Como se forma a voçoroca, buraco de 80m que engoliu militar no Maranhão
O policial aposentado José Ribamar Silveira ficou ferido depois que o carro que dirigia caiu em uma voçoroca de 80 metros de altura em Buriticupu, cidade ao nordeste do Maranhão, na última terça-feira (2).
Esse não é um caso isolado: as chamadas voçorocas de Buriticupu “engolem” parte do município de 73 mil habitantes há pelo menos 30 anos. Três ruas e mais de 50 casas já foram soterradas nas crateras que não param de crescer.
O termo voçoroca tem origem no tupi-guarani e significa “terra rasgada”. É o que acontece na cidade maranhense: de janeiro a junho, quando chove na região, as chuvas “rasgam” o solo e abrem fendas tão profundas que alcançam o lençol freático.
É um caso diferente, mas assim como o buraco gigante do Chile, a voçoroca também é um reflexo da exploração desenfreada de recursos naturais. Enquanto no Chile o buraco foi uma consequência da mineração, a abertura das crateras de Buriticupu veio após anos de desmatamento.
É exatamente como acontece: grandes buracos de erosão causados pela chuva são maiores e mais prejudiciais em solos onde há escassez de vegetação.
Solo desprotegido
A falta de vegetação faz com que o solo fique sem proteção, ganhe aspecto de cascalho e se torne mais suscetível a enxurradas. De modo geral, o processo de erosão acontece em três etapas. São elas:
- A água da chuva que cai no solo compacta a terra e, ao mesmo tempo, desagrega parte de sua estrutura
- Em seguida, partículas do solo se movem para longe do local de origem
- Por fim, quando não há mais “força” de transporte, há a deposição desse solo que saiu de um local e foi para outro. O mais comum é que o acúmulo ocorra nas partes mais baixas do relevo, córregos, rios e represas.
Assim, toda vez que chove, os buracos aumentam. Por isso o fenômeno geológico precisa ser contido logo no início, caso contrário chega a níveis desastrosos. Buriticupu, por exemplo, já registra voçorocas com quase 300 metros de comprimento. Ao todo, são 26 crateras do tipo na cidade.
Além do desmatamento, outro motivo para a formação desses enormes buracos é a ocupação desordenada, relevo e solo arenoso, como disseram especialistas ao .
Consequências das voçorocas
De modo geral, as voçorocas estão longe de ser um bom sinal. Além do risco de acidentes, essas crateras transformam todas as áreas atingidas em locais de baixa fertilidade natural.
Além disso, causam o endurecimento da camada superior dos solos, o que forma crostas e diminui a infiltração da água da chuva, o que aumenta a chance de inundação e desmoronamento de encostas.
A consequência é uma constante insegurança local à população, que passa a viver sob ameaça de tragédias constantes. Pelo menos cinco pessoas já morreram em episódio de chuvas que abriram crateras na cidade.
“Ninguém dorme de noite aqui”, contou o morador Carlos Martins à , em março. “É a noite todinha acordado, escutando só o barranco cair”. No momento, pelo menos 180 famílias estão em locais de risco.