Como um bicho preguiça brasileiro está mudando a história da arqueologia
Descoberta brasileira sobre o uso de ossos de preguiça joga luz sobre a data em que os humanos chegaram nas Américas
Uma descoberta no Brasil tem feito os arqueólogos questionarem o que sabemos sobre os primeiros habitantes das Américas. Os cientistas encontraram ossos de preguiça de 27 mil anos transformados por humanos em pingentes.
Além da descoberta brasileira, pesquisadores encontraram pegadas humanas fossilizadas no Novo México em 2021. Essas pegadas têm uma datação de 21 mil a 23 mil anos, o que reforça a hipótese de que os humanos chegaram à América do Sul antes do que se pensava.
Entretanto, é necessário estudar muitos sítios arqueológicos na América do Sul, o que indica que o debate sobre esse tema ainda está longe de ser concluído.
No último mês, a pesquisa publicada na revista científica revelou a descoberta de artefatos no Abrigo de Santa Elina. Este abrigo rochoso é situado na Serra das Araras, no Mato Grosso.
Os pingentes encontrados têm uma estimativa de idade entre 25 mil e 27 mil anos. Os humanos modernos habitaram os outros continentes antes das Américas do Norte e do Sul, levantando dúvidas sobre o momento exato da chegada deles.
Antes da descoberta brasileira, acreditava-se que os humanos chegaram nas Americas entre 13 mil e 12 mil anos atrás. Isso torna estes ornamentos pessoais encontrados agora os mais antigos do continente.
No artigo, os estudiosos afirmam que a conclusão do nosso estudo traceológico é que eles intencionalmente modificaram os três osteodermos da preguiça gigante em artefatos antes da fossilização dos ossos
O nível de detalhes das peças chamou atenção. Além disso, marcas microscópicas revelaram que alguém poliu as peças. Esses indícios tornam improvável que uma espécie que não seja o Homo sapiens tenha feito os buracos.
A autora sênior do estudo, Mírian Pacheco, professora e pesquisadora do Laboratório de Paleobiologia e Astrobiologia da Universidade Federal de São Carlos, compartilhou com a CNN que os artefatos “apresentam uma forma muito sugestiva de pingentes, principalmente devido ao polimento e à localização do furo.”
Estudado desde os anos 80
Muitos brasileiros desconhecem, mas arqueólogos estudam o abrigo rochoso de Santa Elina desde 1985. Pesquisas anteriores no local revelaram mais de mil figuras e sinais desenhados nas paredes.
Além disso, pesquisadores encontraram centenas de ferramentas de pedra e milhares de placas ósseas de preguiça. A última descoberta inclui três dessas placas com evidências de interferência humana.
Com esses indícios, poderemos no futuro consolidar a hipótese de que os humanos chegaram às Américas durante o Último Máximo Glacial. Esta foi a fase mais fria da última Era do Gelo.