Ciência

Chuva e tragédia no Sul e seca no Sudeste: o que é bloqueio atmosférico

O bloqueio atmosférico faz com que chuvas se concentrem no Rio Grande do Sul, enquanto Centro-Oeste e Sudeste passam por onda de calor
Imagem: Wikimedia Commons/ Reprodução

Desde o final de abril, regiões do Brasil enfrentam eventos climáticos extremos e opostos entre si. Enquanto o Sul, especialmente o Rio Grande do Sul, sofre com níveis de chuva muito altos e a consequente inundação de mais de , as regiões Sudeste e Centro-Oeste passam por uma longa onda de calor que fez despencar a umidade relativa do ar. De acordo com o Climatempo, um mesmo fenômeno climático explica esses dois problemas: o bloqueio atmosférico persistente.

O que é bloqueio atmosférico persistente

Segundo especialistas, ele consiste em um sistema de alta pressão que se forma na troposfera, camada inferior da atmosfera terrestre. Isso faz com que o ar se mova de cima para baixo, impedindo o avanço da umidade. Dessa forma, não há formação de nuvens e, portanto, não há chuva.

Como o bloqueio atmosférico acontece no Sudeste e no Centro-Oeste, estados dessas regiões enfrentam uma onda de calor que se estende, ao menos, até dia 10 de maio. O fenômeno fez com que as temperaturas subissem mesmo no outono, estação de termômetros mais amenos. 

Por exemplo, a cidade de São Paulo chegou a 32°C e bateu recorde de maior temperatura já registrada em um dia de maio dos últimos 81 anos. 

Ao mesmo tempo, como o bloqueio atmosférico funciona como uma barreira para a umidade, as chuvas que atingem a região Sul ficam presas apenas por lá, sem conseguir avançar para outros estados.

Como esses bloqueios atmosféricos se formam

Em geral, o bloqueio atmosférico se forma pela circulação de ar nas latitudes médias, ou seja, as áreas da Terra que estão situadas entre os trópicos. Ela ocorre quando há uma interrupção nos Jatos de Altos Níveis, que são ventos fortes que sopram de oeste para leste.

Como esses jatos são responsáveis pelo deslocamento de frentes frias, ciclones e anticiclones, quando eles são interrompidos há uma situação de bloqueio dessas condições. Dessa forma, em vez de seguir a direção de oeste para leste, o Jato de Altos Níveis é dividido em dois ramos: para Nordeste ou Sudeste.

Isso faz com que as regiões que dependem da passagem desses ventos sofram alterações de padrões de chuva e temperatura. Por exemplo, causa secas na região bloqueada e inundações no lado polar e equatorial.

Na América do Sul, os bloqueios atmosféricos são mais comuns durante os meses de outono, inverno e primavera. Geralmente, são resultado de ondas planetárias, que são ondas gigantes nas correntes de fluidos, com proporção global.

Um novo padrão

Embora o bloqueio atmosférico persistente seja a causa para a onda de calor e as inundações que o Brasil enfrenta durante o outono, o físico Paulo Artaxo, especialista em mudanças climáticas, ressaltou o papel das mudanças climáticas na equação.

Ao Globo, ele afirmou que elas são responsáveis pela intensificação e pelo aumento da frequência de eventos climáticos extremos, como grandes secas, ondas de calor e inundações. Dessa forma, criam um novo padrão desses acontecimentos.

Como serão os próximos dias

De acordo com a Climatempo, a situação deve se prolongar até o dia 14 de maio. Nesta terça-feira (7), Centro-Oeste e no Sudeste do Brasil continuarão com dias ensolarados e calor acima do normal para a época. 

O Climatempo alerta para baixa umidade do ar, especialmente no Mato Grosso do Sul, na Grande São Paulo, quase todo o interior paulista e no norte do Paraná. Nesses locais, a umidade atinge níveis em torno de 20%.

Em geral, o dia será com muito sol também em Santa Catarina e Paraná. Já no , em Porto Alegre e nas demais áreas, o sol vai predominar e não chove.

Contudo, o cenário volta a ser instável na quarta-feira (8), quando um ciclone extratropical se desloca da Argentina pelo oceano. Apesar de não passar sobre o estado gaúcho, o fenômeno levará ventos fortes para a região Sul, que podem transportar a água para diversos locais.

O centro-sul, oeste e noroeste gaúcho podem enfrentar chuvas volumosas. Já a grande Porto Alegre, a Região Serrana e a região dos Vale podem ter algumas pancadas. A população deve ficar atenta aos alertas de prefeituras e do governo do estado para as áreas de risco.

Bárbara Giovani

Bárbara Giovani

Jornalista de ciência que também ama música e cinema. Já publicou na Agência Bori e participa do podcast Prato de Ciência.

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