Quanto mais os cientistas alcançam o mesmo resultado, mais robusto ele fica. O outro lado da moeda é que há razão para ceticismo quando um único grupo afirma ter feito uma descoberta baseada em apenas uma observação.
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Uma das grandes manchetes desta quinta-feira foi o anúncio de que cientistas haviam conseguido um feito que vinham tentando há mais de 80 anos: transformar hidrogênio em um metal. Mas outros cientistas estão expressando suas dúvidas sobre as alegações dos pesquisadores.
A observação foi feita por uma equipe de pesquisadores de Harvard, quando eles estavam esmagando hidrogênio entre diamantes, sob temperaturas pouco acima do zero absoluto (5,5º K ou -450º F). Conforme aumentavam a pressão, observaram o hidrogênio transparente ficando preto. Enfim, em uma pressão 5 milhões de vezes maior que a do ar, o hidrogênio ficou refletivo. Os pesquisadores apresentaram esse resultado como prova de que os átomos de hidrogênio haviam se agrupado em uma estrutura tridimensional normal, como um metal, reação prevista inicialmente pelos físicos Hillard Huntington e Eugene Wignerin, em 1935.
Chegar a uma forma metálica do hidrogênio seria importante não apenas por resolver um antigo mistério científico, mas também pelo potencial do material. Os autores dizem que o hidrogênio metálico seria “importante para solucionar problemas de energia e, potencialmente, poderiam revolucionar a construção de foguetes, servindo como um propulsor poderoso”, como escreveram em seu estudo , nesta quinta. Tal material seria metaestável, ou seja, permaneceria metálico mesmo que a pressão que originalmente o forçou ao estado metálico diminuísse. Isso até que outras influências externas o transformassem novamente em hidrogênio comum.
O hidrogênio metálico também teria implicações importantes na ciência planetária — teoriza-se que Júpiter tenha um núcleo de hidrogênio metálico, algo que a sonda Juno espera detectar, .
Porém, esta não é a primeira vez que cientistas afirmam ter descoberto o hidrogênio metálico. Cientistas alemães alegaram a mesma coisa em 2012 e foram recebidos com muitas críticas. Posteriormente, segundo a Nature, arrependeram-se da ousadia de seu anúncio e disseram que o estudo deveria ter dito que “” o hidrogênio metálico. Problemas similares àqueles que levaram cientistas a questionarem a descoberta alemã também estão aparecendo em torno do trabalho dos pesquisadores de Harvard.
“Acho que o estudo não é nem um pouco convincente”, disse o físico Paul Loubeyre, da Comissão de Energia Atômica da França, em Bruyères-le-Châtel, , em relação ao anúncio recente.
Os físicos entrevistados pelo periódico meio que disseram: “ok, então você está me dizendo que só porque sua amostra ficou brilhante uma vez ela é um metal? Tente de novo, queridinha”. Eles acreditam que a refletividade pode facilmente ter vindo do óxido de alumínio revestindo os diamantes agindo de maneiras diferentes sob pressão extrema.
Outros pesquisadores observaram que o grupo de Harvard fez apenas uma medição detalhada. Quantas vezes os cientistas precisam lembrar uns aos outros que descobertas não devem ser apresentadas como fatos antes que vários grupos façam repetidas medições e cheguem aos mesmos resultados?
“Se você faz uma afirmação tão grande e ousada, por que não repete o experimento?”, argumentou o físico Eugene Gregoryanz, da Escola de Física e Astronomia da Universidade de Edimburgo, em entrevista ao New York Times.
A amostra de hidrogênio ainda está em experimento, esperando por mais análises, de acordo com a Nature.
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Imagem do topo: R. Dias and I.F. Silvera