, mas o fato é que a adoção de padrões alimentares mais saudáveis – rica nutricionalmente e que aquecem ou confortam – como forma de prevenir ou reverter os sintomas da infecção são um caminho para uma vida mais saudável.