Com bolsas de doutorado insuficientes, instituição britânica recomenda que estudantes vendam Avon

Com bolsas de doutorado insuficientes, pesquisadores estão sendo incentivados a vender produtos de beleza e passear com cães para ganhar dinheiro extra
Bolsas de doutorado - Na imagem, é possível ver uma cientista segurando amostras dentro de um laboratório.
Imagem: CDC/Unsplash/Reprodução

Pesquisadores britânicos receberam um conselho bastante inusitado após reclamarem dos valores baixos das bolsas de doutorado oferecidas no projeto ARIES Doctoral Training Partnership. Em comunicado, membros do programa recomendaram que os cientistas para complementar a renda. 

Outras atividades também foram sugeridas, como o oferecimento de passeio para cães ou mesmo a participação em ensaios clínicos remunerados. Tudo isso sob a justificativa de que os alunos não podem encontrar outros trabalhos que tomem mais de seis horas diárias, pois isso atrapalharia seu desempenho acadêmico.

Os pesquisadores da Universidade de East Anglia, na Inglaterra, descreveram a carta como “terrível”, “ridícula” e “inacreditável”. Para ter uma ideia, os estudantes do programa de doutorado recebem o valor de £ 15.600 por ano (cerca de R$ 101,4 mil). A quantia fica abaixo do salário mínimo anual do Reino Unido, (cerca de R$ 113,07 mil).

O ocorrido está sendo revisado pelo UK Research and Innovation (UKRI), o principal programa de financiamento científico do país. Jenni Barclay, diretora do projeto de pós responsável pela carta, disse que o objetivo do comunicado era fornecer conselhos práticos como medida provisória enquanto as autoridades tentam melhorar a resposta global a esse problema para os alunos.

Bolsas de doutorado no Brasil

Esse não é um problema exclusivo dos cientistas europeus. No Brasil, é possível obter bolsas de pós-graduação através do Conselho Nacional de Pesquisas (CNPq) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), mas o valor deixa a desejar.

Os alunos de doutorado recebem mensalmente uma remuneração de R$ 2.200. O auxílio não sofre reajustes desde 2013, o que desincentiva os universitários a seguir na carreira acadêmica após o final da graduação. 

 

No início de 2022, foi proposto o Projeto de Lei 4144/21, que dos valores das bolsas de estudo e dos auxílios destinados à pós-graduação e à pesquisa científica, no máximo a cada dois anos e de acordo com o índice oficial de inflação (IPCA).

Paulo Teixeira, autor do texto e deputado pelo PT, disse em nota que “a política de bolsas de estudo e auxílios é essencial para consolidação da ciência nacional, que necessita recompor-se das sérias ameaças às quais foi submetida nos últimos anos”. O projeto segue em tramitação.

Carolina Fioratti

Carolina Fioratti

Repórter responsável pela cobertura de saúde e ciência, com passagem pela Revista Superinteressante. Entusiasta de temas e pautas sociais, está sempre pronta para novas discussões.

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