Com ajuda de inteligência artificial, pesquisadores querem “conversar” com baleias
Ao que parece, estaremos aptos a conversar com seres aquáticos muito antes de encontrarmos vida fora da Terra. O (sigla em inglês para Iniciativa de Tradução de Cetáceos) quer decifrar a linguagem das baleias cachalotes — começando por ouvi-las atentamente.
Este tipo de tentativa teria parecido loucura há poucos anos. Apesar disso, uma equipe de especialistas em linguística, robótica, machine learning, engenharia de câmaras e mais uma série de pesquisadores trabalham na construção de dispositivos especializados para a gravação de áudio e vídeo.
Tudo começou em 2017, quando Shafi Goldwasser, cientista da computação e especialista em criptografia de Israel, foi ao escritório de David Gruber, biólogo marinho da Universidade da Cidade de New York. Goldwasser ouviu uma série de cliques que a lembraram do ruído que um circuito eletrônico defeituoso faz — ou um código Morse.
Gruber teria dito que esse é o som que os cachalotes fazem entre si. “’Talvez devêssemos fazer um projeto em que a gente traduza os sons das baleias em algo que nós, como humanos, possamos entender’”, foi a resposta de Goldwasser. Foi como à Hakai Magazine.
Os investigadores do CETI já passaram um ano desenvolvendo uma grande variedade de sensores subaquáticos sofisticados e de alta resolução, que irão registar o som 24 horas por dia em boa parte da área de estudo de baleias. Três destes sistemas de escuta, cada um preso a uma boia na superfície, vão ficar suspensos várias centenas de metros até ao fundo, com hidrofones a cada centena de metros.
Mas uma dúvida que perdura há décadas é se os animais têm, de fato, uma linguagem. Nós treinamos cães para responderem aos nossos comandos, e os golfinhos aprenderam a imitar os assobios humanos. Bem como alguns chimpanzés e gorilas também usam a linguagem gestual.
As pesquisas sobre comunicação animal estão cada vez mais avançadas com a ajuda da inteligência artificial. Em 2016, com ajuda do machine learning, cientistas entre os sons dos morcegos Rousettus aegyptiacus que disputavam comida e os que lutavam para conseguir um local de descanso.
Michael Bronstein, pesquisador israelense que faz parte do projeto CETI, explicou ao Gizmodo US que os “cliques” das cachalotes são candidatos ideais para terem seus significados decodificados — não apenas porque, ao contrário dos sons contínuos que outras espécies de baleias produzem, eles são fáceis de traduzir em uns e zeros [a linguagem binária, interpretada pelo computador].
Como esses animais mergulham no fundo do oceano e se comunicam a grandes distâncias, não podem usar a linguagem corporal e as expressões faciais, que são importantes meios de comunicação para outros bichos. Segundo ele, é realista presumir que a interação das baleias é principalmente acústica.
Ainda assim, mesmo que a ideia de captar os sons funcione, há vários desafios pela frente. Para nós, humanos, a tradução automática é possível em parte porque as associações de palavras geralmente são semelhantes entre os idiomas. Com as baleias, no entanto, a grande questão seria saber se alguma destas coisas faz sentido.
Gruber receia que um dos maiores riscos disso tudo é que as baleias possam trocar papos incrivelmente enfadonhos. Mas Bronstein parece otimista. “Eu acho muito arrogante pensar que o Homo sapiens seja a única criatura inteligente e sensível na Terra”, disse à reportagem.
Os cientistas esperam que se a estrutura das vocalizações dos cachalotes se tornar mais clara, a equipe poderá tentar se comunicar com as baleias – não para manter um diálogo entre espécies, mas para ver se as baleias respondem de forma previsível.
Além disso, Bronstein espera que se conseguirmos entender como esses animais se comunicam, talvez possamos mudar a maneira como tratamos o meio ambiente.