Corinthians e Santos em má fase: ciência ensina a lidar com pressão por resultado

Estudo feito na Espanha analisa como a resiliência afeta os jogadores em momentos ruins, além de sugerir maneiras de superar o problema. Saiba detalhes e veja como seu time do coração pode superar a má fase
Como os times lidam com a pressão no futebol
Imagem: Agência Corinthians
Crise, vexame e jejum. Em algum momento da vida, todo torcedor de futebol já relacionou essas palavras com seu time de coração. Atualmente, mesmo clubes grandes, como Santos, Vasco e Corinthians, convivem com a má fase em campo e até com o temido fantasma do rebaixamento. E parece que quanto mais próximo do fim do campeonato, pior o time joga.

Para entender como a pressão por resultados atinge os clubes de futebol, um publicado em dezembro de 2022 ajudou a colocar luz sobre o tema.

A pesquisa em conjunto da Universidade de Extremadura (Espanha) e a Universidade de Bath (Inglaterra) foi realizada com 676 jogadores de 15 a 42 anos (sendo 530 homens e 146 mulheres) de 64 equipes semi-profissionais na Espanha. A ideia principal era analisar em dados como a resiliência pode ajudar times a superarem fases ruins em torneios. Para definir a resiliência de uma equipe, o estudo dividiu o tema em quatro conceitos fundamentais:
  • estrutura do grupo (figuras de liderança e comunicação entre colegas);
  • aprendizado (conhecimento adquirido após situações negativas);
  • capital social (percepção de suporte emocional entre os colegas);
  • e eficácia coletiva (confiança nos colegas em momentos de adversidade).
Primeiramente, eles entregaram um questionário aos atletas com a pergunta principal “No mês passado, quando meu time estava sob pressão…” e 20 itens para responder, do tipo “a equipe conseguiu superar problemas trabalhando em conjunto” ou “o time não aguentou a pressão em momentos importantes”.

Assim, cada item deveria ter uma das nove opções marcadas, que iam de “discordo totalmente” até “concordo totalmente”.

O que o estudo concluiu

A conclusão foi que quanto mais características de resiliência uma equipe tem, melhor o desempenho coletivo e individual dentro de campo. Segundo os autores da pesquisa, a hipótese mais provável é que um grupo que consegue se apoiar um nos outros em momentos adversos permite que seus jogadores atuem de forma mais confiante. Em contrapartida, equipes mais vulneráveis à pressão tiveram atletas jogando pior tanto individualmente quanto coletivamente. Porém, no mesmo estudo, foi verificado que esses atletas não se viam como parte das causas da vulnerabilidade, o que tende a agravar a crise.

Como superar a crise em campo

Diante dos resultados, os autores do estudo sugerem algumas práticas para superar crises dentro de campo. A primeira delas é identificar elementos que possam estar aumentando a vulnerabilidade à pressão dentro do time, como dificuldade de comunicação entre jogadores e a formação de “panelas” no elenco. Depois, a comissão técnica pode desenvolver métodos para aumentar a resiliência da equipe. Uma delas é criar desafios ao elenco com consequências positivas e negativas. Dessa forma, quanto mais acostumados a resolver problemas, melhor será o poder de adaptação do elenco frente a adversidades. Também é importante criar momentos de reflexão em grupo, de maneira que os atletas encontrem maneiras de superar a crise.

Efeito Leicester no futebol

Nesse sentido, um caso que ficou famoso recentemente é a do Leicester City. Na temporada 2015-2016, o clube inglês vivia grande fase, mas sofria muitos gols. O então técnico Claudio Ranieri propôs um desafio ao elenco: se não tomassem gol no jogo seguinte, ele iria pagar pizzas para todos. Resultado: o time não sofreu gol, ele cumpriu o combinado e o desempenho só melhorou. Ao fim daquela temporada, o Leicester City foi campeão da Premier League em uma das maiores zebras da história da competição. Os autores, porém, apontam que o estudo tem algumas limitações. A começar, foi feito apenas com clubes de futebol espanhóis e é preciso levar em conta as diferenças culturais de cada país. Outra questão é que o levantamento não conseguiu pegar uma temporada inteira, em que naturalmente haveria diferenças na maneira como a pressão afeta os atletas. Por isso, os autores admitem que o estudo é apenas uma base para que novas pesquisas sejam feitas sobre o tema.

Igor Nishikiori

Igor Nishikiori

Formado em Jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero. Já passou pelas redações da Editora JBC, São Paulo Shimbun, Folha de S. Paulo e Portal R7. Prefere o lado alternativo das coisas, de música a futebol.

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