Como a menina internet fez da Copa um sucesso
INVASÕES GRINGAS:
CORAÇÕES ALADOS:
Não é exagero dizer que essa mistura fez a coisa toda dar certo. Você se lembra daquele passado distante, do começo de junho deste ano? Quanto mais a Copa se aproximava, mais desconfiadas as pessoas ficavam: será que vai dar certo? E esse monte de obra inacabada? Qual será o reflexo das manifestações de junho do ano passado no evento? A verdade é que poucos dias antes da cerimônia de abertura ainda tinha gente dizendo “Imagina na Copa” e duvidando se ia, de fato, ter Copa (o que é uma contradição em termos: dizer imagina na Copa e, em seguida, que não vai ter Copa; o brasileiro é uma criatura maravilhosa). Mas está tendo. Está tendo muita Copa e já tem gente dizendo que queria que tivesse duas. Muita gente.
Claro que as coisas não foram perfeitas: tivemos aquela abertura meio chumbrega (até agora não estou lidando bem com o fato de que havia coisas parecidas com dançandinho), teve o exoesqueleto do Nicolelis lançado no maior estilo piscou-perdeu, teve gente que comprou ingresso pra ver o jogo no estádio e teve manifestações reprimidas com violência pela polícia. Teve um monte de coisa que a gente não imaginou, mas aconteceu.
2010, um passado distante
Em 1994, ainda não tinha internet comercial no Brasil. Em 1998, os sites eram aquelas coisas brilhantes, como essa mostra bem. Em 2002, ainda tinha gente que se perguntava se a internet abria aos domingo (é verdade; meninos, eu vi). Em 2006, já tinha gente cravando: esse negócio de internet ainda vai ser grande no Brasil (ainda capengava, é vero). Em 2010, o negócio começou a ter charme pra dançar bonito.
Na última Copa, nós já tínhamos o Twitter e o Facebook (e, claro, o Orkut, saudades, já). Mas eles ainda eram meio nichados, um clube de descolados. Em 2014, não. A Copa deste ano é a primeira em que a Web 2.0, colaborativa e aberta, já está completamente consolidada. Afinal, é o Mundial em que praticamente metade dos 200 milhões de brasileiros estão conectados à internet, em casa ou no trabalho (os números sempre variam, de acordo com o instituto e a medição). Em 2010, era pouco mais de 40%. É mais gente sabendo usar melhor as ferramentas. É uma multidão que já sabe como produzir seu próprio gif animado — aliás, uma das categorias de zoeira que mais cresceram nos últimos anos.
TWITTER FORA DE CONTROLE:
Assim, a cobertura da Copa 2014 está sendo feita não só pela imprensa, mas basicamente por todo mundo que tem internet e está vendo os jogos. Então você pode acompanhar a Copa pelos grandes sites de jornalismo, mas também pela timeline das suas redes sociais. E isso acaba criando uma Copa para todos os gostos. Da informação à zoeira, passando por sósias, tem de tudo um pouco – e mais um bocado. Até porque uma parte da imprensa abraçou a zoeira ou cresceu na zoeira, como o Buzzfeed. Porque não se trata só de uma cobertura factual. A abordagem que um jornalista tradicional vai usar para cobrir os jogos, as festas nas cidades sede e a gringaiada aprontando de tudo aí pela rua vai ser bem diferente da daquele seu amigo que está lá no meio do negócio com um celular na mão fotografando tudo de acordo com a sensibilidade dele — ou com a falta de sensibilidade dele. Assim como os textos analíticos sobre a Copa serão bem diferentes daqueles que vão aparecer na sua timeline escritos pelos seus amigos que só descobrem o futebol a cada quatro anos. Embora todo mundo reclame da quantidade de lixo que vive aparecendo nas timelines, às vezes o pessoal se esmera e saem umas coisas maravilhosas, que nunca seriam escritas por jornalistas, porque não é aquele enfoque que eles estão procurando. Tipo sua prima perguntando “por que pênalti não tem barreira?” e um colega dela, malaco, fazendo analogias sexuais para responder à questão. Ou o seu pai cornetando o cabelo do Neymar dia sim e no outro dia também e recebendo um tratado antropológico do filho de um amigo sobre o cru, o cozido e a identidade no Brasil contemporâneo. Uma parte fundamental do trabalho da imprensa vem sendo captar esse espírito e trazê-lo para a cobertura – com mais e menos sucesso.O peso do humor
Quase todo mundo quer ser engraçado nas redes sociais. Elas são o lugar em que o cara popular e bonitão da escola, se não for engraçado, vai ficar no cantinho, calado, porque não tem ESPÍRITO para participar do grande debate do humor globalizado. Assim, nessa Copa, em particular, estamos tendo uma produção prodigiosa de memes (e ) que estão fazendo até quem não gosta ou não entende nada de futebol dar umas boas risadas com a coisa toda. Tem que ser muito coração peludo e detestar futebol com o fogo de mil sóis para não soltar pelo menos um sorrisinho vendo ou para não dar risada com as montagens que as pessoas fazem correndo na hora do jogo mesmo. E tem humor para todos os gostos.
PROVA DOS DEZ:
De acordo com as estatísticas do Facebook e do Twitter, o último jogo do Brasil provocou um estouro nas redes sociais (além de um semi-infarto do miocárdio em todo mundo que estava assistindo): durante a transmissão do jogo do Brasil contra o Chile, rolaram 16, 4 milhões de tuítes sobre o jogo, com uma média de 388.985 tuítes por minuto. Essa marca superou o recorde global de tuítes por minuto, que era do SuperBowl desse ano. No Facebook, 31 milhões de pessoas — sendo 11 milhões de brasileiros — se mobilizaram para falar sobre a partida num total de 75 milhões de interações, entre likes, compartilhamentos e comentários. A mobilização por conta da Copa no Facebook bateu o recorde de 1 bilhão de usuários. No Instagram, as imagens do jogadores da Seleção Brasileira tiveram 52 milhões de curtidas. Isso são mais de 400 Maracanãs lotados. Imagina o que não vai rolar na final.
Se para quem entende de futebol essa Copa está sendo maravilhosa por conta do futebol de qualidade, para quem não manja nada a Copa está sendo uma delícia porque é a Copa da Zueira. E o Orkut, enquanto ainda temos tempo de acessá-lo, está aí para confirmar: – com uma smartphone na mão então, amigos… !