Cientistas associam hidroxicloroquina a problemas de visão
A hidroxicloroquina ganhou popularidade durante a pandemia de Covid-19. O medicamento não possui eficácia comprovada contra a doença, mas se tornou um dos símbolos deste período no Brasil devido a propagandas enganosas que circulavam nas redes sociais – endossadas, por várias vezes, por figuras de destaque, como o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Na verdade, a hidroxicloroquina é indicada para pacientes com doenças reumáticas, como o lúpus eritematoso sistêmico, e outras condições inflamatórias. Porém, ela apresenta riscos até mesmo nestes casos, podendo causar efeitos adversos naqueles que a tomam quando a .
Um desses problemas é a retinopatia, uma lesão que atinge os vasos sanguíneos presentes na retina – parte do olho responsável pela formação de imagens. Para evitar a complicação, recomenda-se uma dosagem diária de 5mg por quilo do paciente ou menos, mas são poucos os estudos que sustentam esse número.
Cientistas da Kaiser Permanente, no Norte da Califórnia Northern, e da Universidade Harvard, ambas nos EUA, resolveram testar a segurança do composto em suas diferentes dosagens. Para isso, acompanharam 3.325 pessoas, que receberam hidroxicloroquina por 5 anos ou mais entre 2004 e 2020.
O objetivo era analisar, principalmente, a dosagem do medicamento oferecido nos primeiros 5 anos de tratamento, e como ela impactava no surgimento da retinopatia. O estudo completo foi publicado na revista científica Annals of Internal Medicine.
A equipe analisou a dosagem recebida pelos voluntários e revisou exames oftalmológicos feitos anualmente. Caso fossem identificados casos de retinopatia, os cientistas classificavam o quadro como leve, moderado ou grave.
Ao final, os pesquisadores observaram que 81 dos participantes desenvolveram retinopatia por hidroxicloroquina com incidências cumulativas gerais de 2,5 e 8,6% ocorrendo após 10 e 15 anos, respectivamente. O risco era maior para aqueles que receberam uma dose mais alta do remédio durante os primeiros 5 anos de tratamento.
Dessa forma, a equipe confirmou que as doses mais altas do medicamento estão associadas a um risco progressivamente maior do problema ocular. Tal entendimento pode ajudar médicos na hora de prescrever o remédio. Além disso, uma triagem regular para pacientes que fazem uso da hidroxicloroquina pode facilitar a identificação da doença em seu estágio inicial, permitindo o início mais rápido do tratamento.