Cientistas deram ecstasy para polvos, e o resultado foi profundo
• Cinco bebês esquilos enroscaram suas caudas em um nó, mas eles já estão bem
• Quase extinta, ararinha-azul, do filme Rio, deverá ser reintroduzida na natureza brasileira em 2019
Depois de ficarem em um tanque contendo ecstasy, os animais foram levados para uma câmara com três salas para escolher: uma sala central, uma contendo um polvo macho e outra contendo um brinquedo. Esse ambiente é frequentemente usado em estudos com camundongos. Antes do MDMA, os polvos evitavam o polvo macho. Porém, depois do banho de MDMA, eles passaram mais tempo com o outro polvo, de acordo com o publicado na Current Biology. Eles também tocaram o outro polvo de uma maneira que parecia ser exploratória, em vez de agressiva.
Polvo-da-Califórnia. Foto: Tom Kleindinst
Os cientistas interpretaram isso como uma evidência de que, apesar de nossos cérebros muito diferentes, o comportamento social está dentro das próprias moléculas codificadas por nosso DNA, explicou Dölen. “Um polvo não tem um córtex e não tem um circuito de recompensas”, disse Gül Dölen, professora assistente de neurociência na Universidade Johns Hopkins, em entrevista ao Gizmodo. “E, ainda assim, ele é capaz de responder ao MDMA e produzir os mesmos efeitos em um animal com uma organização cerebral totalmente diferente. Para mim, isso significa que realmente precisamos entender que o fim comercial dessas coisas está no nível da molécula.”Você provavelmente está curioso: os polvos ficaram loucos? Os cientistas não discutiram tal comportamento no artigo, porque é difícil quantificar sem antropomorfizar os polvos — Dölen me avisou que o que vem a seguir neste texto é uma evidência anedótica, e não uma observação científica. Mas, sim, os polvos agiram como se tivessem tomado ecstasy. No início, quando recebiam MDMA em algum excesso, eles respiravam de forma irregular e ficavam brancos. Mas, em doses menores, um dos animais “pareceu estar fazendo balé na água”, nadando com os braços estendidos. Outro passou parte do tempo dando cambalhotas, e um outro parecia especialmente interessado em pequenos sons e cheiros.
“Este artigo foi tão incrível, com um resultado completamente inesperado e quase inacreditável”, disse Judit Pungor, pesquisadora de pós-doutorado da Universidade do Oregon não envolvida no estudo, em entrevista ao Gizmodo. “Pensar que um animal cujo cérebro evoluiu de forma completamente independente da nossa reage comportamentalmente da mesma forma que nós a uma droga é absolutamente incrível.” Existem limitações no estudo, é claro. Dölen apontou que sete polvos não é um número grande o suficiente para mostrar diferenças entre como machos e fêmeas reagem ao ecstasy. Ela gostaria de testar ainda mais as alterações no comportamento, assim como o que acontece se eles bloquearem o transmissor de serotonina antes de fornecer o MDMA. Tal teste convenceria Dölen de que ela estava realmente vendo os efeitos da MDMA nos transportadores de serotonina. Pungor também queria testar se a droga teria efeitos diferentes em polvos de diferentes idades, ou se a criação de um polvo mudava sua sociabilidade. Está claro que drogas psicoativas como MDMA, LSD e cogumelos mágicos estão passando por uma renascença científica — elas estão sendo estudadas como potenciais tratamento para depressão e transtorno de estresse pós-traumático. À medida que seu estigma diminui, os cientistas estão mais abertos a estudá-las, e cada vez mais financiamento de pesquisa é disponibilizado. Isso poderia ser importante para nossa compreensão dos cérebros animais e humanos. “As pessoas estão começando a reconhecer que essas drogas são ferramentas poderosas para entender como o cérebro evoluiu”, Dölen contou ao Gizmodo. “Elas são ativadores fortíssimos desses comportamentos. Não é algo sutil.” []Imagem do topo: Jim Cooke (Gizmodo)