Tecnologia
Cientistas usam blockchain para estudar origem da vida em supercomputador
Supercomputador -- composto por cerca de 20 mil computadores conectados em blockchain -- tenta responder perguntas sobre a origem da vida
Imagem: Unsplash/Reprodução
A tecnologia blockchain serve para não só minerar criptomoedas, como também fazer pesquisas científicas. Uma equipe de cientistas aproveitou esse potencial e criou uma super rede de computadores capaz de investigar a origem da vida na Terra.
Criada por um time de químicos, a máquina baseada em blockchain revelou que certos processos metabólicos primitivos aconteciam sem envolver enzimas ou proteínas catalisadoras. No metabolismo humano, por exemplo, os dois elementos são necessários para transformar alimentos em energia.
Em análises químicas, quanto mais antigo for o objeto de estudo, maior será a quantidade de reações possíveis entre moléculas para analisar. No caso de estudos da Terra primitiva, os cientistas precisam verificar mais de 11 bilhões de possibilidades para chegar a alguma conclusão.
Somente uma máquina com poder computacional gigante consegue lidar com tantas permutações. Além disso, não é nada fácil adquirir um computador com desempenho suficiente para certas tarefas. Aliás, pode ser que ele nem exista ainda.
Para driblar essa limitação, a equipe de cientistas liderada por Bartosz Grzybowsk — membro do Instituto de Ciência Básica da Coreia e da Academia de Ciências da Polônia — criou o supercomputador intitulado Golem.
Supercomputador realiza cálculos em blockchain
O Golem é uma plataforma de mineração de criptomoedas que realiza diversos cálculos em mais de 100 computadores espalhados pelo mundo. Em troca por cederem o tempo de computação, os donos das máquinas recebem quantias de criptomoedas.
Em outras palavras, os cientistas “alugam” vários computadores voltados para mineração de ativos digitais. Entretanto, em vez de usar as máquinas para acumular criptomoedas para enriquecer, eles realizam análises químicas de grande demanda computacional.
Em entrevista ao site , Grzybowsk explicou o seguinte:
“O Golem permite que você obtenha poder de computação em troca de criptomoedas. Assim, eu poderia alugar o tempo ocioso do seu computador. Estávamos procurando uma maneira de aumentar nossa capacidade computacional, e este é um esquema de computação a nível mundial no qual tivemos milhares de pessoas cooperando conosco e nos garantindo o uso de cerca de 20.000 computadores ao redor do globo”.
Bartosz Grzybowsk, cientista-chefe do Instituto de Ciência Básica da Coreia e da Academia de Ciências da Polônia. Grzybowsk ainda acredita que o Golem pode ser utilizado por pesquisadores de outras áreas para executar imensidões de cálculos matemáticos. Com isso, o cientista ainda espera mudar a opinião da sociedade em relação à blockchain e a critptomoedas.
“Há muitos cientistas que não têm o privilégio de ter seu próprio supercomputador. Eles podem se conectar a uma plataforma como o Golem distribuída por todo o mundo e ter esse tipo de recursos à disposição. Talvez a sociedade possa ficar mais feliz com o uso de criptomoedas se você disser às pessoas que, no processo, podemos descobrir novas leis da biologia ou algum novo medicamento contra o câncer”.
Bartosz Grzybowsk, cientista-chefe do Instituto de Ciência Básica da Coreia e da Academia de Ciências da Polônia. Como o Golem ajuda a estudar a origem da vida na Terra
Por meio do Golem, os cientistas criaram a Rede da Primeira Vida (NOEL). Essa rede contém moléculas iniciais – ou seja, moléculas que provavelmente estiveram presentes na Terra primitiva há cerca de 4 bilhões de anos, incluindo água, metano e amônia.
Em seguida, os pesquisadores analisaram as 11 bilhões de reações possíveis e reduziram o número para 4,9 bilhões de reações mais fáceis de gerenciar. Mesmo assim, a NOEL representa uma rede 100 mil vezes maior que a analisada pela equipe em uma pesquisa passada sobre a origem da vida, publicada em 2020.
Entre as reações possíveis na NOEL, há algumas vias metabólicas. No corpo humano, por exemplo, a glicólise é uma via metabólica na qual moléculas de glicose são decompostas em duas estruturas menores para produzir energia.
Já outras reações encontradas são parecidas com o ciclo de Krebs, usado por seres vivos para gerar energia no processo de respiração celular. Os cientistas também encontraram reações capazes de sintetizar moléculas orgânicas, como açúcares e aminoácidos.
A NOEL ainda mostrou que, entre as bilhões de reações geradas, apenas em algumas centenas as moléculas criavam cópias de si. Até então, acreditava-se que esse processo de autorreplicação de moléculas era o principal fator para o surgimento de vida na Terra.