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Como foi a aventura da 1ª clínica transgênero do Johns Hopkins nos anos 60 e 70

Em meio à pressão política, a 1ª clínica para cirurgias em pessoas transgênero do Hospital Johns Hopkins operou de 1962 a 1979. Confira essa história que voltou à tona por meio de um novo estudo

Como foi a aventura da 1ª clínica transgênero do Johns Hopkins nos anos 60 e 70

Imagem: Hospital Johns Hopkins/Facebook/Reprodução

Um da Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins, publicado na segunda-feira (3), mostrou que a primeira clínica criada para atender pessoas transgênero nos EUA foi fechada por pressão política, em 1979.  

É um motivo bem diferente do que era conhecido até hoje. No final da década de 1970, o Hospital Johns Hopkins, um dos maiores do mundo, disse que a decisão de fechar as clínicas tinha base em evidências de que as cirurgias transgênero “não beneficiavam os pacientes”. 

A clínica surgiu em 1962 como um serviço inédito ao oferecer as chamadas cirurgias de afirmação de gênero. Na década seguinte, pelo menos vinte centros parecidos começaram a operar nos EUA. 

O estudo, liderado pelo estudante da instituição Walker Magrath, encontrou anos de correspondência e notas arquivadas nas Universidades Johns Hopkins e Harvard. Ali, estavam retratos da resistência da liderança do hospital em continuar o serviço às pessoas transgênero

“É importante para o Johns Hopkins, como instituição, considerar sua história prejudicial com pacientes LGBTQ”, afirmou Magrath. Por causa da decisão, o hospital deixou de oferecer cirurgias aos pacientes transexuais por décadas. Em 2017, o Johns Hopkins para esse público. 

Efeito dominó 

O estudo mostra que, depois do fechamento da clínica do Johns Hopkins, várias outras dos EUA começaram a fechar também. Até a década de 1990, apenas três continuavam funcionando no país. 

Não foi por acaso. A pesquisa encontrou documentos que mostravam o preconceito e estigma com que a direção do hospital recebia a clínica. Alguns médicos tinham clara intenção de interromper as cirurgias transgênero. 

Em alguns registros, médicos classificam os pacientes transgênero como “histéricos”, “esquisitos” e “artificiais”. Anos antes do fechamento, um dos profissionais pede que a clínica saia do departamento de cirurgia, o que a privou de muitos recursos. 

Como consequência, os médicos começaram a operar com o departamento de obstetrícia – uma ala superlotada e com dificuldades financeiras. 

Métodos questionados 

Quando a clínica para pessoas transgênero fechou, ficou a história de que o Hospital Johns Hopkins “concluiu sua pesquisa” sobre o assunto e que as cirurgias não ofereciam “vantagem para reabilitação social” dos pacientes. 

Até hoje, membros da comunidade acadêmica questionam os métodos que levaram a essa conclusão. O estudo publicado na segunda (3) mostra que os pacientes analisados na pesquisa para fechar o centro foram os atendidos nos primeiros dias de trabalho. 

No começo, as técnicas cirúrgicas eram incipientes, o que dificultou a recuperação de alguns casos. Ainda assim, a clínica nunca recebeu qualquer financiamento para fazer sua própria pesquisa de acompanhamento. 

“Os estudos são frequentemente usados para alimentar agendas políticas”, disse Magrath . “A ciência pode, muitas vezes, passar por manipulação e vemos isso em nossa sociedade moderna”. 

Marginalização 

Historicamente, comunidades marginalizadas, como pessoas transgênero e não-binárias, não recebem atendimento adequado, escreveu Alex Keuroghlian, coautor de um , onde o artigo foi publicado. 

Segundo ele, os médicos da clínica do Johns Hopkins não tinham treinamento para atender esse público – um problema que persiste até hoje. Por isso, é urgente que as instituições líderes tenham mais responsabilidade ao oferecer definições, visto que ajudam a determinar o padrão para os cuidados de saúde. 

“Se nossos grandes hospitais com bons recursos não derem o exemplo de atendimento aos marginalizados, e não liderarem a saúde com equidade e justiça social, então ninguém fará isso”, afirmou Keuroghlian. 

Questionado, o Hospital Johns Hopkins afirmou que a instituição apoia que seus colaboradores compartilhem suas perspectivas. Mas não dá créditos ao artigo de Magrath. “Representa apenas a opinião pessoal”, disse em comunicado à Stat.

A instituição disse ainda que oferece tratamento às pessoas transgênero com base na Associação Profissional Mundial para Saúde Transgênero. 

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