Ciência

Cientistas do Butantan identificam molécula com potencial de combater superbactérias

Doderlina também se mostrou eficaz contra o fungo Candida albicans; ela pode ser alternativa para medicamentos contra superbactérias
Imagem: José Felipe Batista/Comunicação Butantan/ Reprodução

Pesquisadores do Instituto Butantan identificaram e sintetizaram uma molécula com capacidade de agir contra diferentes fungos e bactérias resistentes — as chamadas superbactérias. O estudo foi publicado na revista .

A molécula — batizada como Doderlina — foi extraída de uma bactéria que vive na microbiota humana, a Lactobacillus acidophilus. Dessa forma, o composto não é tóxico.

Segundo os pesquisadores, a molécula pode ser o princípio do desenvolvimento de um novo antibiótico que combata infecções resistentes.

Entenda a pesquisa

A equipe do Laboratório de Toxinologia Aplicada do Instituto Butantan já tem experiência na identificação e síntese de moléculas que agem contra microorganismos prejudiciais à saúde. Ela faz isso com base em características de organismos vivos, como veneno e sangue de animais peçonhentos e, agora, bactérias que vivem no intestino humano.

“A ideia por trás disso é que, se esses organismos vivem na Terra há milhões de anos, e mudaram muito pouco ao longo do tempo, eles têm alguma característica que os defende, que os protege. Então nós partimos dessa premissa para buscar novos compostos terapêuticos”, disse o cientista Pedro Ismael da Silva Junior, que conduziu o estudo.

Com este mesmo pensamento, conseguiram identificaram a Doderlina. Em laboratório, testaram o composto contra superbactérias que são conhecidas como multirresistentes, ou seja, que já adquiriram resistência aos medicamentos comumente utilizados e são mais difíceis de combater.

Por enquanto, a Doderlina se mostrou eficaz contra o fungo Candida albicans, causador da candidíase, e contra as bactérias Escherichia coli e Pseudomonas aeruginosa. Em geral, a primeira causa infecções gastrointestinais, urinárias e meningite neonatal. Já a segunda está associada a infecções pulmonares e do trato digestivo.

Agora, na próxima etapa, os pesquisadores devem analisar quais partes da sequência da Doderlina são mais relevantes para que a ação terapêutica aconteça. Isso diminui os riscos que seu uso pode acarretar, além de tornar a molécula mais barata e eficiente.

Avanço na ciência

A descoberta é importante porque a resistência de superbactérias e outros microorganismos a medicamentos é uma das 10 maiores ameaças à saúde pública, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde). Cerca de 1,2 milhão de mortes são causadas por bactérias resistentes a cada ano.

Dessa forma, a Doderlina pode ser uma nova alternativa para desenvolver medicamentos antimicrobianos. De acordo com os pesquisadores, ela também pode ser útil para a indústria alimentícia, com fins de evitar contaminação e tratar animais infectados.

Contudo, ainda há um longo caminho para que isso aconteça. “Agora, precisamos encontrar parceiros para desenvolver os testes e, em caso de resultados positivos, avançar à fase de testes clínicos”, informou Junior.

Bárbara Giovani

Bárbara Giovani

Jornalista de ciência que também ama música e cinema. Já publicou na Agência Bori e participa do podcast Prato de Ciência.

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